Café Literário – Entrevista com o escritor Eduardo Spohr

junho 06, 2013





Bem vindo ao Café Literário, a sua dose semanal de literatura! Nesta temporada, a seção está sob os cuidados do escritor em formação, apaixonado por literatura e autor do blog Escriba Encapuzado, Tiago K. Pereira*, novo colunista do blog @cafecnoticias. Semanalmente, você irá conferir por aqui novidades do mundo literário, entrevistas, resenhas e, até mesmo, sorteio de livros. Acompanhe:

Saudações, querido leitor. Entre as experiências que a visita ao Fórum das Letras de Ouro Preto deste ano me proporcionou, sem dúvida a mais gratificante foi a oportunidade de entrevistar o jornalista e escritor Eduardo Spohr, autor do best-seller A Batalha do Apocalipse. Foi preciso esperar alguns minutos numa longa fila de fãs em busca de autógrafos e fotografias.

Eduardo Spohr é um escritor humilde. Após ficar desempregado como jornalista, o carioca decidiu se dedicar na profissão de escritor. Spohr aprecia o contato com seus leitores, mantém-se acessível às suas sugestões e críticas (construtivas) e, às vezes, até recorre a eles enquanto escreve seus livros.

Spohr já trabalhou como jornalista nos portais iBest e Click 21, mas hoje em dia atua como professor, blogueiro e podcaster ocasional. Para ele, o escritor é a sua vertente profissional que mais trabalha e sua maior qualidade é ter disciplina e foco para produzir. Confira a seguir a entrevista exclusiva que o escritor concedeu ao blog Café com Notícias:
O jornalista e escritor carioca Eduardo Spohr conseguiu reconhecimento no mercado 
literário graças à internet. Foto: Divulgação.


1. Para começar, fale sobre a saga da publicação de A Batalha do Apocalipse, o seu primeiro livro.

Quando perdi o empregado em 2002, decidi inventar uma profissão para mim, que foi a de escritor. Eu não ganhava dinheiro na época, mas encarava isso como uma profissão mesmo, trabalhando oito horas por dia, como faço até hoje. Conclui meu livro em 2005 e, em 2006, encomendei 30 exemplares em uma pequena gráfica do Rio. Deixei três por lá mesmo para participar de um concurso que premiaria o vencedor com 100 cópias.

Tentei publicar por editora até 2007, mas não rolou. Daí aconteceu de eu ganhar o concurso e, junto com a galera do site Jovem Nerd, colocamos os livros à venda na NerdStore, uma lojinha virtual que eles estavam abrindo. Fizemos um podcast sobre anjos e religião e todos os 100 exemplares foram vendidos em 5 horas. Um tempo depois, a pedidos, fizemos uma tiragem de mais 500, que se esgotou em um mês.

Voltei a trabalhar como jornalista, as editoras continuavam não querendo saber do livro, então resolvemos publicar mais uma tiragem, com nova capa, em 2009, e vendemos mais de 4 mil livros através do selo NerdBooks, do próprio Jovem Nerd. Já havia Twitter, blogs literários e tudo isso, o que ajudou na divulgação. Daí, em 2010, a Verus, selo do Grupo Record, me procurou interessada em publicar A Batalha do Apocalipse.

2. E o livro se tornou um best-seller. Sabe-se que sua primeira experiência literária se deu aos seis anos, quando escreveu uma história inspirada no filme E.T. – O Extraterreste. Depois disso, você foi sendo cada vez mais atraído à leitura pelo RPG (Role Playing Game ou Jogo de Interpretação de Personagens) e produziu alguns contos, mas ficou conhecido mesmo graças aos romances. Como ocorreu a transição das narrativas curtas para as longas? 

Por conta do RPG eu sempre pensei em histórias longas, então para mim era até mais fácil escrever um romance do que um conto. Gosto de não ter pressa para escrever e de histórias que se permutam. Na verdade, se prestar atenção, você perceberá que meu primeiro livro, A Batalha do Apocalipse, parece uma junção de vários contos. Há a história principal, mas também outras aventuras narradas como contos, na forma de flashbacks; eu fui encaixando todas essas histórias.

“Não é que as pessoas não tenham interesse de ler. Elas adoram ler; o que falta é o acesso aos livros, às resenhas, a tudo isso”. (Eduardo Spohr)


3. Você chegou a participar de concursos literários antes de emplacar seu primeiro livro?

Tenho um conto chamado O Último Anjo que me inspirou a escrever A Batalha do Apocalipse. Com ele fiquei em segundo lugar num concurso de faculdade, algo pequenininho, que rendeu uma antologia com, sei lá, uns dez contos de vários autores. Mas foi a primeira vez que vi uma obra minha impressa. E teve o concurso da Fábrica de Livros do Senai, que me premiou com os 100 exemplares do livro; neste fiquei em primeiro lugar.

