#Wikileaks: Quando a verdade incomoda

dezembro 09, 2010



Considerado o novo ícone do jornalismo investigativo, o site WikiLeaks ficou mundialmente conhecido por divulgar em primeira mão documentos confidenciais de governos – principalmente o dos Estados Unidos. Criado pelo jornalista australiano Julian Assange em 2007, o site tem se especializado em tornar público documentos oficiais que desmascaram o real interesse político das nações e as suas respectivas relações diplomáticas ao redor do mundo.

A grosso modo, a tradução da palavra WikiLeaks seria "contar anonimante de forma rápida", o que representa claramente a proposta do site. Em parceria com jornais impressos como "The New York Times" (EUA), "Guardian" (Reino Unido), "El País" (Espanha), "Le Monde" (França) e "Der Spiegel" (Alemanha) para a divulgação de informações extra-oficiais, o site WikiLeaks já abrigou mais de 1 milhão de documentos comprometedores doado por fontes oficiais anônimas e apurados por um grupo de jornalistas que atestam a veracidade destas informações.

Apesar de fazer a esse trabalho há alguns anos, o @WikiLeaks ganhou destaque internacional este ano, com três vazamentos: o primeiro com a publicação de um vídeo confidencial, feito por um helicóptero americano, que parece mostrar um ataque contra dois funcionários da agência de notícias Reuters e outros civis; já o segundo foi quando tornou público 77 mil arquivos de inteligência dos Estados Unidos sobre a guerra do Afeganistão; e, por último, ao divulgar mais de 400 mil arquivos expondo ataques, detenções e interrogatórios no Iraque.


No início de dezembro, o WikiLeaks causou desconforto na diplomacia internacional ao revelar cerca de 250 mil documentos diplomáticos confidenciais dos Estados Unidos, no último domingo (05/12). Estes documentos apelidados de “cables” revelam detalhes secretos e bastante curiosos da política externa norte-americana, entre dezembro de 1966 a fevereiro deste ano, em um caso que começa a ficar conhecido como "Cablegate".


De acordo com informações da Folha.Com, o WikiLeaks é mantido por donativos e pouco se sabe sobre a origem e as dimensões de seu financiamento. Ao que parece, Assange vive como nômade, carregando um computador em uma mochila e suas roupas em outra. Após manter-se discreto por vários anos, o jornalista australiano resolveu sair do anonimato já algum tempo e tem feito várias palestras ao redor do mundo sobre o projeto que dá um novo gás ao jornalismo investigativo, mostrando que é possível uma saudável parceria entre web e impresso.

Censura


Julian Assange, atualmente, é considerado o inimigo público número um dos Estados Unidos e de muitos outros países que se sentiram desnudados pelas verdades oficiais reveladas no Wikileaks. Nessa terça-feira (07/12), o fundador do site foi preso na Suécia após se entregar à polícia. Ele é suspeito de ter praticado crimes sexuais contra duas moças. Segundo as leis desse país europeu praticar sexo sem preservativo configura como “pena de estupro leve”. Assange nega as acusações e afirma que ambas as moças mantiveram relações sexuais em consenso. O advogado de Assange alega que o caso é apenas uma estratégia do Pentágono [Estados Unidos] para desmerecer as revelações feitas pelo site.


Após a prisão de Assange, hackers espalhados pelo mundo atacaram sites de supostos inimigos do @WikiLeaks, como o da Procuradoria-Geral da Suécia, o do advogado que defende as duas supostas vítimas de assédio sexual e estupro, o banco suíço PostFinance e a operadora de cartões de crédito MasterCard. As ações envolvem um "ataque distribuído de negação de serviço" – método praticado por hackers para reduzir a velocidade de um site ou mesmo tirá-lo do ar.


