Ponto de Vista – O Astro termina com final óbvio e explorando o lado passional dos personagens

outubro 29, 2011





Nessa sexta-feira (28) foi ao ar o último capítulo da “novela das 11”, O Astro. A trama que foi uma aposta da Rede Globo para frear A Fazenda 4, da Rede Record, se mostrou um verdadeiro sucesso de crítica e de público. O último capítulo em que Clô Hayalla se assume assassina do marido Salamão rendeu a emissora carioca uma média de 26 pontos de audiência com 49% de participação, segundo dados parciais do Ibope na Grande São Paulo. Com menos capítulos do que as outras novelas da grade, O Astro se mostrou mais que um remake: foi uma adaptação autoral que criou personagens que já entraram na história da teledramaturgia brasileira pela segunda vez.

Como telespectador, posso dizer que parei de assistir a novela na terceira ou quarta semana porque o texto – pelo menos para mim, começou a ficar arrastado e óbvio. Voltei a assistir agora, na reta final, para poder entender os desfechos. Quem é fã de um bom dramalhão mexicano, com personagens completamente envolvidos na emoção sentiu isso em O Astro

Creio que a volta do bom dramalhão, focado no núcleo familiar e com personagens destemperados é um bom samba, sem dúvida. E a Globo de uns tempos para cá redescobriu o dramalhão clássico e está o popularizando cada vez mais as suas novelas. Claro, isso não é um demérito do texto e tem muitos telespectadores que preferem essa modalidade porque é mais confortável. Particularmente, não senti nenhuma grande virada na reta final e não fui surpreendido como a Janete Clair gostava tanto de fazer em suas tramas.

Em muitos momentos, o texto de O Astro foi ousado: investiu em cenas de sexo, na sensualidade das personagens que eram motivados pelo ápice do amor e da paixão, além de um texto que sabia brincar com o popular e com o erudito. O que dizer da química de Herculano e Amanda que proporcionaram cenas HOT e que transmitiam uma verdade que ia além da tela? 

O que falar da simplicidade do segundo casal romântico principal – Márcio Hayalla e Lili, que traziam consigo a magia do amor puro e verdadeiro? Da canalhice e covardia de Samir Hayalla; da Tia Magda que virou a grande bitch da novela; do asco que o Neco provocava no público ao entrar em cena, enfim, esses foram alguns destaques positivos do início ao fim. Aliás, difícil pensar em quem escorregou diante de um elenco principal tão afiado como esse: todos aplaudem!

O Astro sai de cena mostrando o quanto Janete Clair foi uma excelente roteirista e que gostava de quebrar a expectativa do público e dos próprios atores. Por isso, ao voltar a rever essa semana final da novela para entender um pouco mais dos desfechos que Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro estavam propondo me decepcionei pelo texto óbvio da conclusão de algumas cenas. Mesmo sem ler os spoilers, já na tarde de ontem, conseguir sacar que a Clô era assassina de Salomão pelo fato dela ser a personagem mais passional de toda a novela. Os gritos e a forma descabelada de Clô justificariam o crime pelo fato de ela e o filho terem sido vítimas de um marido tirano.

Aquela cena do delegado fazendo a acareação final com os personagens suspeitos em um único cenário me lembrou as tramas de Silvio de Abreu que também adora um clássico “quem matou”. A única boa sacada foi ver tanta gente envolvida para matar uma pessoa, sendo que não ficou claro se eles armaram isso em conjunto ou se foi cada um com seu cada qual. 

Também achei sem nexo o fato de Herculano ter levado tiros de metralhadora no país latino em que ele era o braço direito do Presidente, após um golpe político e, do nada, na cena seguinte, aparecer todo são com a Amanda e filho numa ilha deserta. Deixar algumas coisas no ar eu até respeito, mas é preciso fechar uma história com dignidade e sair do lugar comum do texto óbvio, pois era essa a grande lição do texto de Janete Clair: mostrar que a vida imita a arte, mas que pode surpreender.


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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.




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Wander Veroni
Jornalista

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4 comentários

  1. O desfecho de O Astro foi um tanto óbvio, mas a cena da acareação lembrou muito os livros de Agatha Christie, o que foi excelente! Outro ponto positivo para a trama foram as cenas ousadas, que trouxeram mais realismo. A Globo deveria fazer mais novelas desse jeito.

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  2. Acho que a Clô Hayalla foi uma das melhores personagens da Regina Duarte. Me divirtia até com as caretas e a passionalidade da personagem...acho que ela sendo a assassina do Salomão foi um presente pela excelente atuação...primeira vilã de Regina...ela merece.

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  3. Sério, eu tinha nojo do Neco, sem brincadeira. Isso prova do quanto o Humberto Martins foi um bom ator. Eu já não achei o final óbvio. Para mim, era a Tia Magda e o Samir que tinham matado o Salomão Hayalla. Vou sentir saudades de Easy e de ver aquele amor intenso do Herculano e da Amanda.

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  4. Oi Wander, não gostei dessa novela e muito menos do final...fique com a sensação de "perdi meu tempo assistindo a isso!"...abs

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