4. Em sua opinião, qual é o valor de um concurso para alguém que está iniciando uma carreira literária? Como lidar com uma possível “rejeição”?

Eu acho ótimo participar. Quando há alguma rejeição, quando se recebe um “não”, é preciso lidar com isso de forma positiva; não é a hora de se retrair, mas de continuar tentando, buscar fazer melhor. Isso é pra tudo na vida.


“É importantíssimo o autor estar focado em seu trabalho. Disciplina e foco são muito importantes pra qualquer artista”. (Eduardo Spohr)


5. Quando relançou A Batalha do Apocalipse pela Verus, você publicou em seu blog um texto comparando as edições e agradecendo aos leitores, cujas críticas permitiram identificar erros ortográficos e trechos repetitivos que foram eliminados. Você não mudou a história, mas, com essa revisão, tornou o texto acessível para um público bem maior. Que lição você tirou disso?

Você deve saber o que quer e, ao mesmo tempo, deve botar seu ego lá pra baixo. Vejo muito escritor de primeira viagem dizer que ninguém pode tocar ou falar mal do livro que escreveu; que aquilo ali é a arte dele. Ok, o cara vai ficar com a arte e só ele e a mãe é que vão ler, mas é uma opção.

Por exemplo, acho que preciso melhorar muito nos diálogos, então, numa viagem à Inglaterra, aproveitei para comprar vários livros sobre isso; eles têm muito livros sobre escrita por lá. Não é porque você publicou e vende bem que é o maioral.

É preciso escutar críticas construtivas e tentar melhorar, não deixar o ego impedir sua evolução. Eu não mudaria meu estilo de escrita com base em críticas, mas buscaria melhorar, estudar; todo mundo pode melhorar. Esta foi a principal lição que tirei, uma lição pra vida.


“Nas redes sociais, você tem que estar preparado para dar a cara a tapa, saber que muita gente vai te criticar e saber lidar com isso". (Eduardo Spohr)


6. Você ministra o curso Estrutura Literária nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA) já há algum tempo. Fale mais sobre ele.

Sou fã do Joseph Campbell, professor de mitologia e autor de O Herói de Mil Faces; sempre fui fascinado pela Jornada do Herói abordada por ele. Sempre tive vontade de passar adiante essa informação e muitas pessoas se interessam por ela, mais do que a gente pensa. É algo muito interessante para todo mundo, pois trata de etapas metafóricas da nossa vida. Utilizar isso em uma história é algo muito forte.

Eu fui lá e propus o curso. A primeira turma teve apenas 13 pessoas. Hoje tenho que fechar em 30. É até interessante dizer isso porque eu poderia ter pensado “13 pessoas é pouco”, mas não; a gente sempre começa de baixo, entende? Então fui com calma, fiz um trabalho certinho e essas pessoas falaram para outras e agora a procura é grande. Já foram cinco turmas, talvez, não lembro bem. A última foi ano passado.

O curso dura dois meses, então é mais ou menos tranquilo conciliar com a produção dos livros, mas nem sempre dá. Esse ano, por exemplo, talvez eu não ministre o curso porque estou viajando direto. Não sou professor de faculdade, que trabalha todos os dias ou segunda, quarta e sexta. Quando posso, eu abro as inscrições.



“A gente sempre tem um leitor pra conquistar”. (Eduardo Spohr)



7. Você mencionou anteriormente que escreveu seu primeiro livro em forma de roteiro. Isso ainda faz parte de seu método de trabalho?

Hoje não escrevo em forma de roteiro de cinema, mas produzo um roteiro da seguinte forma: coloco tudo o que vai acontecer no livro, do primeiro ao último capítulo; faço isso para ter um direcionamento do que vou escrever antes de começar a escrever. É um roteiro do que vai acontecer.


8. Vamos falar sobre autopublicação. Para quem está começando, você diria que isso é uma alternativa?

É uma opção, com certeza, mas é preciso tomar cuidado. Tudo tem um lado bom e outro ruim. Há editoras sobdemanda sérias e outras nem tanto. Por exemplo, há quem peça 14 mil reais para publicar um livro, oferecendo até mesmo pagamento parcelado, dizendo que fornecerá o livro, cuidará da distribuição, e não o fazem.

