Ponto de Vista – Homofobia é mais relevante que beijo gay

agosto 06, 2011



O título é provocativo mesmo. A intenção é chamar atenção para uma pauta que tem sido bastante debatida nos últimos dias: a homofobia. Nessa semana, a novela Insensato Coração, exibida às 21h, na TV Globo, mostrou que a violência gratuita aos homossexuais é muito mais relevante – para não dizer urgente, do que a pseudo-polêmica do beijo gay em telenovelas. Não quero desmerecer o beijo, mas sim a forma que ele é colocado para gerar uma repercussão vazia e erotizada. Se o beijo gay ainda é polêmico, isso é mais do que uma prova do falso-moralismo existente.

Enfim, o fato é que de uma forma bastante madura, a novela das 9 propôs um merchandising social necessário e que serve como ponto de discussão não só nas rodas de conversa, mas numa esfera mais reflexiva e pessoal: temos que parar com essa besteira de julgar os outros excessivamente. Quando se aponta um dedo para o outro, estamos com os outros quatro apontados para si mesmo. Pense bem! 

Apesar de Insensato ter se perdido pelo excesso de participações especiais e uma barriga monstruosa na história principal, a trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares trouxe à tona vários exemplos de como a violência gratuita aos homossexuais é mais comum na nossa sociedade do que se pode imaginar.

Uma coisa é não concordar. Ser contra por questões de valores, filosofia de vida ou até mesmo crença religiosa. Enfim, isso vai da ideologia de cada um, afinal vivemos em democracia. Mas uma coisa completamente diferente é incitar o ódio, o preconceito e, principalmente, partir para a violência gratuita. 

Em um capítulo dessa semana de Insensato Coração o personagem Gilvan, vivido pelo ator Miguel Roncato, roubou a cena e chocou o país pela sensibilidade. Gilvan foi espancado até a morte por um grupo de Pitboys que declararam agressão gratuita ao rapaz, apenas pelo fato dele (supostamente) ter uma opção sexual diferente da deles.

A cena em si foi tão cruel que causa revolta, nojo e uma sensação enorme de impotência diante da impunidade. Revolta, principalmente, por sabermos que existem vários Gilvans na vida real e que essa triste realidade ainda impera no nosso país – quiçá no mundo. Só para se ter uma idéia, dados divulgados pelo do Grupo Gay da Bahia (GGB) mostram que apenas em 2010, 260 gays, travestis e lésbicas foram assassinados no Brasil. 

Isso significa que a cada um dia e meio, um homossexual é morto. Nos últimos cinco anos, houve aumento de 113% no número de assassinatos de homossexuais. Apenas nos três primeiros meses de 2011 foram 65 assassinatos registrados – fora os casos que, infelizmente, não são acionados às autoridades.

Quando a gente para pensar, os números assustam e mostram que o preconceito velado e a intolerância ainda são um mal presente na nossa sociedade. E os dados dessa pesquisa do GGB, não param por aí. Curiosamente, o Nordeste é a região brasileira mais homofóbica do país, com 43% de registros de homossexuais assassinados. No Sudeste esse número cai para 27%, no Sul para 9%, 10% no Centro-Oeste e no Norte. Ou seja, o risco de um homossexual do Nordeste ser assassinado é cerca de 80% mais elevado do que em qualquer outra região do país.

Esses números todos servem de pano de fundo para chamar a nossa atenção para o que está acontecendo não é apenas mais uma cena de novela para gerar debate. Não! Isso é real....e está mais do que na hora de revermos os nossos conceitos em relação ao próximo e de para de usar a desculpa de que “não gosto” para gerar ainda mais violência. Afinal, como diz a sabedoria popular, RESPEITO é bom e todo mundo gosta. Vamos praticar o respeito? Creio que isso já seria um caminho.




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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.






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Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

4 comentários

  1. Excelente artigo, Wander. Acho que a gente tem que prestar mais atenção na nossa vida e parar de intimidar o outro que não pensa como a gente. Viva o respeito e a diversidade! Eu chorei horrores com a morte do Gilvan na novela essa semana....mais pela história dele que é triste e que infelizmente serviu para levantar uma bandeira tão necessária quanto a homofobia.

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  2. Fico muito contente de ver que jornalistas e blogueiros estão entendendo que a bandeira da homofobia não é só uma coisa de gueto, de um grupo, mas de um câncer da nossa sociedade. Não assisto a novela, mas acompanhei a repercussão da cena e foi tocante. Tomara que o debate sirva para diminuir, nem que seja um pouco, o preconceito e a violência.

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  3. Assisto a novela Insensato Coração e tb fiquei triste com o desfecho da história do Gilvan...ele morreu de uma forma muito covarde. Espero que a morte dele sirva para mostrar que, nem que seja na ficção, o crime não compensa. Parabéns pelo artigo! Estou impressionado com os dados de crimes à homossexuais....é assustador.

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  4. Complicado uma pessoa morrer pela opção escolhida,vai demorar centenas de anos ou milhares para que a globo deixe de ser careta.
    Pelo acontecimentos ocorridos nestas semanas vemos que a globo continua ou continuará com seu padrão super careta e a record de evitar de falar de religião e crimes contra os homossexuais.

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