Greve da PM na Bahia mostra resistência do Governo em estabelecer o diálogo

fevereiro 04, 2012

Foto: Blog do Anderson.


Desde terça-feira (31/01), após uma assembleia realizada entre representantes sindicais, parte da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros  optaram por iniciar uma greve geral na Bahia. O motivo da greve se deve ao fato do governador Jaques Wagner (PT) estar irredutível às reinvindicações dos militares que querem reajuste salarial, cumprimento das gratificações e anistia dos militares. No dia em que a greve foi deflagrada, Wagner estava em Cuba com a presidente Dilma Roussef (PT). Clique aqui e confira o artigo do blogueiro Jaime Guimarães, do Grooeland, para se inteirar ainda mais sobre o assunto.

Com a greve, o caos se instalou e ondas de violência não param de acontecer na Bahia, o que está deixando a população temerosa e, provavelmente, afastará os turistas da pré-temporada de Carnaval. Além disso, um boato de arrastão se espalhou pela cidade, fazendo com que comerciantes fechassem as portas até que a situação seja normalizada. Em Salvador, muitos moradores estão evitando sair de casa por conta da onda de assaltos, assassinatos e arrombamentos. Clique aqui e veja mais detalhes na reportagem de Mauro Anchieta para o Jornal Nacional.

Segundo um balanço divulgado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), somente entre a meia-noite de sexta-feira (03/02) e às 6h deste sábado (04/02) 29 pessoas foram vítimas de homicídios em Salvador e região metropolitana. Desses, 28 mortes ocorreram apenas na sexta-feira, além de dez tentativas de assassinato. Para ajudar na segurança pública, o Ministério da Defesa deslocou homens das Forças Armadas para a Bahia. Além disso, Tropas do Exército foram deslocadas do Recife para Salvador.
Foto: Roberto Viana/Bocão News.

Nesta quinta-feira (02/02), o juiz Ruy Eduardo Brito, da 6ª Vara da Fazenda Pública, considerou a paralisação irregular. Ele determina a imediata retomada das atividades pelos policiais vinculados à Associação de Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra), que decretaram greve. A multa estipulada para os policiais parados que não assumirem seus postos de trabalho é de R$ 80 mil.

Na manhã de sexta-feira (03/02), os rodoviários da cidade de Feira de Santana, a 100 Km de Salvador, na Bahia, anunciaram outra greve. De acordo com o Sindicato, motoristas e cobradores só retornarão ao trabalho se o Governo da Bahia garantir a segurança do transporte público de trabalhadores e usuários. Informações extraoficiais, dão conta que a cidade viveu dias de terror com ondas de assaltos, arrastões e violência, o que teria motivado a greve dos rodoviários.

Opinião

Mais do que buscar soluções emergenciais para conter a onda de violência e terror que tomou conta das cidades baianas por conta da greve da PM, o governo estadual deveria ser um pouco mais maleável e sensível para que a situação não chegasse ao ponto que chegou.
Homens da Polícia do Exército circulam pelas ruas de Salvador.
Foto: Divulgação/Adenilson Nunes/Secom.

Não é a primeira vez que vemos a notícia de uma greve de policiais militares no Brasil em busca de melhores condições de trabalho. É hora dos nossos governantes começarem a valorizar mais os trabalhadores do serviço público – principalmente aqueles que lidam diretamente com o público e com a segurança social. O diálogo também faz parte da democracia para que, desse modo, consigamos o “império da lei”.


