Ponto de Vista – Massacre em Realengo traz reflexão sobre saúde mental e bullying

abril 09, 2011






Foi notícia em todo o país e no mundo. Um ato insano cercado de mistério e injustiças. Nessa quinta-feira (07/04), doze crianças morreram baleadas numa escola municipal do Rio de Janeiro, vítimas de um atirador descontrolado. O caso teve uma repercussão gigantesca e provocou uma onda de comoção nas pessoas. Muito se foi discutido, mas até agora ninguém sabe o que motivou esse criminoso a matar essas crianças, em especial.

O debate em torno do caso nos traz algumas possibilidades de assuntos a serem pautados, como a questão da saúde mental e do bullying. Infelizmente, as pessoas quando se deparam com o tema saúde mental logo pensam em doença, e não em saúde. Passa uma série de enfermidades, como demência, mania, psicose, depressão, ansiedade, enfim...o que é necessário pontuar que saúde não é sinônimo de doença. Saúde é bem estar e doença é outra coisa que não tem nada a ver com essa proposta. Mas uma coisa é certa: é preciso cuidar da saúde para se prevenir das doenças.

E quando falamos em saúde mental a ideia é focalizar uma mente livre e saudável capaz de responder aos estímulos do dia-dia, propondo ações que nos permite sentir bem no nosso ambiente e consigo mesmo. Pelo o que se viu nos noticiários, o atirador não estava nada bem. Vinha de uma onda de isolamento social e um passado de bullying que deixaram cicatrizes expostas na alma dele. O fanatismo religioso exposto na carta de despedida já é uma prova deste descompasso.

Em contrapartida, o que será da saúde mental dessas crianças e funcionários da escola que passaram por uma experiência tão traumática? Espero que a secretaria de saúde do Rio fique atenta a essa abordagem como se mostrou atenta e presente no dia do ocorrido. Pelo que já li sobre o tema, acredito que o ideal é propor uma terapia aos alunos e um trabalho psicopedagógico para a promoção de um ambiente escolar de paz. Só quero ver...


Outro atenuante desse trágico caso de Realengo que merece ser discutido é a questão do bullying e os efeitos que isso pode causar a curto e longo prazo na vida de uma pessoa. Há um pouco mais de 15 anos atrás não se falava em bullyng nas escolas. O caso era tratado como “crianças bagunceiras” que perseguem “crianças tímidas”. 

O tímido era incentivado o tempo todo a reagir da mesma agressividade, enquanto o agressor nunca era punido. Todo mundo que era visto como “diferente” virava motivo de piada, recebia agressões e ganhava apelidos nada agradáveis. Os professores faziam vista grossa e os alunos que sofriam bullyng se escondiam detrás do medo. Hoje, alguns educadores estão mais atentos. Porém, é difícil educar quando boa parte dos jovens não tem sequer respeito por eles mesmos. Educar hoje é um trabalho de construção e perseverança diante de tantas adversidades.

Talvez, se o atirador tivesse recebido uma ajuda no momento certo, o caso poderia ter tomado outro rumo. Será? E a questão da maldade, do ato cruel, como é que fica? Seria a maldade uma patologia mental? Infelizmente, a mente humana nos prega peças. A maldade é assustadora de tal maneira que é impossível calcular o que se passa na cabeça de alguém que entra numa escola para fazer mal às crianças que não tinham nada a ver com o problema dele. 

Aliás, isso me faz pensar o que esse atirador passou de bullying nessa escola deva ter sido algo muito forte a ponto dele planejar uma volta tão cruel. Porque matar apenas as meninas? A rejeição foi tão grande assim a ponto de provocar esse surto? Será que a humanidade tem jeito? Sim, tem. Tem que ter! Só de já debatermos o assunto e colocar a cabeça para pensar sobre isso já é algo transformador e que ajuda a colocar uma gota de esperança. Afinal, devemos ser a mudança que queremos ver.





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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.








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Wander Veroni
Jornalista

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7 comentários

  1. O que mais me chamou a atenção nessa caso de Realengo foi a crueldade do atirador em matar as crianças. É muito triste ver o que o bullyng é capaz de aflorar o lado mais perverso do ser humano. Parabéns pelo artigo e pelo trabalho que você faz neste blog.

