#CaféLiterário: Livro conta a história da capoeira no Brasil

novembro 14, 2013


Mistura de jogo, dança e luta tipicamente brasileira, a capoeira nasceu como uma forma do negro de se defender da violência dos senhores e dos capitães do mato que usavam meios bastante cruéis de castigar os escravos.

Era no contexto da dança e da música, como uma forma do negro não esquecer a sua cultura, é que a capoeira surgiu nos terreiros próximos às senzalas e quilombos, ajudando os afrodescendentes a resgatarem a sua dignidade.

Com o objetivo de resgatar o contexto histórico e social da capoeira, as autoras Elisabeth Vidor e Letícia Vidor de Sousa Reis escreveram o livro Capoeira – Uma herança cultural afro-brasileira (112 p., R$ 32,20), lançado pela Selo Negro Edições, ligado a Editora Summus.

Na obra, as autoras retratam as origens sociais e culturais do movimento afrodescendente no Brasil, além de mostrar como a capoeira contribuiu para que os negros conquistassem e ampliassem seu espaço político na sociedade.

A capoeira, que já foi proibida no Brasil, é hoje um esporte nacional e uma das maiores expressões artísticos do nosso país, intimamente ligada à cultura africana. O livro nasce também do desejo de atender a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas nas escolas.

Reconhecida atualmente como um dos símbolos da cultura brasileira, a capoeira nem sempre teve esse status. Os adeptos foram perseguidos durante muitos anos, especialmente na passagem do Império para a República. Associada à vadiagem e à violência, a capoeira só deixou de ser considerada crime há pouco mais de 80 anos.

“A capoeira é ambígua, ao mesmo tempo jogo, dança e luta. Seus movimentos corporais privilegiam os pés e os quadris e, ao inverterem a hierarquia corporal dominante, colocam o mundo literal e metaforicamente de pernas para o ar”, explica Elisabeth.

Além do conhecimento científico, as pesquisadoras também tiveram experiências práticas com o mundo da capoeira. Nessa condição, elas analisam a cultura capoeira com uma visão objetiva e subjetiva, revivendo traços importantes da história do Brasil, destacando a presença dos negros e suas formas de vida com uma percepção e compreensão próprias. Ao longo da obra, elas descrevem os fatos históricos de maneira sutil, possibilitando ao leitor uma reflexão mais atenta.

Cultura afro

Dividido em três capítulos, o livro traz com detalhes a história da capoeira carioca no século XIX. As autoras fazem uma interpretação antropológica dos movimentos corporais da capoeira para a compreensão da especificidade da relação entre negros e brancos no Brasil.

Surgida provavelmente nos quilombos brasileiros, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal, a capoeira era utilizada como meio de defesa pelos escravos em suas fugas, já que eles não portavam armas. Durante cerca de meio século, a capoeira permaneceu na ilegalidade, deixando de ser considerada crime perante a lei apenas na década de 1930.

O argumento principal para a descriminalização dessa prática foi a sua transformação em esporte. “O sentido dessa manifestação afro-brasileira se altera de acordo com as mudanças do lugar social do negro no país: de empecilho ao progresso à expressão de originalidade social”, complementa Letícia.

Segundo as autoras, para entender o significado social e simbólico da capoeira é preciso perceber a linguagem do corpo como fonte principal de informação para enunciar as regras da gramática gestual da expressão artística que mistura jogo, luta e dança.

Além disso, a capoeira é também uma forma de resistência do negro, desde o tempo da escravidão até os dias atuais. Entre as várias culturas de resistência negra desenvolvida no país, a capoeira é uma das mais significativas, constituída com base na cultura de matiz africana, trazida pelo povo negro que veio ao Brasil como escravo e que, no decorrer dos últimos 100 anos, luta por mais igualdade social e respeito.




Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, circule o blog no Google Plusassine a newsletter e assista os vídeos do canal no YouTube.






Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

0 comentários