Caso Rafinha Bastos expõe limites do humor e revela a censura da publicidade na TV

outubro 04, 2011



Não gosto do CQC, da Band. Muito menos do Rafinha Bastos. Aliás, gostei do programa no início, na primeira temporada, mas depois de um tempo parei de ver. Acho o Rafinha um bom repórter em A Liga e no quadro Proteste Já, do CQC, mas isso não quer dizer que eu “caia de amores”. Respeito o bom profissional que ele é nessas frentes, apenas. Como humorista, pelo menos para mim, ele deixa muito a desejar. Mas isso é uma opinião pessoal e é lógico que existem milhares de pessoas que pensam diferente de mim. Ainda bem. O mundo é plural e tem espaço para todos.


Tenho simpatia pelo Marcelo Tas e Felipe Andreoli, mas o restante dos CQCs me passa a impressão de arrogância, de achar que esse humor “moderno” do stand up comedy vale tudo. Vale? Pode ser para você, mas para mim o humor tem que ser uma coisa natural, que provoca riso, mas também reflexão. Incitar o ódio, fortalecer o preconceito existente, não é humor, pelo menos no meu entendimento. Não sou o dono da verdade, cada um é livre para pensar como quiser.

Nessa onda do patrulhamento do politicamente correto, falar qualquer coisa que tenha um fundo mais provocativo pode ser o início de uma verdadeira Guerra Nuclear Midiática ou nas redes sociais. Por isso, vale a reflexão, em forma de questionamento, que o Emílio Surita [do Pânico na TV] sempre faz: qual é a credibilidade do palhaço? Você consegue responder isso para si, então encontrou o seu próprio limite para o humor.

E esse limite não significa que tenha que ser padrão, que todo mundo deve aceitá-lo. Claro, vivemos em sociedade e existem algumas regras de convivência e boa educação para vivermos de forma civilizada. No entanto, o repertório cultural, político e religioso de cada um sempre vai interferir nessa resposta, ou seja, nesse limite do humor que rompe a barreira do riso e se torna agressivo ou amoral.

A partir dessa premissa, não é a toa que o Caso Rafinha Bastos está na boca do povo, gerando vários comentários nas redes sociais e um trabalho intenso de matérias e artigos sobre o tema. De certo, a piada que Rafinha Bastos fez no CQC, sobre Wanessa (ex-Camargo e atual senhora Marcos Buaiz) passou do limite porque envolvia não só a cantora, mas uma criança – filho dela, que ainda nem veio ao mundo. Foi uma “tirada” infeliz do humorista: "Eu comeria ela e o bebê", afirmou Rafinha.

Mas o humorista já tinha dito coisa muito pior como “falar que toda mulher feia deveria agradecer por ser estuprada” ou ofender a apresentadora Daniela Albuquerque, da RedeTV!, que ficou em primeiro lugar do TOP 5 – um quadro de micos da TV do CQC, no qual Daniela teve dificuldade de falar a palavra octógono, durante uma entrevista com Victor Belfort. "Se fosse eu já dava uma cotovelada. É octógono, cadela! Põe esse nariz no lugar", disse. Nos bastidores, comenta-se que o próprio dono da RedeTV! – e marido de Daniela teria pedido a direção um pedido de desculpas no ar. Nada mais justo.


Veja também:
- Minha solidariedade a Rafinha Bastos!
- Tudo tem limite, até o Rafinha Bastos
- Humor, mau-gosto, Rafinha Bastos e outros quetais
- Rafinha Bastos: o aluno arrogante que foi suspenso da escola



Por isso, por mais infeliz que seja a “tirada” de Rafinha sobre Wanessa, muito me estranhou o rumo que a coisa tomou na mídia e nos bastidores da Band. Houve uma pressão enorme de Marcos Buaiz (marido da Wanessa) e do Ronaldo Fenômeno [sócio dele na Agência 9ine] para que a Band tomasse alguma providência: eles ameaçaram tirar os anúncios do CQC e boicotar o programa que é líder em faturamento na emissora do Morumbi.

Receosa, a Band cedeu à pressão, em partes, e optou por tirar Rafinha do CQC por tempo indeterminado. Repito: não gosto do Rafinha, nem o estou defendendo. Achei que a piada dele foi infeliz, mas não gostei de ver esse tipo de pressão (censura) de modo tão escancarado na mídia....seria mais ético se o marido de Wanessa pedisse direito de reposta ou retratação ao vivo, assim como aconteceu no episódio Daniela Albuquerque.

Detesto censura...ainda mais quando estamos falando de um programa que tem doses de humor e não é para ser levado tão a sério assim. Acho deprimente uma emissora de TV ceder à censura em nome da publicidade ou da pressão de um atleta/empresário influente. É nojento esse tipo de joguete que acontece não só na Band, mas em TODAS as emissoras, infelizmente.

