Princípios Editoriais das Organizações Globo expõe desespero das mídias tradicionais
agosto 08, 2011Você acredita em tudo que assiste na TV, ouve no rádio ou lê nos jornais? Então é hora de repensar a forma que consome conteúdo: o ideal é acompanhar, no mínimo, dois veículos diferentes e, desse modo, formar a sua própria opinião a respeito dos fatos e acontecimentos que envolvem o nosso cotidiano. Acredite!
Na edição de sábado (06/08), o Jornal Nacional, da Rede Globo, dedicou um pouco mais de quatro minutos, para um editorial no qual a emissora apresentou para o público os Princípios Editoriais das Organizações Globo. Ninguém entendeu nada. No Twitter foi um alvoroço. Será que isso foi um ataque ou uma estratégia para algo maior que ainda está por vir? Calma, o buraco é mais embaixo.
De acordo com a emissora, o documento tem como objetivo nortear o trabalho das redações do grupo, em TV, jornal, revista, rádio ou internet. Em um dos trechos da carta aos acionistas, há uma explicação do que motivou a criação do texto. “O documento resultou de muita reflexão, e sua matéria-prima foi a nossa experiência cotidiana de quase nove décadas. Levou em conta os nossos acertos, para que sejam reiterados, mas também os nossos erros, para que seja possível evitá-los”. Será? Clique aqui e confira a crítica publicada no blog Roteiro de Cinema News.
Confesso que por um segundo, pensei que a Globo iria abrir o jogo e explicar para o público os seus “reais” princípios editoriais e a sua visão político-partidária em relação aos assuntos pautados pela mídia. Ledo engano! O documento é uma forma, mesmo que sutil, de colocar o jornalismo produzido pela Vênus Platinada livre de qualquer acusação parcial ou tendenciosa, o que é uma pena. Não se engane: o jornalismo sempre será parcial, pois a informação recebe filtro do repertório cultural do jornalista que a produz e das decisões editoriais da empresa do qual ele trabalha. A imparcialidade é uma lenda e os jornalistas sofrem censura política e empresarial. #FATO
No entanto, a Carta Editorial da Globo revelou uma concha de retalhos que precisa ser costurada para ser melhor entendida. É sabido entre os profissionais de comunicação que a audiência dos telejornais de sábado (e o share, número de televisores ligados), geralmente é menor, em relação aos outros dias da semana. Por isso, muita gente ficou sem entender o porque da Globo lançou esse editorial naquele dia. Mas a ação, por si só, não vem coroar apenas os novos rumos do jornalismo contemporâneo e elucidar para o telespectador os meandros da atividade jornalística. Não! Assista o vídeo abaixo e tire as suas próprias conclusões:
Interessante o vídeo, não? Pensando de uma maneira mais global (desculpe o trocadilho), mais uma vez, desde a história da humanidade, a informação é usada como instrumento de promoção à desigualdade e perpetuação do Poder. Cabe a interessante ressalva de trocar a palavra “informação” na frase acima por “jornalismo”. Triste isso...
Falando na esfera política, ainda temos vários problemas com corrupção, violência e politicagem, mas o Brasil se fortalece para ser a “nova menina dos olhos do mundo”. Não é mistério para ninguém: somos um país rico em recursos naturais e temos uma economia de grande fomento exponencial. #TodosQueremOBrasil E a vinda da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos para cá, reforça essa tese. É como se fosse um agrado para uma política econômica que está em franco crescimento. Ou seja, um banco de favores.
Falando na esfera política, ainda temos vários problemas com corrupção, violência e politicagem, mas o Brasil se fortalece para ser a “nova menina dos olhos do mundo”. Não é mistério para ninguém: somos um país rico em recursos naturais e temos uma economia de grande fomento exponencial. #TodosQueremOBrasil E a vinda da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos para cá, reforça essa tese. É como se fosse um agrado para uma política econômica que está em franco crescimento. Ou seja, um banco de favores.
Lá fora, a situação não está nada boa. Os Estados Unidos está prestes a entrar numa crise econômica profunda, como há muito tempo não se via. A Europa também vai mal...em linhas gerais, está quebrada. Como o Brasil, historicamente, sempre foi o país da esculhambação geral, nada melhor do que tirar proveito da nação que no período colonial abasteceu Portugal e boa parte do Velho Mundo. Boa saída, não? Nem tanto. Para que isso aconteça, um grupo [político] precisa estar no Poder e detonar o atual para entrar. A história corre o risco de se repetir!
Em linhas gerais, é isso que está acontecendo com o governo Dilma. Após o fim da lua de mel com a imprensa, a Presidenta tem dado uma resposta interessante às denúncias que tem coroado o seu início de governo: demissões. Dilma está passando a vassoura e isso tem irritado alguns setores que querem dar um tom de crise a um momento extremamente raro para o país: a imprensa denuncia e o governo toma atitude. Claro, muita coisa na política ainda tem vistas grossas, mas em outras há uma forçação de barra sem tamanho para transforma em crise aquilo que está sendo resolvido dentro do Jogo Político. Ou seja, há um desespero nítido [empresarial e político]. E como um peão na mesa de xadrez, o Jornalismo será usado para prestar esse desserviço. Lamentável!
Em seu blog, o jornalista Rodrigo Vianna, que trabalhou por vários anos na Rede Globo, denuncia esse esquema de uma maneira clara e totalmente realista. "Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa. O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: ‘é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui’. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar ‘turbulência’ no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha. Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as ‘reportagens’ devem comprovar as teses que partem da direção". Para ler o artigo completo, clique aqui.
