Café Literário – Sérgio Fantini fala sobre o novo livro Novella

maio 09, 2013



O Café Literário está de volta! Agora, a seção está sob os cuidados do escritor em formação, apaixonado por literatura e autor do blog Escriba Encapuzado, Tiago K. Pereira*, novo colunista do blog @cafecnoticias. Semanalmente, você poderá conferir por aqui novidades do mundo literário, entrevistas, resenhas e, até mesmo, sorteio de livros. Acompanhe:


Saudações literárias, querido leitor. Em minha estreia na seção Café Literário, do blog Café com Notícias, trago uma entrevista com o escritor belo-horizontino, Sérgio Fantini. Único filho de uma família de oito a se interessar por produzir literatura, Fantini dedicou mais de 30 anos à escrita de poesias e contos.
Foto: Glenio Campregher / Divulgação.

Os trabalhos dele figuram em antologias como Geração 90, manuscritos de computador (Boitempo), Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século (Ateliê), Capitu mandou flores — contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte (Geração), e Como se não houvesse amanhã — 20 contos baseados em canções da Legião Urbana (Record), entre outras. Clique aqui e confira alguns dos contos. Publicou oito livros, sendo os mais recentes Silas (Jovens Escribas) e o seu primeiro infantil A Baleia Conceição (Formato/Saraiva). Em 2008, um de seus poemas foi transformado no curta-metragem de animação “Terra”, do diretor Sávio Leite. Assista:

 

Sérgio Fantini é também servidor do Departamento de Coordenação de Bibliotecas e Promoção da Leitura da Prefeitura de Belo Horizonte há 28 anos e, como escritor, oferece oficinas de escrita e leitura, bem como serviços de revisão e leitura crítica. Completando 52 anos na próxima segunda-feira (13/05), vive imerso em literatura e diz que sua televisão não capta o sinal de nenhuma emissora: “A televisão chapa e consome um tempo danado. Uso para assistir seriados e filmes em DVD e só para passar o tempo”.

O autor acaba de publicar seu nono livro, o segundo pela editora Jovens Escribas de Natal/RN, sob o título de Novella. Um dos eventos de lançamento será neste sábado (11/05), às 11 horas, na Livraria Mineiriana, na Savassi, em Belo Horizonte. O outro está agendado para o dia 19, terça-feira, às 19 horas no restaurante Casa dos Contos. Ambos contarão com a presença da também escritora, professora e amiga, Ana Elisa Ribeiro, que lança o livro Meus segredos com Capitu, pela mesma editora. 

Na última segunda-feira (06/05), após o último encontro semestral de sua oficina de contos, Sérgio concordou, gentilmente, em me ceder uma entrevista. Confira o bate-papo, abaixo:


1. Vamos desde o princípio, Sérgio. Como começou sua relação com as letras?

Comecei a escrever poesia com 11 anos. Havia livros em casa, então desde sempre eu tive acesso a eles. Na época éramos oito irmãos, todos estudávamos e havia um cômodo que era chamado “biblioteca”. Lembro que eu manuseava e folheava livros antes mesmo de saber ler, então escrever foi meio natural, pelo menos pra mim, já que meus irmãos não escrevem.

2. Você tem alguma formação literária, de teoria da escrita?

Não, nada de teoria. Minha formação é toda prática, de escrever e ler muito. Em alguns momentos da vida recebi dicas de livros, mas destes poucos eram sobre escrita.

3. Quais títulos te vêm à mente, no caso?

Lembro que o primeiro que alguém me recomendou com certa ênfase, há muitos anos, foi o “ABC da Literatura” do Ezra Pound; e tem os textos sobre escrita do Vladimir Maiakovski. Também prefácio de livros de bons autores que comentam sobre seus processos que são mais uteis para mim do que um grande volume de teoria literária escrito por alguém que nunca escreveu uma única linha de ficção. É comum eu ler e apreender alguma teoria em entrevistas, prefácios, e depoimentos de autores; isso é mais interessante pra mim do que a dissecação teórica.

4. Há dois volumes da série de livros “Mistérios da Criação Literária” que ilustram bem isso que você falou. Intitulados “Por que escrevo?” e “Como escrevo?”, ambos reúnem trechos de entrevistas de autores nacionais e internacionais tratando de tais questões. Vejo nesses livros, e nos seus exemplos, de que é possível aprender a escrever, e bem, note-se, sem ter de recorrer à leitura de livros teóricos ou cursos específicos, como o de Letras.

