Café in Série – The Newsroom discute os bastidores do telejornalismo

agosto 15, 2012



Tudo que passa nos noticiários da TV é verdade? Qual é o limite entre a notícia e o entretenimento? Até que ponto a audiência, a política e o anunciante podem interferir numa cobertura jornalística? Esses são alguns dos debates visto na aclamada série #TheNewsroom, da HBO. Para assistir os últimos episódios, clique aqui. Escrita por Aaron Sorkin – premiado roteirista de A Rede Social e O Homem que Mudou o Jogo, a série conta os bastidores de um telejornal fictício de uma rede de notícias da TV Paga a partir de notícias que aconteceram de verdade. Assista o trailer (legenda em espanhol):

O fio condutor da série começa quando o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels) participa de um debate com estudantes universitários e é provocado a dar a sua opinião sobre a política americana e o ofício jornalístico. Cansado de ser apelidado de "Jay Leno do jornalismo" – por sua capacidade de não desagradar ninguém, ele toma para si a missão de fazer um telejornalismo mais informativo e crítico, no melhor estilo Dom Quixote de ver o mundo. Por conta da polêmica palestra que se torna viral na internet, a direção do canal resolve dar um tempo de férias para McAvoy e quando ele retoma é desafiado a fazer parte do projeto de um novo noticiário apelidado de News Night 2.0.

Entre as notícias relatadas no telejornal da série estão o vazamento de óleo no Golfo do México, em abril de 2010; a ameaça de explosão de um carro-bomba na Times Square, em Nova York, no mês seguinte; o atentado em Tucson que vitimou a deputada federal Gabrielle Giffords; o anúncio da morte do terrorista Bin Laden, feito de forma inesperada pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama, entre outros.

Mais do que relembrar importantes acontecimentos jornalísticos que marcaram os Estados Unidos, a série mostra os bastidores de uma redação, as reuniões de pauta e, principalmente, o relacionamento entre os personagens que, assim como a maioria dos jornalistas, vivem 24 horas para o trabalho. Para os jornalistas que já trabalharam, trabalham ou querem trabalhar em TV, #TheNewsroom é uma oportunidade reflexiva de ver a que ponto o nosso telejornalismo chegou, transformando a notícia em produto ou em moeda de troca por parte das empresas de comunicação.

Outro ponto interessante de #TheNewsroom é a crítica ao modelo de telejornalismo americano que é abertamente envolvido com uma posição política – Republicana ou Democrata, o que compromete o viés editorial da informação que é passada para o telespectador. Mesmo sendo um republicano convicto, o âncora Will McAvoy transforma o telejornal em que apresenta em um noticiário crítico e eleva o nível do debate sobre as principais notícias do dia, transformando-o em um dos apresentadores mais assistidos da TV Paga americana.

Por conta da sua transparência ao noticiar os fatos e elevar o nível dos telespectadores que assistem o canal, McAvoy passa a se tornar uma “pedra no sapato” na dona da emissora – vivida por Jane Fonda, pois o âncora começa a desagradar os parceiros empresariais e políticos dela. Por não poder demiti-lo no auge do sucesso, a empresária usa a sua principal revista sobre o mundo das celebridades para denigrir a imagem de McAvoy, da produtora executiva dele Mackenzie MacHale (Emily Mortimer) – que já tiveram um relacionamento amoroso no passado, para, desse modo, criar um contexto para demiti-lo.

Mais do que ir a fundo nos bastidores da notícia, a série faz com que os jornalistas comecem a questionar sobre o porque deles ainda não tomarem para si a missão de também serem os donos dos veículos ou de começarem uma cruzada pela não-vulgarização da profissão aonde os que não são da área acreditam que o jornalismo é a apenas ler ou escrever uma notícia. E não é só isso.

O jornalismo envolve apuração, senso crítico, pesquisa, análise de dados e, acima de tudo, ética pelo simples fato de que a notícia é de interesse público, e não apenas comercial. No Brasil, em um momento aonde o diploma de jornalista recebe críticas e posicionamentos diversos, a série mostra que o ofício envolve mais do que prática, exige pensamento crítico, intelecto e bagagem cultural/acadêmica. Vale a pena assistir!



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Jornalista

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3 comentários

  1. Ainda não assisti a série mas achei a proposta muito legal. Esse tipo de debate pode ser uma reflexão interessante tanto para o público, quanto para os jornalistas.

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  2. Outro dia vi você comentando dessa série no Twitter e fiquei interessado. Já assisti dois episódios por causa da sua recomendação. Agora, depois de ler o seu post, fiquei ainda com mais vontade de ver o restante dos episódios. Boa resenha!

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  3. Fiquei bem interessado pela temática da série e acho que vale a pena dar uma chance pra ela. Essa aspecto de utilizar noticias do mundo real dá um toque mais realista pra série pois nos dá a chance de observar com outros olhos a questão da transmissão da noticia já que, como foi dito, no modelo de telejornais de lá há uma clara opção por alguma opção politica. E isso torna tudo mais interessante ainda visto que a discussão em torno da existência ou não da imparcialidade é constante. Lembro na época da faculdade ter ouvido muito falar sobre isso em uma das disciplinas. E uma das reflexões foi que a imparcialidade está mais para um mito do que uma realidade muitas vezes apesar do seu conceito ser usado para fazer propaganda deste ou daquele veiculo. Enfim, pano pra manga, rs. E pelo visto, a série tem tudo pra ir longe com isso.

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