Creio que o Rafinha foi infeliz com a piada sim – assim como os colegas dele de programa que já fizeram coisa bem pior, mas não acho que valeria um "balão" por tempo indeterminado ou a possibilidade de demiti-lo. As pessoas precisam conviver com as diferenças e propor mais o diálogo, e não a censura. Ainda bato na tecla do pedido de direito de reposta ou retratação, mas não o do boicote, da censura. Assista o vídeo do site Jacará Banguela em que humorista faz piada com a própria situação:





O Caso Rafinha Bastos abre um precedente perigoso e que algumas pessoas ainda preferem ver como “castigo”: a censura ainda existe. O buraco é mais embaixo...imagina se essa moda pega...coitado dos humoristas....rs. A ordem agora é: não mexam com o Fenômeno, nem ninguém ligado a ele, porque senão o bicho vai comer, quer dizer, pegar...kkkk. Brincadeira.

Creio que o caso mereça ser analisado de forma mais ampla, não só por comunicadores, mas pelo público, principalmente. Censura é a melhor forma de punição? Um erro pode justificar outro? Imagina que tenhamos que combater o preconceito [ou a violência verbal] com censura? Deus me livre. Preconceito se combate com educação, com debate e não com um “cala boca”. Feliz deve estar o Rafinha que está sendo assunto em tudo que é lugar...."nunca antes na história desse país" ele teve tanta visibilidade como agora...rs....mesmo que seja o preço de uma piada infeliz.





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11 comentários

  1. Não gosto, nem desgosto do Rafinha. Mas achei a piada que ele fez infeliz, Wander. Censura é uma coisa complicada, ainda mais quando ela aparece em forma de ameaça....triste de ver que as TVs se rendem a isso por debaixo dos panos. Parabéns pelo post.

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  2. Não concordo com o seu artigo. Bem feito para o Rafinha falar mais do que devia.....esse povo do CQC confunde humor com falta de respeito e merece ser tratado na mesma moeda.

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  3. Detesto CQC, Pânico e cia limitada que acha que humor é humilhar os outros. Bem feito para o Rafinha....a TV brasileira precisa de outro tipo de gente. Quanto a censura, fico desgostoso com a Band por abrir as pernas por causa de dinheiro....isso é lamentável.

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  4. Wander, primeiro vou copiar e colar aquilo que escrevi no Facebook:

    "Isso é perigoso: pode abrir precedentes a 'famosos' e políticos que sentirem-se ofendidos com esquetes de humor ( mesmo ruins) que rolam por aí. Evidente que a 'piada' do Rafinha Bastos foi péssima e o CQC precisava mesmo rever posturas - o ego daquele pessoal foi às alturas -, mas já li coisa(s) bem mais pesada(s) do Angeli ( os Skrotinhos e cia) e não houve essa gritaria toda. Eu até acho que esse pessoal - Rafinha e Danilo Gentili - tem talento pro humor e comédia, vão errar e acertar muito ainda. Mas falta a eles - e a alguns comediantes - a leveza para fazer rir..."

    Será que teremos a partir de agora tentativas de "controle" dos programas humorísticos? Se estão bons ou ruins é uma outra discussão e não quero entrar nesta seara que vem tomando um rumo ideológico um tanto perigoso sobretudo nas redes sociais pela internet, com exagero desta turminha "politicamente correta" que não sabe rir de si mesma - e desconfie daquele que não ri de si mesmo.

    No entanto uma espécie de censura ( me parece que foi uma suspensão por tempo determinado) eu não posso concordar. Evidente que há exageros de pessoas falando e escrevendo muitas bobagens preconceituosas na internet, na TV, em diversas mídias, mas utilizar a mordaça é um retrocesso.

    E infelizmente as TV´s abertas se submetem às "leis do mercado", em que nada pode comprometer os lucros dos anunciantes e patrocinadores.

    Sobre o humor, copio mais uma vez a citação de Andre Comte-Sponville que iniciei uma postagem: "podemos gracejar sobre tudo: sobre o fracasso, sobre a guerra, sobre a morte, sobre o amor (...); mas é preciso que esse riso acrescente um pouco de alegria, um pouco de doçura ou de leveza à miséria do mundo, e não mais ódio, sofrimento ou desprezo”.

    Eu prefiro ficar com este humor, leve.

    Abs

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  5. Acho que o ocorrido só é uma exposição mais "visível" do que já acontece no jornalismo há décadas. Aquele lance do comercial ser independente do jornalismo? Sabemos que não existe.

    Mas lembrando bem, esse seria um programa de humor, certo? O Rafinha Bastos está passando do limite faz tempo e se a Band precisou de uma pressão "publicitária" para tirá-lo do ar mostra o quão fraca é a sua linha editorial.

    E sinceramente, não consigo lamentar a saída do Rafinha do CQC.