Já do outro lado da web, o Twitter foi acusado de censura por vários internautas que notaram a ausência do WikiLeaks entre o Trending Topics, mesmo que a palavra tenha sido a mais comentada durante o ápice do caso. "Nesta semana, as pessoas se espantaram sobre o WikiLeaks, com alguns perguntando se o Twitter tem bloqueado [as palavras-chave] #wikileaks, #cablegate ou outros tópicos relacionados do aparecimento na lista dos assuntos mais comentados. (...) A resposta: absolutamente não. Na verdade, alguns desses termos foram previamente listados no mundo ou em locais específicos. Dada a confusão difundida sobre o #wikileaks, vamos oferecer uma longa explanação sobre como funcionam os tópicos do Twitter, e por que alguns tópicos populares não figuram na lista", explicou o Twitter no blog oficial.


Mesmo com toda polêmica em torno do WikiLeaks, nesta quinta-feira (09/12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou apoio à Assange. Durante o balanço do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e usando um tom bastante brincalhão, Lula disse estranhar a prisão do criador do site. “O que eu acho estranho é que o rapaz que estava desembaraçando a diplomacia americana... Como é que chama? O Viqui Liquis lá, como é que chama? WikiLeaks! O rapaz foi preso, e eu não estou vendo nenhum protesto pela liberdade de expressão. E aí aparece o tal do WikiLeaks, que desnuda a diplomacia, que parecia inatingível. Parecia a mais certa do mundo. E aí começa uma busca. Eu não sei se colocaram cartaz como no tempo do faroeste, ‘procura-se vivo ou morto’, e prenderam o rapaz. E eu não vi um voto de protesto!”.


Em seguida, Lula dirigiu-se ao fotógrafo oficial da Presidência, Ricardo Stuckert, e pediu que ele colocasse seu protesto no blog oficial do Palácio do Planalto. "Ô, Tuquinha [Ricardo Stuckert], pode colocar no blog do Planalto o primeiro protesto então. Pela liberdade de expressão, sabe, na internet, para a gente poder protestar porque o rapaz estava apenas colocando aquilo que ele leu. O culpado não é quem divulgou, o culpado é quem escreveu. Portanto, em vez de culpar quem divulgou, culpe quem escreveu a bobagem. Porque senão, não teria o escândalo que tem. O culpado não é quem divulgou, o culpado é quem escreveu. Portanto, em vez de culpar quem divulgou, culpe quem escreveu a bobagem. Porque senão, não teria o escândalo que tem", comentou Lula.





Fotos e infográficos: Folha de S. Paulo










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Jornalista





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5 comentários

  1. E essa verdade pegou legal as grandes potências, a verdade é nua e crua e acredito quem forneceu os dados sabe muito mais e essa situação tende a piorar. Parabéns pelo artigo.
    Abrfaços

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  2. Gostei, ainda não tinha lido sobre o assunto... post bem completo :)

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  3. "O rapaz foi preso, e eu não estou vendo nenhum protesto pela liberdade de expressão."

    Luizinácio tem toda a razão. Aliás, perguntar não ofende: se fosse o vazamento de informações da diplomacia de Cuba, Venezuela, Líbia e China, estaria essa "chiadeira" toda?

    E o que é mais inquietante: a liberdade de expressão é apenas conversa pra boi dormir ou a tão falada transparência é estimulada apenas quando convém?

    Pelo o que estou acompanhando, isso é apenas o começo. Creio que a relação com a internet não será a mesma depois do Wikileaks.

    Abs!

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  4. É Wander... A verdade às vezes incomoda. Mas a liberdade deve prevalecer sempre a qualquer custo. Excelente postagem, como de costume.

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  5. Assange foi um visionário ao montar esta rede e em pouco tempo fazer um grande barulho no mundo todo. Acredito que ele vai ser perseguido pelo governo americano e poderá sofrer com prisões, torturas e mais. Bom ele fez um bom trabalho, desvendando verdades ao planeta. Que os EUA sejem mais cuidadosos da próxima vez. Abraços.

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