Não tenho o hábito de ler teoria, apesar de ter feito metade do curso de Letras. Leio, praticamente, literatura, embora nos últimos tempos tenha lido um pouco sobre leitura por estar envolvido com o tema no trabalho e em algumas oficinas que tenho promovido. Não tenho necessidade, ansiedade, nem desejo de ler teoria, de me formar teoricamente. Prefiro correr o risco de ser um precário teórico para não contaminar minha prática, para que esta seja mais visceral. A minha escrita é muito dentro do real. A teoria não faz parte de mim, que sou pragmático, empírico, tanto na literatura quanto fora dela. Acho que eu já teorizo muito sobre a vida.

5. Então, fala um pouco sobre o seu processo criativo. Como e onde escreve? Você tem algum hábito ou ritual para produzir?

Produzo muito devagar, pouco, não escrevo todo dia. Não tenho uma regularidade. Na verdade, estou sempre escrevendo no sentido de anotar, pensar, conversar; e também nas minhas oficinas, no trabalho. Eu estou o tempo todo imerso em literatura. Escrevo em casa, basicamente. Ritual, não tenho nenhum. Trabalho melhor de manhã, nas primeiras horas do dia, o que pode ser às quatro, cinco ou seis horas da manhã – assim, programo-me para dormir cedo. À tarde ou à noite a cabeça já está cansada ou dispersa, então eu não consigo. Tenho de escrever antes de sair para o mundo, antes que a cabeça fique contaminada. Mas não costumo ficar muito tempo também não, nunca escrevo por quatro ou cinco horas direto.

6. Você começou escrevendo poesia. Como se deu essa mudança para a prosa?

A partir de dado momento, quis muito escrever prosa. Fiquei anos tentando, mas só consegui em 1985, quando um dia fui trabalhar e fiz três contos no tapa, a lápis mesmo. Eram historinhas meia boca, mas que foram menção honrosa na revista literária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Não me lembro do título delas agora, isso faz tempo. Quando escrevia poesia, eu me inspirava numa lua cheia, num livro caído e produzia um texto sobre aquilo. Hoje, incorporo esses elementos em meus contos. A mudança pra mim se deu assim. Mas acho que tem mais poesia em mim do que prosa. Minha prosa, inclusive, é bem carregada de elementos da poesia, ritmo, quebra, forma do texto na página; gosto muito de lidar com essa construção do texto, que é algo da poesia, e não apenas contar uma história.

7. Vamos falar sobre seu novo livro, “Novella”. Como se deu o nascimento dele?

Eu tinha já uns contos e o Carlos Fialho, meu editor da Jovens Escribas – e que também editou o “Silas”, meu livro anterior, me propôs reunir todos num novo trabalho. Pra mim foi bom, pois de outro modo os contos estariam guardados até hoje. E se ninguém quisesse também, eu continuaria escrevendo, sem pressa nenhuma. Não tenho nenhuma ansiedade em produzir um livro. Então, a pedido do Fialho, dei uma arrematada nesse material mais antigo, pedi a crítica de um amigo, fui montando. O livro hoje tem um conceito, não é somente uma coletânea de contos diversos, há uma amarração entre as histórias, certa sequencia lógica. Ou pelo menos assim me parece, como comento no prefácio, mas, certamente, cada leitor fará sua própria interpretação da obra.

8. O lançamento de “Novella” será feito em conjunto com a autora e professora Ana Elisa Ribeiro, que na oportunidade também lançará seu livro "Meus segredos com Capitu". Como é esse relacionamento com Ana e outros escritores?

A Ana é uma amiga. Ela está lançando pela Jovens Escribas, seu segundo livro, como eu. O lançamento conjunto, inclusive, foi ideia da editora. Nós dois gostamos tanto da ideia que resolvemos até montar um espetáculo juntos chamado “Foi bom pra você? Aonde ler te leva”, que já está marcado para 27 de julho no Sarau do Memorial da Vale. Estamos bolando também uma oficina de conto e crônica – esta uma especialidade dela, e outras coisas para o ano, tudo uma festa só para celebrar a publicação de nossos livros.

