Ponto de Vista – Humanidade e Tragédia da Chuva no Rio de Janeiro

janeiro 15, 2011


“O mundo parece que está acabando!”. Essa foi a fala de um garotinho, morador da região serrana do Rio de Janeiro, que encerrou a reportagem de Bette Lucchese para o Jornal Nacional, da TV Globo, nesta quarta-feira (12/01). A sonora que poderia fazer parte de um breve povo-fala, apenas para ilustrar a matéria, me tocou. Sim, parece que o mundo acabou mesmo. É assustador! A natureza não está brincando em serviço! Impressionante o que a força da água é capaz de fazer. Rastros de destruição, tragédia e vidas que foram colocadas à prova ou se perderam. Parece cena de filme, mas é realidade: está tudo em estado de caos. Não há culpados, apenas vítimas.

Ao ver as imagens nos noticiários, dá para ter uma ideia da dimensão do desastre natural que atingiu as cidades de Teresópolis, Nova Friburgo, Semidouro, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim, Areal e Petrópolis, que fazem parte da região serrana do Rio de Janeiro. O governador Sérgio Cabral decretou luto oficial por sete dias pelas vítimas das chuvas. Já o governo federal liberou recursos na ordem de R$ 100 milhões que serão usados para a compra de remédios, mantimentos, limpeza de ruas e na reconstrução das cidades.

A tragédia das chuvas na região serrana do Rio já é considerada a maior tragédia climática da história do Brasil. O número de vítimas ultrapassou o registrado em 1967, na cidade de Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo. Naquela tragédia, tida até então como a maior do Brasil, 436 pessoas morreram. No ano passado, de janeiro a abril, o estado do Rio de Janeiro teve 283 mortes – sendo 53 em Angra dos Reis e Ilha Grande, na virada do ano, 166 mortes em Niterói, onde se localizava o Morro do Bumba, e 64 no Rio e outras cidades atingidas por temporais em abril.

Até o momento, mais de 600 pessoas morreram vítimas da chuva nesta região fluminense, conhecida pelo potencial turístico e responsável por 70% da produção de hortaliças naquele estado. Atualmente, estradas estão interditadas. Mais de 40 mil pessoas estão sem energia elétrica e várias outras sem água potável ou estão ilhadas em locais de difícil acesso. Ao acompanhar os noticiários, não tem como não se emocionar com personagens da vida que real que lutam para sobreviver diante de tanta tragédia.

Emocionei-me com a jovem que entrou em trabalho de parto e foi socorrida pelo Globocop. Com a senhora que se agarrou numa corda e, numa tentativa desesperada de salvar a própria vida, teve que se desfazer do seu cãozinho, no meio da correnteza. Da outra senhora que transformou a sua casa em albergue, numa tentativa de ajudar familiares e vizinhos que perderam tudo. Ela tem medo da noite e passa o dia vigiando uma pedra, no alto do morro, que pode rolar a qualquer momento. O mais curioso é uma outra senhora que, mesmo com o olho ferido, teve muita coragem de resgatar os netos da casa que foi completamente destruída pela chuva. É triste, porém filosófico. Do sufoco, do limite de tudo, ainda é possível ter força para recomeçar. É uma lição de vida!

A tragédia ensina o jornalismo a ser mais humano, e menos mercenário. São vidas, e não apenas números. Na cobertura de uma catástrofe há também gente desesperada que perdeu tudo e que precisa de ajuda, antes mesmo de querer ter algo em “primeira mão”. É preciso ir além da pauta e ter um olhar mais humano, sem dúvida! Como jornalista, fico contente em ver que ainda existam profissionais preocupados com o valor humano, e não só com o Ibope. E isso faz toda diferença!



Foto: Agência Estado.




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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar
artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.





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Wander Veroni
Jornalista

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6 comentários

  1. Ei Wander! Também me emocionou muito a cobertura dessa tragédia das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Tenho que parabenizar a Globo pela humanidade na cobertura. Matérias caprichadas e mostrando realmente a superação. Adorei o post! Beijos

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  2. Wander, não tenho dúvida de que jornalista é gente como toda a gente. O problema, às vezes ou quase sempre, é o patrão deles...

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  3. Estou com o coração partido. Esta tragédia é muito triste. Estava na região serrana até segunda-feira, pois tenho família em Petrópolis. Gosto da região e das pessoas que vivem lá. Estou bem chateado e revoltado em ver como o poder público trata a população. A mídia faz sua parte, embora algumas vezes exagere no sensacionalismo, mas está fazendo bem seu papel de informar e cobrar as autoridades. Abraços.

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  4. Acho que todos sentem a mesma dor, ou melhor dizendo so quem passou pode imaginar....
    Peço a Deus todos os dias, pois são vidas gritando por socorro.
    abraços.

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  5. Concordo que a mídia dê destaque sobre o assunto e também mobilize as pessoas a ajudar. Porém o que se vê é muita exploração da notícia. A maioria dos telejornais não falam de outra coisa. É só disso que se houve falar. E as outras notícias importantes como a alta dos juros. Cadê o destaque?

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  6. Sim, compadre, essa catástrofe está exigindo muito mais de todos nós por uma mobilização diferente, que dê conta do que é mais emergencial neste instante: repecurtir como está a situação para pedir ajuda.

    Lá no Babel, eu mudei o foco. Fiz uma curadoria com vários links para o povo clicar e ir logo ajudando. A emoção e mal-estar dos jornalistas envolvidos na cobertura televisiva está explícita em seus rostos. Não dá para manter uma postura profissional mais fria e a verdade é que a imprensa brasileira está dando um show.

    A nós todos, todos aqueles que tem a possibilidade de divulgar notícias, seja por qual meio for, nos resta continuar unindo-nos em torno dessa mobilização.

    Ontem, fiquei emocionadíssima com o gesto da nossa amiga Vany. Quando dei por mim, já estava chorando. Pois a Vany abasteceu o carro dela de donativos, pegou o Daniel, aquele garoto maravilhoso que tivemos o prazer de conhecer, e foi dirigindo para o Rio. Ela e ele. Isso é ter coração. Ela já havia repercutido tudo como nós, mas não foi suficiente. A jornalista incorporou a cidadã, irmã-solidária, e se mandou, literalmente, para agir em campo.

    Gostaria que uma amiga minha que mora no exterior conseguisse entender o orgulho que tenho de ser brasileira. Foi só o que senti quando vi o atitude da Vany.

    Beijo carinhoso para vc e vamos continuar repercutindo!

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