Com certeza, o autor tem que correr atrás, mas com calma; deve ficar ligado em resenhas, no que as outras pessoas dizem, nos blogs literários, participar de eventos - qualquer cidade tem eventos literários. É preciso estar preparado para lidar com tudo.


“Você não pode subestimar seu leitor; ao mesmo tempo, não pode fazer um livro dificílimo de entender; é um equilíbrio complicado”. (Eduardo Spohr)



9. Costuma-se dizer que a principal preocupação de um escritor deve ser escrever, escrever e escrever. Em outro debate ocorrido aqui mesmo no Fórum das Letras, o espanhol Garcia Martinez, do El Pais, disse que, mais do que isso, para um escritor é importante viver.

Concordo com ele. Isso me faz lembrar Stephen King, que também diz muito isso, que defende o valor do material humano. Isso é nítido na obra dele, que é muito descritiva: ao escrever sobre um restaurante, ele passa ao leitor a impressão de que esteve realmente naquele lugar e memorizou aquilo tudo. O material humano, a natureza, com certeza tudo isso é importante.

10. Nada de escritor ermitão enfurnado dentro de casa, então?

Isso aí. Eu concordo, agora, não posso decretar nada. Cada um tem seu método, né?



“Um leitor dizer que odeia ou ama um personagem é melhor coisa que há, pois é sinal de que você conseguiu despertar uma emoção e escrever romance é isso”. (Eduardo Spohr)


Tiago entrevista Eduardo Spohr para o Café Literário. Foto: Arquivo Pessoal.


11. A Batalha do Apocalipse já foi publicado na Alemanha, Holanda, Portugal e Turquia. Você aproveitou essa viagem à Europa para fechar novos contratos? Quais são os planos para o futuro de Eduardo Spohr?

Não, mas quero fazer isso este ano ou no próximo. O livro está lançado, agora é preciso que eu esteja presente na divulgação, em debates. Tudo isso faz muita diferença: o autor mostrar a cara, buscar proximidade com os leitores. No momento estou escrevendo o roteiro do terceiro livro. A pergunta é boa; ainda estou numa fase de ver o que priorizar, mas não sei ainda como é que vai ser.

12. Para encerrar nosso bate-papo, qual é o seu conselho para quem está em busca de uma oportunidade para mostrar seu trabalho e entrar no mercado literário?

No Filosofia Nerd, que é meu blog pessoal, há um post onde falo tudo a esse respeito. Convido todos os interessados a lerem, pois reúno dicas, não apenas minhas, mas de vários autores. Tá lá em destaque logo na página inicial: “quer ser escritor?”.

É difícil aconselhar numa frase só, mas se fosse para resumir seria mesmo “escrever”. As pessoas dizem ter ideias para livros, mas não param pra sentar e escrever. É preciso escrever, nem que seja uma hora, duas horas por dia. Esta é a principal dica. Todas as outras derivam daí.
 


“Um escritor não pode ter preconceitos. Você tem que se libertar das barreiras culturais para alcançar o que de fato é transcendente. A mensagem é muito mais importante que a forma”. (Eduardo Spohr)








*Perfil: Tiago K. Pereira é escritor de coração e servidor público por necessidade. Aficionado por letras, livros e curiosidades do mundo nerd, Tiago busca realizar seu sonho de se tornar um escritor profissional. Entre rascunhos de histórias e telas de programação, ele se aproxima do mundo da literatura escrevendo no Escriba Encapuzado e para a seção Café Literário do blog Café com Notícias.







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Jornalista

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6 comentários

  1. Francisco Bertoletta6 de jun. de 2013, 18:20:00

    Confesso que nunca li um livro do Eduardo, mas a entrevista está muito boa. Me deu vontade de saber do que se trata os livros dele.

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    1. Não li os livros da série "Filhos do Éden" ainda, mas recomendo demais "A Batalha do Apocalipse"; simplesmente imperdível. ;)

      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
      _________________________________
      http://escribaencapuzado.wordpress.com/
      https://www.facebook.com/escribaencapuzado

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  2. Sou fã do Eduardo Spohr desde os tempos do Jovem Nerd e fico muito feliz de ver que ele está crescendo e fazendo sucesso. Primeira vez no blog e gostei muito do conteúdo. Achei aqui no Google por acaso.

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    1. Giselle,

      Espero que tenha nos favoritado. ;)

      Abraço,
      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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  3. Muito boa a entrevista. Para quem quer ser escritor é um incentivo e tanto. A internet é o que há.

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    1. Já conferiu todas as dicas do Spohr lá no blog dele, Vicente? :)

      Abraço.
      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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