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  2. È interessante que bullying é um termo em Inglês que basicamente perdeu traducão em Português. Esta cultura de bullying vem dos EUA onde a prática está diretamente relacionada ás tragédias de Columbine e Virginia Tech. Eu sinceramente não imaginava ver spree killers no Brasil. Depois do assassino do cinema há vários anos atrás eu imaginei que fôsse apenas um caso isolado e que nada parecido fôsse ocorrer novamente.É lamentável que Eric Harris e Dylan Klebold tenham sido precursores de uma tendência tão macabra. Existem adolescentes no mundo inteiro que os idolatram e sonham com a ''fama''. Eu tenho lido bastante sobre a tragédia do REalengo e existem muitos indícios de que realmente a experiência pessoal do assassino naquela escola possa ser uma das razões pelas quais ele resolveu cometer estes crimes. O fato de a maior parte das vítimas serem meninas também chama a atencão. Seria no caso uma forma de simbolicamente matar as meninas que o desprezaram na adolescência?

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  3. Olá, Wander.

    Vou contar uma história pessoal. Eu sofri bullying em 2 escolas que frequentei. Foi "obrigado" a sair das duas devido a esses problemas. No entnato, nunca guardei rancor ou raiva desses acontecimentos, muito pelo contrário. Hoje eu aprendi com isso e não deixo ninguém, repito, ninguém ficar de brincadeiras estúpidas comigo! Não, não é raiva ou ressentimento, simplesmente tomei as rédeas da minha vida, não deixando que façam dela o que bem entenderem.

    Porém, apesar desse desabafo. Concordo contigo. Devemos pensar e muito sobre essas brincadeiras de mau gosto, principalmente pelo fato de que podem desencadear situações como a do Realengo.

    Sabe, tenho um amigo que é professor de escola pública. Ele diz que a autoridade dele é a mesma que a de um garoto de 7 anos (idade de seus alunos). Ele não pode repreender, não pode ter um pulso firme, caso contrário, poderá sofrer represálias por parte dos pais e dos diretores. Assunto delicado, não? Até que ponto a liberdade é saudável?

    Será que existe algum estudo que compare a sociedade na época das escolas públicas da ditadura com as de hoje, onde a liberdade é exagerada?

    Forte abraço, meu amigo.

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  4. Oi Fábio! Obrigado pelo comentário e, sinceramente, gostei muito do que escreveu. Também sofri bullying na época da escola e, graças ao apoio psicológico que tive na época consegui dar a volta por cima. Mas é por isso que propomos essa discussão essa semana na seção: e quem não recebe ajuda? Como é que fica a cabeça de uma pessoa? Claro, não podemos generalizar e nem enquadrar as vítimas desse ato covarde, mas é algo que devemos debater. Outro ponto que vc abordou foi o excesso de liberdade dos jovens de hoje. Para mim, essa é uma questão ampla que passa principalmente pela educação e pelo respeito. Só quando isso for oferecido as pessoas é que teremos uma sociedade melhor. Abraço

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  5. Wander, pensei nisso hj de manha quando lia a Época... acho até que alguém me falou que ele livrou um gordinho e não o feriu...

    abs e parabéns pela nota

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  6. @Amanda Nogueira: Oi Amanda! Obrigado pelo comentário e elogio. Também me entristece muito ver o que o ser humano é capaz de fazer uns com os outros de forma cruel. Abraço

    @Anna Williams: Oi Ana. Obrigado pelo comentário. Gosto muito das suas participações aqui no blog. Também tenho acompanhado o Caso de Realengo. Li alguns artigos muito interessantes de psicanalistas sobre o fato do passado de bullying do atirador ter sido um fator que não ameniza, mas tenta explicar um pouco da crueldade desse crime. Abraço

    @Bruno Waddington Swell: Oi Bruno! Obrigado pelo comentário e elogio. Ainda não li a Época, mas pelo que acompanho nos noticiários, aparentemente, o atirador, ao promover o massacre na escola, reviveu os seus momentos de bullying quando era criança. O que mais me deixa triste é que essas crianças não tinham nada a ver com isso...uma pena! Abraço

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  7. Estatisticamente há cerca de 6% de pessoas no mundo com problemas mentais de alguma ordem. Desprezar isso e relegar a saúde mental a um plano inferior - como é feito aqui - é um convite a tragédias como esta.

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