#Crônica: O engarrafamento nosso de cada dia

abril 30, 2013




Já virou rotina. Todos os dias tem engarrafamento em Belo Horizonte. Todos os horários, todos os pontos da cidade. Quem usa transporte coletivo não tem opção. O metrô está lotado. O ônibus está lotado. As ruas estão lotadas de carros e motos. Tudo está cheio. Tem fila para todos os lados. Todo mundo vai para o mesmo lugar como se fosse um grande formigueiro. Pegar engarrafamentos todos os dias é algo estressante. O que fazer? A quem podemos recorrer?

Há tempos, tenho observado que não sou o único “reclamão”. As pessoas estão cansadas com a omissão da administração municipal em torno deste nosso problema: mobilidade urbana. Houve uma época – algo não tão distante assim, que Belo Horizonte tinha engarrafamentos pontuais. Depois, o engarrafamento se fixou no início da manhã e no final da tarde. Hoje em dia, temos engarrafamentos em todos os horários, todos os dias.

A desculpa são as obras. Mas, como explicar engarrafamentos em vias públicas que não estão passando por isso? Por que é tão difícil o Poder Público investir no metrô, em ciclovias e no aluguel de bicicletas? Por que tem dias que não têm táxi na cidade? Por que o transporte público é tão ruim?

Sinceramente, cansei disso tudo. Quero respostas. Quero soluções. Mas, enquanto estas respostas não chegam e a solução não se faz realidade, tento encontrar maneiras de gastar de forma produtiva as duas horas e meia que fico diariamente aprisionado dentro do ônibus, muitas vezes parado no mesmo lugar ou andando a passos de tartaruga.

De manhã, tiro uma parte para ler alguns capítulos do livro e ouvir as notícias pelo rádio. Também entro no Twitter para saber, por meio da hashtag #transitoBH, o que está pegando nas vias públicas da capital mineira. À tarde, no engarrafamento, estudo inglês, esboço algumas ideias de artigos ou de sugestão de pauta para o blog ou para o meu trabalho. Dependendo do trajeto dá até para tirar uma soneca. Não, eu não moro tão longe assim do centro, sem engarrafamento seria algo de no máximo 40 minutos. Mas com engarrafamento esse tempo triplica.

Viver no engarrafamento é um exercício de paciência. Tem gente de tudo quanto é tipo e de todos os gostos. Gente falando alto no celular, gente escutando música sem fone de ouvido, gente conversando sem parar e compartilhando a conversa com todo mundo, sem pudor algum. Muita gente parada no mesmo espaço. O ônibus lotado é uma experiência sociológica de outro mundo.

Quando não consigo ir sentado, não dá para fazer nada. É como se estivesse em uma prova de resistência do Big Brother, mas o final não há vencedores. Só gente muito cansada, respirando mais aliviada porque, finalmente, depois de algumas horas, chegou em casa. No outro dia, começa tudo outra vez. Já virou rotina.




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Jornalista

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6 comentários

  1. Grande, Wander! Ótimo texto.

    Eu sou mais um desses "reclamões" e fico indignado como quase todos. O que me deixa indignado, também, é o excesso de propaganda das obras, o descaso em sinalizar esses locais e a falta de orientação da BH Trans. Agora, a falta de "vontade política $$" é indiscutível para a realização de grandes obras, como o metrô. O BRT é paliativo, como vários estudos já mostraram, e não resolve o problema.

    Por outro lado, acho que exigimos e esperamos demais da prefeitura, porém, fazemos pouco em contrapartida. Por exemplo, 90% dos carros (Instituto DataChute) andam nesses horários de pico somente com uma pessoa dentro! Imagine milhares de carro nas ruas, somente com o motorista dentro e o espaço ocupado pelo restante do veículo. Ações simples, que partiriam da população, amenizariam... uma simples conversa com vizinhos ou colegas de trabalhos reduziriam, em muito, o número de carros nas ruas se somente fosse mais usado a carona. Óbvio que não acredito que isso é a solução, mas seria uma forma de agirmos enquanto reclamamos.

    Ônibus, como relatou no texto, é sacrificante para quase todos. Por outro lado, muitos fazem trajetos menores em linhas circulares que não ficam tão cheias assim... vemos na mídia somente o exemplo dos que ficam lotados, mas há muitos que são bem toleráveis, mesmo nos horários tradicionais de pico. Por isso eu prefiro vir de ônibus a que de carro... não só por essa consciência de ser menos um carro, mas também porque é bem mais barato rsrs. Há três anos tenho carro e há dois resolvi deixá-lo na garagem para ir ao trabalho. Tudo bem, tenho a "sorte" de pegar o ônibus num local em que ele não está muito cheio.

    Será que faço algum sentido?

    Ah, e ouvi a leitura do seu twit hoje na BandNews!

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  2. Wander, a situação em Salvador é bem parecida, talvez agravada pelo fato de não haver metrô - na verdade um "Ferrorama" cuja malha terá apenas 6km de extensão e há mais de 10 anos continua enrolado com obras e irregularidades.

    O que temos em BH, Salvador, Rio, SP e outras capitais e cidades de médio porte do Brasil é um crescimento descontrolado e onde não existem políticas para mobilidade urbana; além disso, o incentivo à compra de automóveis é muito grande, com todas as facilidades e a disseminação da cultura da "liberdade" e "autonomia" de se possuir um veículo. Mesmo que tenhamos ciclovias e maior malha de transportes coletivos, seria preciso também dar um freio nessa cultura em relação ao automóvel nas grandes cidades.

    Valeu! Um abraço.

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  3. Excelente crônica. Realmente já virou rotina e infelizmente não temos para onde correr.

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  4. Foi tema hoje do Encontro... citaram até um metrô que começaram na Bahia e está há...13 anos com obras paradas... Ivete Sangalo falou um monte rs

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  5. Niterói é o caos eterno. Resolvi até mudar de casa e morar perto do trabalho pra ter qualidade de vida. Hoje, não sofro mais. rs

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  6. Hoje, pela manhã...da Floresta a Lourdes...1h10, no trânsito, aff!

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