Brasileiro detido em Londres mostra que jornalismo também está sob ameaça

agosto 21, 2013


Há uma guerra por dados acontecendo no mundo que vai desde espionagem industrial ao monitoramento da vida privada na esfera pública e privada para os mais diversos fins. E isso não é roteiro de filme: é realidade.

Essa guerra ganhou mais um episódio nesta segunda-feira (19/08), quando o brasileiro David Miranda – namorado do jornalista inglês Glenn Greenwald, correspondente do The Guardian, foi detido no aeroporto de Londres, na Inglaterra, por mais de nove horas, sob o pretexto de uma lei antiterrorismo.

“Eles me perguntaram sobre meu relacionamento com o Glenn. Perguntavam várias vezes sobre a minha relação com Glenn. Questionavam qual era a minha participação no trabalho dele. O que eu fazia. Giravam em torno do mesmo assunto. Andavam em volta de mim enquanto falavam. Foi um ataque psicológico”, disse Davi em entrevista à Folha de São Paulo.

Dentre tudo que foi noticiado em relação a este caso, concordo plenamente com uma nota emitida pela Anistia Internacional que afirma que a prisão de Davi é ”uma injustificada tática de vingança contra Glenn Greenwald, com base numa lei vaga e que pode ser abusiva por razões mesquinhas e vingativas". Abaixo, assista o vídeo da TV Estadão que repercute este episódio:



Se pararmos para pensar, desde que o Glenn Greenwald começou a divulgar os casos de ciberespionagem mundial dos Estados Unidos, através de dados repassados por Edward Snowden – o ex-agente da CIA, os governos e as grandes empresas de internet – como o Google, Apple e Facebook, por exemplo, passaram a ser vistos com outros olhos pelo mundo. Ou pelo menos por alguns usuários que se cansaram de ter a sua vida online devastada para fins políticos/empresariais.

Não há dúvidas que este caso da detenção no aeroporto é uma clara intimidação ao jornalismo investigativo, mais precisamente ao jornalista investigativo que vê pessoas ligadas à sua vida pessoal sendo colocadas sob ameaça por autoridades que ainda não se deram conta da gravidade desta guerra pelo Big Data alheio. No vídeo abaixo, Gleen fala à Folha de S. Paulo com exclusividade sobre o monitoramento norte-americano:

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Não sei se é ingenuidade minha, mas Edward Snowden não deveria ser caçado como um terrorista, mas sim protegido pelas entidades ligadas à democracia e liberdade de expressão pela coragem de denunciar algo sério que – até então, era colocado por “debaixo dos panos”. Estamos todos sendo monitorados sem o nosso consentimento. Isso é grave!

Particularmente, a monitoração não me preocupa tanto. O que me preocupa é quem está fazendo este monitoramento e para qual fim, uma vez que nem eu, nem você estamos cientes para qual finalidade todas as nossas “pegadas digitais” vão ser utilizadas.

A medida que um governo se acha no direito de violar a privacidade do mundo com arrogância e prepotência, nós enquanto cidadãos precisamos fomentar este debate sobre segurança na internet e monitoramento.

Se não houver uma regulação, um tratado ou qualquer documento específico que dê soberania digital aos países e garantia de privacidade na rede para os internautas, o mundo corre um sério risco de ter a vida invadida ou violada sob a prerrogativa de terrorismo e, porque não dizer, de uma guerra por dados.

Terrorismo para mim é ficar preso em um aeroporto sendo questionado por algo que só diz a sua esfera íntima. Terrorismo é ter que viver escondido ou em um aeroporto por ter coragem de expor ao mundo que estamos todos sofrendo espionagem pesada. Já passou da hora de revermos os nossos conceitos. De lutar por liberdade. Por privacidade. Infelizmente, não existe privacidade na internet.





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Jornalista

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1 comentários

  1. Francisco Bertoletta22 de ago. de 2013, 19:29:00

    Achei um absurdo o que aconteceu com este rapaz. É uma falta de respeito ao Brasil e não é a primeira vez que a Inglaterra faz isso. Quem não se lembra do caso Jean Charles? Já passou da hora do Brasil cobrar um posicionamento de respeito.

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