- Atualizado às 16h20, do dia 05/02/2012:

Sabe quando você recebe um comentário tão bom que renderia um post? Pois bem, hoje recebi um assim do Jaime Guimarães, que é um leitor antigo do blog e mora em Salvador. Ele, assim como a minha amiga Sil, estão vivendo este drama da Greve da PM de perto. O comentário de Jaime é cheio de dados e vale como complemento deste post. Por isso, resolvi reproduzi-lo aqui também. O texto segue abaixo:
Wander, como você sabe moro em Salvador e posso dizer um pouco sobre essa greve da PM.
Sim, é verdade que há maus policiais que resolveram utilizar a tática do "tocar o terror" na cidade. Mas isso não isenta a responsabilidade do governo Jaques Wagner neste processo - o governo da Bahia tratou a greve com desdém e arrogância desde o inicio.
No dia 01/02, na quarta-feira, o movimento ainda era pequeno, quase isolado, restrito a uma associação da PM. Mesmo assim "onde há fumaça, há fogo" e o governo da Bahia, na pessoa do vice-governador Otto Alencar ( já que Wagner estava em Cuba com a presidente Dilma Rousseff) afirmou que "tudo estava sob controle" de acordo com informações do comandante da PM e do secretário de segurança pública - que chegou a dizer que não negociaria com grevistas.
No dia 02/02, no final da tarde, o caos explodiu na capital baiana. Sim, tivemos muitos boatos, mas também muitos arrastões e saques em lojas confirmados. Vias importantes foram fechadas por manifestantes - daquele modo lamentável como visto em fotos divulgadas na imprensa. No período entre 1h e 6h da madrugada de quinta para sexta, foram contabilizados 17 assassinatos na cidade.
Todos foram afetados. As escolas da rede pública, onde o ano letivo ainda não começou para os alunos mas estava acontecendo a jornada pedagógica para professores, ficaram de portas fechadas. Em uma escola onde eu leciono à noite não houve jornada para zelar por nossa segurança. E, de fato, um supermercado próximo à escola foi saqueado e um músico do Olodum foi assassinado - tudo isso no bairro da periferia onde tenho uma carga horária.
O governo da Bahia só foi agir no dia 03/02, na sexta-feira, quando 10 mil policiais aderiram à greve e poderia ter sido pior, pois a Polícia Civil da Bahia realizou assembleia ( já marcada há algum tempo, não foi oportunismo) e decidiu não entrar em greve, mas já fez pauta de reivindicações para o governo - e nossa assembleia está marcada para Março. Assim chegaram homens das forças armadas e só na noite do dia 03/02 o governador Jaques Wagner resolveu aparecer para um pronunciamento sobre a situação. "Contem com o seu governador", disse. Por que tão tarde?
Hoje, dia 04/02, as coisas estão mais tranquilas, ao menos em Salvador. Mas ontem, em Feira de Santana, a cidade parou, literalmente: NADA funcionou. Ônibus, faculdades, comércio, tudo com portas fechadas.
Infelizmente o governo Jaques Wagner aqui na Bahia está sendo muito ruim. A segurança pública na Bahia é um problema crônico e não consegue proteger o cidadão - todos os dias temos notícias de "faroeste" com bandidos fechando as cidades do interior e assaltando bancos - e, claro que oportunistas e partidarismos aparecem nesta hora. Mas a verdade é que o governo foi omisso ao lidar com essa greve. Desdenhou, subestimou e a coisa chegou a este ponto.
Ah, enquanto isso, o prefeito de Salvador continua viajando. Andou por Madrid, Rio de Janeiro e de vez em quando passa pela capital baiana - que está cada dia mais abandonada, suja, decadente. É uma bela cidade, mas ultimamente...deixa muito a desejar.
Um abraço e parabéns pela postagem! Infelizmente tenho visto muitas pessoas tratando a situação com partidarismos e não aceitando críticas à atuação do governador - em um destes blogs ditos "progressistas" não tive comentário liberado. Entendo que a blogosfera e a internet estimulam a liberdade de expressão e o debate, mas o espírito crítico, infelizmente, ainda precisa ser praticado com maior intensidade.
Um abraço e obrigado por tratar do assunto com extrema lucidez! 