Lúcido diante desse esquema, o jornalista Marco Aurélio, autor do blog Do lado de Lá e editor especial do Jornal da Record, também denunciou que os Princípios Editoriais da Globo, na verdade são uma forma de dar “uma resposta à sociedade que clama por regulação. Eles sabem que não podem mais continuar fazendo o que vinham fazendo e tentam se antecipar à legislação para criar um ambiente favorável, no sentido de argumentar que, sozinhos, são capazes de impor uma norma de conduta. (...) Pesquisas qualitativas tem demonstrado que o público voltou a ter antipatia pelo jornalismo praticado pela emissora. O monopólio da verdade acabou. (...) Para trazer informação de qualidade é preciso não ignorar o contraditório, não fazer juízos apressados e preconceituosos, não testar hipóteses irresponsavelmente e não subestimar a capacidade de seu público. Muitos podem até absorver conteúdo inercialmente, mas muitos também estão dispostos a dizer basta. Basta de manipulação, basta hipocrisia, basta de irresponsabilidade". Clique aqui para ler o post completo.
Preste atenção: imprensa, poder, política e interesse empresarial estão todos ligados entre si. A alienação praticada pela TV aberta tem motivo e não é tão gratuita quanto imaginamos. Acorde! O fato é que essa Carta de Princípios Editoriais da Globo aflora uma situação existente no mercado jornalístico, de um modo geral: a mídia tradicional está desesperada, porque o público não é mais passivo como antes. O telespectador atual é também fiscal do conteúdo e já tomou para si o Quarto Poder, graças as redes sociais.
Tudo bem que boa parte do público ainda não tem acesso à internet, mas hoje em dia é muito mais fácil desmentir uma matéria tendenciosa pelos blogs e redes sociais, do que há anos atrás. A internet hoje tem um poder de repercussão muito mais relevante, sem contar que a Nova Classe C tem acesso à banda larga, TV Paga, smartphones, a tablets e é a nova audiência relevante dos meios de comunicação. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Mais do que uma Carta, o público pede por transparência editorial empresarial não só da Globo ou da Record – por estarem na crista da onda, mas de todos os veículos de comunicação. É hora de falar a verdade! #ProntoFalei
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Jornalista
9 comentários
Eu jurava que a Record tinha aprontado alguma coisa, mas dessa vez o editorial não foi motivado por um ataque.
ResponderExcluirGrande Wander. Até pelo uso das hashtags vc deixa extravasar essa paixão, esse desabafo. Mas isso não impede o seu artigo de conclamar algumas verdades e delinear um norte para seus leitores.
ResponderExcluirParabéns pelo ensejo de contextualização ao ato da Globo.
Abs
Interessante o Post.
ResponderExcluirA Globo, até hoje não fugiu do que foi apresentado no "Outro lado do Cidadão Kane", que por sinal, quero assistir de novo, logo mais.
Vander, como sempre, com ótimos posts!
Obrigado pelo show de Jornalismo!
Wander, ao ler seu post agora, confesso que fiquei com medo dos rumos que o Jornalismo está tomando, não por culpa dos profissionais, mas das empresas que estão usando-o como munição política-empresarial. E não é só a Globo que está atacando a Dilma e os Ministros....a Folha também está jogando pesado.....imprensa panfletária mascarada é triste, pra não dizer vergonhoso. Parabéns pelo texto! Beijos
ResponderExcluirO grande problema é que as pessoas ainda não entenderam o jogo político que existe nos bastidores do jornalismo. Como vc bem disse, a alienação da TV aberta não é por acaso....
ResponderExcluirMuito bom amigo. Deixe-me apenas lamentar o uso de fontes como o Rodrigo Viana, um profissional pouco confiável.
ResponderExcluirAlguém que trabalha numa empresa por anos e depois sai pra outra tão desonesta e tendenciosa quanto não merece meu respeito e ou confiança.
De que adianta a Globo divulgar uma cartilha se na prática não a segue? Acho que teria sido melhor a Globo nem ter feito isso. Quem tem consciência e conhecimento sabe que ela fala uma coisa e faz outra. Abraço.
ResponderExcluirInteressate Wander, você postou algpo fascinante e que mesmo eu, ainda sendo estudante de jornalismo, já sei com base no que os meus oilhos viram: "Não se engane: o jornalismo sempre será parcial, pois a informação recebe filtro do repertório cultural do jornalista que a produz e das decisões editoriais da empresa do qual ele trabalha."
ResponderExcluirPor isso que quando leio documentos como esses, me questiono como as empresas criam certas máscaras perante a sociedade, mesmo sabendo que essa mesma sociedade já sabe quem está por trás e principalmente quais os motivos.
Parabpens pelo texto!!
Abçs!!
Danilo Moreira
http://blogpontotres.blogspot.com/
Olá! Assim como já descrito por você e alguns comentários por aqui, ressalto que esses "princípios editoriais" só ficam na teoria e nos manuais de redação. A prática do jornalismo infelizmente não condiz com a transparência, a ética e o profissionalismo. A ameaça das novas mídias é uma realidade e essa "ação" da Globo vem ser uma tentativa (talvez frustrada) de reafirmar algo já perdido - seu monopólio. As mídias tradicionais estão de fato perdendo espaço (e público) para os novos intermediários (blogueiros, por exemplo). Parabéns pelo texto. Abs
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