#Crônica: Uma nova família para novos tempos

maio 12, 2013

Foto: Site Bbel / Reprodução.



Laura acorda, todos os dias, por volta das 06h da manhã. Enquanto ela levanta, sabe que a mãe já foi trabalhar. Laura a vê pouco durante a semana. A mãe sai cedo e chega do trabalho tarde da noite. Raramente se encontram. Levemente, Laura coloca a mão sobre a bochecha e vê que a mãe deixou um beijo de batom vermelho. Ela corre para o espelho. 

O beijo é uma prova de que a mãe despediu dela e vai voltar no final do dia. O beijo alegra Laura, que tem uma foto dela e da mãe na cabeceira da cama. Laura olha a outra foto com a família toda reunida. Então, Laura se arruma para ir para a escola. O irmão mais velho, Diogo, deixa o pão, o leite e o café na mesa. Ela come rapidamente e vai para a escola acompanhada dele, esperando ansiosamente para que a mãe possa ir à escola, dessa vez, para vê-la na peça de teatro. Laura será a narradora.

* * *

O relógio de Cecília toca às 04h30. Mesmo exausta, ela não se deixa abatida. Enquanto deixa a água do café esquentando no fogão, Cecília toma um banho rápido para acordar de vez. Assim que sai do banho, acorda Diogo, o filho mais velho para discutir as coisas de casa. O filho acorda descabelado e com a cara de sono. 

Cecília repassa o dinheiro para ele pagar a conta de luz, fala da peça de teatro da irmã, do vidro da janela da cozinha que quebrou e ele precisa chamar o vidraceiro. Desde que Cecília divorciou de Roberto, o pai vem ver os filhos só nas férias. Conseguiu emprego em outro estado. Manda uma mixaria de pensão, mas liga para os filhos todos os dias. Pelo menos isso. O filho levanta. Cecília entra no quarto de Laura e dá um beijo na filha. Agradece a Deus pelos filhos que tem e parte para mais um dia de trabalho.

* * *

Do nada, a luz do quarto acendeu. Diogo ainda estava dormindo quando a mãe o acordou para conversar sobre as coisas da casa. Ele havia chegado tarde da faculdade, por volta da meia-noite. Passou o dia inteiro procurando estágio, fazendo entrevista. Estava cansado. Desde que os pais divorciaram, é Diogo quem ajuda a mãe nas coisas da casa e no cuidado com a irmã. 

O divórcio fez com que eles perdessem o auxílio da empregada doméstica. Desde então, ele teve que aprender a lavar roupa, fazer comida. Novos tempos. Mesmo após a mãe ter falado do que precisa ser feito em relação à casa, ela deixou um bilhete na geladeira. Ainda bem, porque ele não se lembra de nem da metade do que ela falou. No celular, uma mensagem da menina que ele está “ficando” querendo marcar um novo encontro. Enquanto ele prepara a mesa do café da manhã para Laura, responde o SMS. O amor estar no ar. A irmã toma café e, em seguida, eles vão para a escola.

* * *

A peça de teatro de Laura começou, mas Roberto não estava lá. Desde que mudou para o Rio Grande do Norte a trabalho, ver os filhos está cada vez mais complicado. A saudade é grande. O casamento acabou, mas ele ainda ama Cecília. Ficar perto da esposa ainda mexe com ele. Eles brigavam muito, não se entendiam mais como nos primeiros anos. O jeito de poupar a todos foi o divórcio após inúmeras seções de terapia de casal. A tecnologia tem sido uma grande aliada de Roberto. Seja pelo celular ou pela internet, ele consegue falar com os filhos todos os dias. Tem uma ótima relação com eles e planeja, na próxima férias, leva-los para Natal alguns dias.

Para não perder a peça de Laura, Diogo lhe deu uma ótima ideia. Transmitir a estreia da filha nos palcos por meio de videoconferência, através do tablet. Foi o meio encontrado para se fazer presente, mesmo a distância. A culpa por estar longe dos filhos ainda é grande, mas foi preciso. O salário do novo emprego era melhor e ele precisa recomeçar em outro lugar. Chorou de emoção ao ver a filha abrindo a peça e agradeceu a Deus pelos filhos que tem. Quem sabe um dia, ele possa se fazer mais presente.

* * *

A peça de teatro começou. A luz do holofote estava bem nos olhos de Laura. Não dava para ver, naquele momento, se o irmão e a mãe estavam na plateia. Laura pensou que seria tão bom se o pai viesse do Rio Grande do Norte, nem que fosse só por hoje. Ela tem saudade da família junta todos os dias. Na época em que os pais estavam casados, o pai levava ela o irmão de carro para a escola todos os dias. Ela nunca conseguiu entender as amigas que achavam um mico ter o pai ou mãe por perto. Quem dera se Laura pudesse ter a família junta todos os dias.

Assim que a luz do holofote abaixou, ela viu o irmão sentado de mãos dadas ao lado de uma moça que ela não conhecia na plateia. No meio da peça, a mãe chegou toda agitada e sentou nas cadeiras do fundo porque não tinha mais lugar na frente. Laura ficou feliz. Assim que a peça acabou, o pai telefonou. Disse que o irmão transmitiu a peça dela via videoconferência, pelo tablet. Mesmo de um jeito diferente, Laura sentiu que a sua família estava unida novamente. Novos tempos, novos momentos.




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Jornalista

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2 comentários

  1. Maria de Fátima da Silva Pimenta12 de mai. de 2013, 17:03:00

    Lindo essa história que você colocou aqui no blog, Wander. Uma visão geral de cada membro da família e como as relações humanas podem ser consolidar graças ao esforço de cada um.

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  2. Bacana esta história. Um final feliz possível e atual. Me identifiquei com o texto. Meus pais são separados e trabalharam muito para me dar as coisas. Sou filho único e meus pais são tudo para mim.

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