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Jornalista

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9 comentários

  1. Querido Wander, gostaria de agradecer imensamente a você em nome de todos os baianos por se importar com a dor e agonia que vivemos neste momento. De fato o governador Wagner tem sido irredutível no que diz respeito ao diálogo com os servidores públicos sejam eles da segurança ou educação. É muito triste ver o que está acontecendo aqui em nosso estado, posso te falar por que estou acompanhado e vivenciando essa tragédia. Aqui na minha cidade o comércio baixou as portas desde a terça-feira e ninguém ousa sair de casa a menos que seja algo muito importante. Hoje as lojas voltaram a funcionar mas com restrições.
    O governador foi eleito com uma vasta maioria de votos do servidor público que acreditou que ele seria sensível as suas reenvindicações o que não aconteceu. É uma pena que a esquerda que tanto batalhou para derrubar Antonio Carlos Magalhães hoje tenha a mesma postura que ele quiçá pior que a dele.
    Lamentamos muito tudo o que está acontecendo aqui e repudiamos a postura do nosso então governador que esperamos não se reeleja.
    Abraço meu amigo.

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  2. Oi Sil! Obrigado pelo comentário, minha amiga. Não precisa agradecer. Faço os posts do Café com carinho e na esperança de ajudar na conscientização de alguns debates. Publiquei esta pauta não só pelo lance jornalístico do fato, mas principalmente pelo humano. Estou muito preocupado com o que está acontecendo aí na Bahia. Confesso que me aprofundei no assunto ontem de manhã, até pq os jornais do sudeste não estavam dando, até então, a importância que o fato merece. É um problema grande de segurança público e de respeito às reivindicações dos servidores. Estou aqui na torcida para que tudo se resolva da melhor forma. Beijos

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  3. Francisco Bertoletta4 de fev. de 2012, 14:43:00

    É revoltante ver que o governador da Bahia deixou a situação chegar aonde chegou porque não queria dialogar com os Policiais. Isso é um absurdo! Com isso o povo é que paga o pato.

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  4. Ei Wander! Também estou chocada com a situação da Bahia. Gente, que absurdo. Será que esse governador não pode ser expulso do cargo? O mais engraçado é que ele joga a culpa da greve nos policiais. Poupe-me. Querido, parabéns pela abordagem lúcida que você fez sobre o caso. Beijos

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  5. Entendo a pressão dos PMs com a greve, mas o foda é que a população está pagando um preço alto demais por estas reivindicações. E, para piorar, o governador tem a sua parcela de culpa.

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  6. Pelo jeito que a banda está tocando na Bahia, a greve dos PMs vai melar o Carnaval. Quem é doido de viajar para lá? Desrespeito total aos moradores e turistas.

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  7. Wander, como você sabe moro em Salvador e posso dizer um pouco sobre essa greve da PM.

    Sim, é verdade que há maus policiais que resolveram utilizar a tática do "tocar o terror" na cidade. Mas isso não isenta a responsabilidade do governo Jaques Wagner neste processo - o governo da Bahia tratou a greve com desdém e arrogância desde o inicio.

    No dia 01/02, na quarta-feira, o movimento ainda era pequeno, quase isolado, restrito a uma associação da PM. Mesmo assim "onde há fumaça, há fogo" e o governo da Bahia, na pessoa do vice-governador Otto Alencar ( já que Wagner estava em Cuba com a presidente Dilma Rousseff) afirmou que "tudo estava sob controle" de acordo com informações do comandante da PM e do secretário de segurança pública - que chegou a dizer que não negociaria com grevistas.

    No dia 02/02, no final da tarde, o caos explodiu na capital baiana. Sim, tivemos muitos boatos, mas também muitos arrastões e saques em lojas confirmados. Vias importantes foram fechadas por manifestantes - daquele modo lamentável como visto em fotos divulgadas na imprensa. No período entre 1h e 6h da madrugada de quinta para sexta, foram contabilizados 17 assassinatos na cidade.

