Ocupação Rocinha mostra a força do Estado para banir a violência do tráfico de drogas

novembro 14, 2011

Moradores mostram cartaz com o desejo de paz após a ocupação
militar na Rocinha. Foto: Pablo Jacob / O Globo. 

Um cenário de guerra civil cujo objetivo é estabelecer a paz e a cidadania. Foi isso que aconteceu no início da manhã deste domingo (13), quando o dia ainda estava amanhecendo. Três mil homens das polícias Civil, Militar e Federal, além de oficiais das Forças Armadas e do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), fizeram a ocupação das favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

De acordo com o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, o objetivo da operação nomeada de "Choque da Paz" é a instalação da 19ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio. "No início do mês nos começamos uma grande operação nessas áreas em torno da Rocinha. E a partir dessas áreas nós vamos fechando até culminar no trabalho que foi feito ontem. (...) Acredito que esse ano não teremos mais operações para ocupação como essa. Isso está dentro de um cronograma para a implantação em todo o Rio de Janeiro de cerca de 40 UPPs", disse Beltrame ao canal Globo News.
Moradores acompanham a ocupação militar na Rocinha, no Rio, de forma páficifica. 
Foto: Gabriel de Paiva / O Globo.

Apesar do forte esquema de policiais e militares, a batalha pela paz nas comunidades do Rio de Janeiro, pelo menos dessa vez, não teve tiro, nem sangue. Ninguém ficou ferido. Houve apenas a prisão de quatros suspeitos que estavam com mandatos de prisão em aberto, além da apreensão de armas, drogas, fechamento de centrais clandestinas de TV e a recuperação de automóveis que haviam sido roubados. Veja mais detalhes na reportagem abaixo:



Além da notícia

Toda vez que assisto coberturas como essa que envolve a criminalidade e mostra de perto pessoas atingidas pela opressão de viver o contraste entre a pobreza e a falta de uma presença maior do Estado, fico me questionando como pensar uma cobertura que vá além do óbvio e, que ao mesmo, tempo informe o público.
Criança abraça policial após a a Ocupação militar na Rocinha, no Rio.
Foto: Márcia Foletto / O Globo.

O sensacionalismo barato me incomoda. Além de mostrar a falta de criatividade editorial, ainda expõe o jornalista (e equipe) a uma situação de risco gratuita e que pode custar a vida destes profissionais. Dentre as várias matérias que li sobre a Ocupação da Rocinha, a reportagem de Ruth de Aquino, da Revista Época, me tocou não só pela exclusividade do furo, mas pela sensibilidade da repórter de viver de perto a notícia e trazer um novo olhar sobre uma pauta que está sendo falada à exaustão.

"Era sexta-feira 4 de novembro. Cheguei à Rua 2 às 18 horas. Ali fica, num beco, a casa comprada recentemente por Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, por R$ 115 mil. (...)  Aos 35 anos, ele era o chefe do tráfico na favela havia seis anos. Era o dono do morro. Queria entender o homem por trás do mito do “inimigo número um” da cidade. Nem é tratado de “presidente” por quem convive com ele. Temido e cortejado. Foi uma conversa de 30 minutos, em pé. Educado, tranquilo, me chamou de senhora, não falou palavrão e não comentou acusações que pesam contra ele. (...) Não quis gravador, nem fotos. Meu silêncio foi mantido até sua prisão", escreveu a repórter. Clique aqui para ler a matéria completa.
O traficante Antonio Bomfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico da 
Rocinha, foi preso na 5ª feira (10) pela polícia. Foto: Alex Ribeiro/AE.

Ruth me ganhou com um texto sensível e muito envolvente. Foi humilde o suficiente para encontrar o “inimigo número um da cidade" nas condições que ele queria, sem gravador, sem fotos. Respeitou o direito dele de falar aquilo do jeito que ele queria falar. Ruth não teve a arrogância jornalística de querer o furo pelo furo. Guardou um tesouro e o usou no momento certo. Provavelmente, fez a alegria do editor e porque não dizer a sua própria ao pensar aquilo que ninguém ainda o fez: criar um perfil de Nem.

É por essas e outras que uma pergunta se faz necessária a todos os jornalistas, diariamente: Cadê a pauta que vai fazer a diferença? Quando você souber a resposta, pode começar a produção.



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Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

3 comentários

  1. Wander querido, me recusei a acompanhar essas notícias de violência do Rio durante o feriado. Vi uma coisa ou outra, mas não fiz questão de me aprofundar. Mas, ao ler o seu post fico mais tranquila de saber que não houve gente ferida, nem morta e que a Ocupação foi por uma causa nobre: a PAZ. Parabéns pelo post. Beijos

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  2. Muito bom post e objetivo, Wander. Gostei dessa matéria da jornalista da Revista Época. Ainda não tinha lido. Quando se é criativo consegue fazer algo que ninguém ainda não pensou...a Ruth da Época está de parabéns.

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  3. A materia da Ruth nos faz ver o outro lado da moeda que ninguem é tão ruim assim e claro sem insentar qualquer culpa do traficante Nem. ela foi inteligente, criativa e ousada sem a necessidade de sensacionalismo.Parabéns a você pelo post e a ela pela pelo matéria.

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