Café Literário - Livro Boa Ventura mostra a cobiça de Portugal pelo ouro do Brasil

junho 03, 2011


A história do Brasil é cheia de meandros. Foi talhada, quase que totalmente, por uma exploração insaciável da falida e ambiciosa Coroa Portuguesa. Durante os primeiros séculos, o Brasil foi considerado um “quintal grande” de Portugal, onde “tudo que se planta nasce”. Até que a fome pelo ouro fez com que uma geração de aventureiros transformasse uma colônia minguada de 300 mil habitantes em uma robusta e próspera colônia de 3,6 milhões.

Detalhes dessa história única que forjou um Brasil rico em recursos minerais – porém pobre em sua distribuição de renda, podem ser visto com a precisão documental e narrativa envolvente do livro Boa Ventura, do jornalista mineiro Lucas Figueiredo, lançado pela Editora Record, 368 páginas, ao preço de R$ 39,90. Graças a uma cobiça desenfreada pelo ouro é que o interior do Brasil foi colonizado e a família real portuguesa pôde usufruir por séculos de uma riqueza que nunca foi sua.

No livro, Figueiredo traça um panorama completo e cheio de indicações documentais daquilo que durante anos a história quis florear no ensino fundamental e médio: Portugal sempre foi dependente do Brasil, desde o inicio do chamado “descobrimento” da Terra de Vera Cruz. Quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral se desviou à direita do continente africano, era a cobiça sua bússola. Cravo e canela podiam render um bom dinheiro no Velho Mundo, mas eram as esperanças de ouro e prata que incendiavam o coração lusitano e as cortes européias.

Tempos depois, uma sucessão de monarcas portugueses famintos pela riqueza fácil da extração de ouro e prata – como acontecia na América Espanhola, fizeram com que a lenda de uma montanha de ouro de exploração rasa e simples – conhecida como Serra de Sabarabuçu, fosse levada a sério, credenciando expedições de décadas e buscas seculares pelo tão sonhado ouro.

Em Boa Ventura, é possível observar a trajetória dura e demorada em direção à descoberta das riquezas minerais e suas conseqüências sociais. A América Portuguesa estava entre as nove províncias gemológicas do mundo. Porém, com um solo impregnado de pedras preciosas, sobretudo, diamantes, foram quase dois séculos para que a Coroa percebesse que a verdadeira Sabarabuçu estava debaixo das terras, principalmente na região da atual Minas Gerais.

Finalmente, quando se pensava que a riqueza do Brasil se resumia apenas em extração de pau-brasil, açúcar e a dizimação da população indígena, é que a ficha da coroa portuguesa caiu: a extração do ouro só poderia acontecer se houvesse a ajuda de um profissional que entendesse os mecanismos de mineração, além da oferta de vantagens à aqueles que viviam no Novo Mundo.

Por conta dos bandeirantes que conheciam o sertão (interior do Brasil) como poucos e de uma cobiça por títulos de nobreza e a promessa de riqueza fácil, é que mais de 200 anos depois do seu descobrimento que, finalmente, o ouro no Brasil foi encontrado e explorado. Boa Ventura é uma obra viva, latente e documental que mapeia de forma realista a história da primeira loucura a varrer o solo brasileiro, conhecida como a corrida do ouro.


A busca pelo ouro ajudou a ocupar e proteger as fronteiras do Brasil, a desenvolver a agricultura e até mesmo as artes. Em cem anos, Portugal torrara mais de metade do metal precioso produzido no mundo naquele período. Por meio de uma pesquisa minuciosa e extremamente envolvente, Lucas Figueiredo mostra para o leitor que durante um bom tempo o ouro brasileiro abasteceu não só Portugal, mas foi pulverizado por toda Europa.

Voltado tanto para estudantes, pesquisadores e, principalmente, para pessoas que querem entender melhor a história do Brasil, o livro Boa Ventura possui instrumentos capazes de levar ao leitor a pensar que, desde a época da colônia, o Brasil foi uma terra sem lei, onde o poder era medido pela força econômica, e não por justiça. Não se assustem: o livro de Figueiredo tem tudo para se tornar, dentro de muito em breve, um filme ou uma minissérie, de tão profundo e envolvente. Vale a pena conferir!

O autor

O jornalista e escritor Lucas Figueiredo nasceu em Belo Horizonte em 1968. Recebeu os prêmios Esso (2007, 2005 e 2004), Jabuti (2010), Vladimir Herzog (2009 e 2005), Imprensa Embratel (2005) e Folha (1997), entre outros. Agraciado pelo site Jornalistas & Cia com o mérito Grandes Jornalistas (2010) por estar entre os quinze jornalistas brasileiros mais premiados no período 1995-2010.
O premiado jornalista Lucas Figueiredo já vendeu cerca de 70 mil livros
pela Ed. Record. Foto: Washington Alves.


Trabalhou na Folha de S.Paulo, como repórter e chefe de reportagem, e no Estado de Minas, como repórter especial. Colaborou com O Estado de S.Paulo, o serviço brasileiro da rádio BBC de Londres e as revistas Rolling Stone, Playboy, Caros Amigos, Superinteressante, Revista MTV, Nossa História e Defue Sud (Bélgica), entre outras. São de autoria de @_lucasfigueired os livros-reportagem Morcegos negros (2000), Ministério do silêncio (2005), O operador (2006) e Olho por olho (2009), todos publicados pela Record. Atualmente, Lucas mantém um blog pessoal, além de ser repórter especial e colunista da Revista GQ.




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Wander Veroni 
Jornalista

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4 comentários

  1. Que livro interessante! Principalmente, por mostrar de forma documental que POrtugal sempre foi dependente do Brasil....não é a toa que eles estão passando por um crise profunda atualmente....e depois tem a cara de pau de falar que o brasileiro é preguiçoso...poupe-me! Fiquei muito afim de ler o livro.

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  2. Só quero ver como o povo português vai receber esse livro do Lucas....pela sua resenha, o livro permite que o leitor veja que a cobiça foi a principal responsável pela colonização do Brasil. Parabéns pelo texto!

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  3. Muito bom esse livro, principalmente para estudantes que vão fazer vestibular. Vou comprar e depois passo aqui pra falar o que achei. Legal seu blog, parabéns!

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  4. É interessante... e horrível: todas as pessoas que estão comentando têm sobrenome português. É caso para perguntar se os cobiçadores maiores foram os que vieram para o Brasil ou os que nunca vieram para o Brasil. O autor do livro tem sobrenome português... deveremos achar que ele escreveu um livro por cobiça da fama ou das vendas?

    Enfim... tudo isto é muito triste e redutor...

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