    Todos foram afetados. As escolas da rede pública, onde o ano letivo ainda não começou para os alunos mas estava acontecendo a jornada pedagógica para professores, ficaram de portas fechadas. Em uma escola onde eu leciono à noite não houve jornada para zelar por nossa segurança. E, de fato, um supermercado próximo à escola foi saqueado e um músico do Olodum foi assassinado - tudo isso no bairro da periferia onde tenho uma carga horária.

    O governo da Bahia só foi agir no dia 03/02, na sexta-feira, quando 10 mil policiais aderiram à greve e poderia ter sido pior, pois a Polícia Civil da Bahia realizou assembleia ( já marcada há algum tempo, não foi oportunismo) e decidiu não entrar em greve, mas já fez pauta de reivindicações para o governo - e nossa assembleia está marcada para Março. Assim chegaram homens das forças armadas e só na noite do dia 03/02 o governador Jaques Wagner resolveu aparecer para um pronunciamento sobre a situação. "Contem com o seu governador", disse. Por que tão tarde?

    Hoje, dia 04/02, as coisas estão mais tranquilas, ao menos em Salvador. Mas ontem, em Feira de Santana, a cidade parou, literalmente: NADA funcionou. Ônibus, faculdades, comércio, tudo com portas fechadas.

    Infelizmente o governo Jaques Wagner aqui na Bahia está sendo muito ruim. A segurança pública na Bahia é um problema crônico e não consegue proteger o cidadão - todos os dias temos notícias de "faroeste" com bandidos fechando as cidades do interior e assaltando bancos - e, claro que oportunistas e partidarismos aparecem nesta hora. Mas a verdade é que o governo foi omisso ao lidar com essa greve. Desdenhou, subestimou e a coisa chegou a este ponto.

    Ah, enquanto isso, o prefeito de Salvador continua viajando. Andou por Madrid, Rio de Janeiro e de vez em quando passa pela capital baiana - que está cada dia mais abandonada, suja, decadente. É uma bela cidade, mas ultimamente...deixa muito a desejar.

    Um abraço e parabéns pela postagem! Infelizmente tenho visto muitas pessoas tratando a situação com partidarismos e não aceitando críticas à atuação do governador - em um destes blogs ditos "progressistas" não tive comentário liberado. Entendo que a blogosfera e a internet estimulam a liberdade de expressão e o debate, mas o espírito crítico, infelizmente, ainda precisa ser praticado com maior intensidade.

    Um abraço e obrigado por tratar do assunto com extrema lucidez!

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  8. Oi Jaime! Adorei o seu comentário, de verdade. Gostei tanto que tomei a liberdade de acrescentá-lo no post porque é o relato de quem está vivendo de perto esta situação e soma muito a produção jornalística. Infelizmente, a "imprensa tradicional" (e alguns blogs/sites também) é limitada na crítica política em diversos estados brasileiros, muito por conta da ditadura da publicidade e do poder político em questão. Ainda bem que existe as redes sociais para dar voz aos anseios da sociedade. Eu que agradeço por sempre prestigiar o Café com Notícias, desde o início. Um forte abraço.

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  9. Wander, muito obrigado por publicar o meu comentário e por complementá-lo ao seu post. Felizmente as redes sociais estão aí para que possamos expressar livremente - sempre com responsabilidade, é claro. Por isso todo cuidado é pouco com SOPA, ACTA e Lei Azeredo.

    Os links abaixo corroboram com o que eu escrevi, caso alguém queira contestar. Os demais relatos partiram através da observação do que vem acontecendo na cidade e com informações de emissoras de rádio e mídias locais:

    http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=104951 ( quando o comando da PM afirmou não haver paralisação)

    http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5805992&t=Justica+decreta+ilegalidade+da+greve+da+policia ( um breve histórico de como a greve iniciou)

    http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1042740-governo-da-ba-minimiza-greve-de-pms-avenida-tem-arrastao.shtml ( a declaração do vice-governador da Bahia sobre a situação estar "sob controle")

    Grande abraço e parabéns mais uma vez!

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