Café Literário – Livro “A Cabana” convida a um encontro com Deus
agosto 29, 2013
Bem-vindo ao Café Literário, a sua dose semanal de literatura! Nesta temporada, a seção está sob os cuidados do escritor em formação, apaixonado por literatura e autor do blog Escriba Encapuzado, Tiago K. Pereira*, novo colunista do blog @cafecnoticias. Semanalmente, você irá conferir por aqui novidades do mundo literário, entrevistas, resenhas e, até mesmo, sorteio de livros. Acompanhe:
Saudações literárias. O Café Literário
desta semana traz a resenha do polêmico
best-seller do canadense William P.
Young, A Cabana. Sua visão
heterodoxa da Santíssima Trindade cristã pode não ser unanimidade, mas é
impossível passar incólume pela leitura do livro. Para comprar o livro, clique aqui.
Uma
vida de provações
William
Paul Young é um ex-protestante que atualmente não segue nenhuma
igreja. Ainda que isso indique o que esperar deste que é seu primeiro romance, o
leitor compreenderá melhor sua mensagem ao conhecer certos detalhes da trajetória
do autor.
Filho primogênito de missionários, Young teve uma
infância traumática. Foi vítima de abusos sexuais no período em que viveu num
internato e em uma comunidade tribal na Papua, porção ocidental de Nova Guiné. Sofreu
com a indiferença e as surras do pai, pastor que pregava em inúmeras igrejas do
oeste do Canadá. Frequentou mais de uma dúzia de escolas até concluir a
licenciatura em Religião e graduar-se com mérito acadêmico.
Young constituiu família própria e para sustentá-la agarrou
cada oportunidade: foi DJ, salva-vidas, corretor de seguros, abriu negócios
próprios. Autor de canções, poesia e contos, sempre escreveu para um público
mais íntimo. A Cabana nasceu como
uma terapia para lidar com as lembranças do passado e da infidelidade confessa
– mais tarde, a própria esposa o convenceu a reescrever a história para seus
seis filhos.
A publicação nunca foi a intenção de Young, que só se
arriscou por incentivo de dois amigos. Foi rejeitado 26 vezes – houve editores
que consideraram o texto muito provocativo, outros diziam que havia Jesus
demais na história. Finalmente, a obra foi lançada em 2007 pela editora Windblown Media, fundada pelos mesmos
amigos que o apoiaram.
Com meros duzentos dólares investidos em publicidade, A Cabana se revelou um verdadeiro
milagre editorial ao alcançar, graças ao boca a boca, o topo da lista de best-sellers de ficção do The New York Times. Claramente, um
autor que acredita em Deus, mas não na igreja como instituição religiosa, Young
tem hoje 58 anos e reside em Oregon com a esposa.
Resenha:
A Cabana
Mackenzie Philip é um pai de família atormentado. Há
quatro anos, Missy – filha caçula dele, foi raptada e brutalmente assassinada
em uma cabana abandonada. Consumido pela culpa e pela saudade, Mack sobrevive,
imerso numa tristeza profunda que afeta todos ao seu redor.
Mas seu destino está prestes a mudar quando um
misterioso bilhete, aparentemente escrito por Deus, o convida a passar um fim
de semana no cenário de seu mais terrível pesadelo.
A Cabana é uma ficção. Embora apresente uma abordagem pessoal, a
obra não é baseada nem inspirada em fatos reais – à época do lançamento houve
quem viajasse a Oregon, cenário da trama, a procura do lugar. Como
declarado pelo próprio autor, o livro diz muito sobre sua pessoa, suas crenças
e experiências, mas isso é feito através de metáforas. A narrativa deve ser apreciada
com essa consciência.
O objetivo de Young não é explicitar teorias teológicas,
abordar a origem de Deus, explicar o sentido da vida, pormenorizar temas
existencialistas. Na verdade, isso seria impensável: como esperar respostas
concretas e racionais para questões cuja essência sobrepõe à lógica e estão
além da compreensão da mente humana?
A Cabana não se propõe a ser um códice de sabedoria divina. O
livro não expõe uma verdade absoluta, mas sim uma nova maneira de pensarmos em
Deus e em nosso relacionamento com Ele. É justamente essa a fonte de toda a
polêmica, afinal, a percepção de cada leitor, moldada por suas crenças
religiosas ou pela ausência delas, influenciará sua experiência de leitura.
Trata-se de um texto religioso, mas não doutrinário. A
mensagem de Young não reside em sua visão de Deus e da Santíssima Trindade, mas na fé como ferramenta para superar traumas
e na vivência de relacionamentos baseados no amor e no perdão. Para apreciar o
verdadeiro valor da obra o leitor deve se livrar de preconceitos e lê-la de mente
e coração abertos.
Como narrativa ficcional, A Cabana é apenas razoável: a introdução constrói uma atmosfera adequada
de suspense e a conclusão é satisfatória, mas o desenvolvimento deixa a desejar
– há diálogos ingênuos e cenas excessivamente melodramáticas. Contudo, em se
tratando do conteúdo (e não da forma), o miolo é onde o leitor verdadeiramente trava
contato com as crenças do autor.
Ainda cabe notar que essa visão de fé intimista e de um
Deus mais humano não é totalmente original e já foi abordada de forma
semelhante em outras mídias, como nos filmes O Corpo, com Antônio Banderas, e Dogma, com Ben Affleck e Matt Damon.
Com uma história cativante e um protagonista com o qual
o leitor identifica-se – tanto nos questionamentos e atitudes quanto nas dores
e frustrações, A Cabana é uma boa
leitura que convida a uma reflexão sobre a natureza de nosso relacionamento com
Deus e com o próximo. Para comprar o livro, clique aqui.
*Perfil: Tiago K. Pereira é escritor de coração e servidor público por necessidade. Aficionado por letras, livros e curiosidades do mundo nerd, Tiago busca realizar seu sonho de se tornar um escritor profissional. Entre rascunhos de histórias e telas de programação, ele se aproxima do mundo da literatura escrevendo no Escriba Encapuzado e para a seção Café Literário do blog Café com Notícias.
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Jornalista
2 comentários
Já li esse livro duas vezes. E o impressionante é que das duas vezes que li tive impressões diferentes, uma interpretação muito pessoal desta questão de fé, de Deus. Imagino que seja um assunto que toca cada um de jeito. Boa resenha, Tiago.
ResponderExcluirAinda não li esse livro, mas a minha mãe tem ele aqui em casa e já falou bem dele a beça. A resenha ativou a minha curiosidade. Vou dar uma chance.
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