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  6. Eu acho o Rafinha um ótimo humorista, porém ele tem que ter cuidado. Parece que não soube ver onde estava. Numa TV com audiência para milhões de pessoas e não um teatro onde pessoas normalmente vão para ouvir qualquer tipo de piada. Achei válida a punição a ele, mas se afastá-lo definitivamente o CQC só tem a perder. Abraços.

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  7. Humoristas de verdade,(chico anisio,ari toledo,renato aragão,tom cavalcante e muitos outros)nunca precisaram deste argumento.
    Uma coisa é ser humorista,outra coisa é ser um idiota sem capacidade profissional.
    Este sr. rafinha bosta, nunca foi humorista, ele não passa de picareta, que deveria ser cortado sua língua, talvez ele ficaria mais engraçado.

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  8. seu texto é muito bom...imparcial, coerente e bem escrito.
    Ninguém é 100% bom ou mal. Rafinha é bom em algumas coisas, mas é muito arrogante, assim como o Danilo(que eu odeio, por sinal). Não concordo com a sensura apesar de tudo.
    Parabéns!!!!

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  9. Esse Rafinha é um imbecil. Humor de qualidade anda em falta e passa longe do endereço desse cidadão. O que ele faz é apenas grosseria e apelação ao mau gosto. Não humor. Quem já viu os bons, só pode rir da pretensão desse mané.
    E segundo a imprensa ele ainda cobra cerca de 20 mil reais para fazer palestras "motivacionais" e coisas do gênero. Lamentável. Mas o pior é que, azssim como tem gente que o assiste na TV, tem gente que paga essa grana para ouvir as baboseiras egocêntricas dele. Fala sério.

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  10. nastech não tem como vc comparar os humoristas de antigamente com os atuais, eles pertencem a outro contexto histórico, pra vc entender, vc ja viu algum filme do chaplin? se sim vc riu do começo ao fim? eu duvido muito! chaplin era hilario para a epoca...atualmente o nivel de humor q ele fez não é o suficiente para aparecer no youtube pq o povo dita o que eh engraçado ou não...e olha q chaves chapolin e chico anisio se inspiraram grandemente em chaplin......na minha opinião humor é humor... o que o rafinha bastos fez foi uma piada inconvencional...é tudo uma questão de MATURIDADE de adimitir e permitir que pessoas façam piada com seu nome, se ele falasse sobre minha filha eu no máximo daria risada dependendo de como ele construiu a piada...agora me ofender com uma merda de uma piada????? pelo amor de deus essas pseudo-celebridades acreditam q são intocáveis pq aparecem na tv ou vendem cds...pra encerrar...se vc limitar os campos em q o humor atua vc tbm limita a quantidade de dor que ele apazigua no mundo, ou arrumamos o mundo pra não termos q usar o humor calibre pesado ou foda-se o mundo e soltem as bombas humoristicas.

    ps: c ta me zuando q vc acredita q o renato aragão faz humor neh? ¬¬ fala sério o sucesso dele se deve ao mussum e o zacarias q deus os tenham, o kra nunca fez nada genuinamente engraçado...não passa de um aproveitador

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  11. É imaturidade se ofender com o que indivíduos que buscam polêmica a qualquer custo dizem. Será que é tão difícil entender que estes programas "humorísticos" da TV aberta atualmente se baseiam quase que exclusivamente na polêmica gratuita? Em brigas de mentirinha? Em falsas provocações entre seus integrantes? Você quer identificar o humor? Humor é o que faz rir. Muita coisa te faz rir, mas não me faz rir. É humor pra ti e não o é pra mim. Difícil de entender? Deixa o moleque falar o que ele quiser. Quem se sentir ofendido que use dos recursos legais disponíveis pra se defender. E a censura? Censura no Brasil é regra, meu amigo. O povo é tão apático que você leva esporro se tentar se manifestar contra qualquer coisa que vai contra o senso da maioria! Entra no gueto e questiona a validade do bolsa-família, aí você vai ver o que é censura, amiguinho. O cara fala as merdas que quer, todo mundo comenta e ele só ganha dinheiro com isso. Cada dia mais rico. E você?
    Resumindo:
    1. O Rafinha não vai perder UM REAL com essa brincadeira;
    2. A emissora não vai perder UM REAL com essa brincadeira;
    3. A cantora pop de baixa qualidade envolvida não vai perder UM REAL com essa brincadeira
    4. O filho dela não vai perder UM REAL com essa brincadeira;
    5. Nenhum dos envolvidos vai perder NADA com essa polêmica besta;
    6. Por outro lado, eu e você já perdemos pelo menos uns 10 minutos discutindo essa baboseira.
    Pourtant... esquece essa besteira e, da próxima vez que ligar a TV, por favor, eu te imploro, ligue no NatGeo ou no Discovery. Você só tem a ganhar.

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