9. Como é ser escritor no Brasil? Quais são as dificuldades, as motivações, as compensações?

É uma luta. Escrever e trabalhar. A principal dificuldade é a questão da distribuição. A edição é relativamente mais fácil, com tecnologias, impressões sob demanda, só é preciso ter alguma condição financeira. Agora, nada disso vai fazer as pessoas lerem um livro, ele vai ficar ali parado. O problema maior, o grande nó, é fazê-lo circular. Hoje há a facilidade do meio virtual, do boca a boca nas redes socais. E se o autor tem condição de viajar, de participar de eventos, então é mais uma chance de divulgar seu nome e seu livro. Eu mesmo sempre ando com um livro meu na bolsa; às vezes numa conversa eu vendo o livro, ou troco por de outro escritor. Tudo o que você puder fazer para seu livro circular, faça.

10. Há pouco tempo saiu uma nota sobre um projeto de lei de incentivo financeiro a escritores de baixa renda. A proposta do deputado João Paulo Lima (PT-PE) objetiva criar o Programa de Apoio e Incentivo a Novos Escritores Brasileiros (PAINEB). Qual sua opinião?

Acho que tem uma contradição aí. A ideia de uma bolsa literária ou de criação, como parecer ser a dessa proposta, é que você não precise fazer mais nada e possa se dedicar em tempo integral ao seu projeto. Agora, o sujeito que ganha, sei lá, dois salários mínimos e tem seis filhos não vai poder deixar de trabalhar, mesmo recebendo essa bolsa – a não ser que ela lhe compre uma casa, pague o aluguel dos próximos três anos ou as contas. Então eu acho que tem uma contradição sociológica aí, de verificação da realidade. Parece-me uma coisa meio demagógica, condicionar a bolsa à renda da pessoa. Claro, seria o caso de analisar tudo com calma. Mas, falando por alto, parece uma condição que não vai conferir na vida real. De modo geral, programas como esse precisam ser bem fiscalizados. Há muitas leis de incentivo por aí que deveriam ajudar as artes, mas acabam ajudando mesmo apenas quem já tem dinheiro e vende.




*Perfil: Tiago k. Pereira é escritor de coração e servidor público por necessidade. Aficionado por letras, livros e curiosidades do mundo nerd, Tiago busca realizar seu sonho de se tornar um escritor profissional. Entre rascunhos de histórias e telas de programação, ele se aproxima do mundo da literatura escrevendo para a seção Café Literário do blog Café com Notícias.







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Jornalista

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8 comentários

  1. Francisco Bertoletta10 de mai. de 2013, 12:35:00

    Wander, muito interessante essa ideia de retormar esta seção do blog. Fazia tempo que ela não aparecia. O Tiago estreou em grande estilo e manteve o nível de textos do blog. Muito boa a entrevista, parabéns.

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  2. Francisco,

    Fico feliz que tenha gostado. :)
    Não medirei esforços para manter a qualidade nos próximos textos.

    Abraço,
    Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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  3. Maria de Fátima da Silva Pimenta10 de mai. de 2013, 19:04:00

    Confesso que não conhecia este escrito. Mas fico contente de ver que existe um espaço como este na internet que é aberto a apresentar escritores. A entrevista ficou muito boa. Parabéns!

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    1. Maria,

      Esta é mesmo uma das propostas da coluna: divulgar escritores e seus trabalhos. Obrigado pelo elogio e continue acompanhando o Café Literário.

      Abraço,
      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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  4. Meu sonho é ser escritor e viver apenas da vendagem de livros e dando oficinas literárias. É bom ver exemplos de que isso é possível, sem ser o famosão do mercado literário.

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    1. Rodrigo,

      A jornada para tornar-se escritor é longa, mas muito edificante.
      É preciso paciência e muita dedicação, eu bem sei.

      Convido-o a visitar meu blog (link na minha assinatura) e conferir a série "7 coisas que aprendi", que reúne os depoimentos de 36 escritores em diversos estágios da carreira.

      É um projeto realmente inspirador para aprendizes como nós. :)

      Abraço,
      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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  5. Poucas vezes vi um autor ser tão franco numa entrevista sobre o seu processo criativo, de como produz. Fiquei com vontade de ler o livro. Vou comprar.

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    1. Ana,

      Comprei o livro durante a entrevista e estou gostando muito. A escrita do Sérgio é cativante, algo inexplicável. Quando você começa a ler é difícil parar. :)

      Abraço,
      Tiago K. Pereira – Escriba Encapuzado
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