A Cura – Série debate medicina e curandeirismo

setembro 06, 2010



Uma trama cercada de mistérios por todos os lados. Essa é uma das possíveis definições quando se fala na série A Cura, que estreou no dia 10 de agosto, na Rede Globo. O telespectador se sente convidado a entrar em universo cheio de segredos, marcado pelo regionalismo de uma típica cidade do interior de Minas Gerais. Talvez, um dos textos mais seguros já propostos na TV sobre misticismo. Mas a história em si tem uma pegada muito forte marcada pela dor e injustiça, que nos faz avaliar a história do Brasil através dos tempos.

Com direção de Ricardo Waddington e escrita por João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, a produção é ambientada na cidade mineira de Diamantina, resgatando um pouco do misticismo da cultura brasileira, além de provocar o debate sobre a espiritualidade, no ano do centenário de Chico Xavier. O primeiro capítulo marcou 20 pontos no Ibope da Grande São Paulo e priorizou belas tomadas de Diamantina, em cenas que revezaram com a outra parte da história ambientada no século XVIII.

O que chama a atenção em A Cura é o fato da série abordar duas narrativas temporais distintas que se complementam. A primeira é a contemporânea, onde se passa a trajetória do jovem médico Dimas Bevilláqua, vivido pelo ator Selton Mello. Ele teria o dom da cura de doentes, mas ficou traumatizado após ser acusado pela morte de um colega em um caso mal explicado. Já a segunda narrativa se passa no século XVIII, contando a vida do minerador sem escrúpulos, Silvério (Carmo Dalla Vecchia), que faz parte dos antepassados de Dimas.

Na época da exploração do ouro e de diamantes, Silvério conquistava seus objetivos à base de muita crueldade. Certa vez, após exterminar uma tribo indígena, um pajé o amaldiçoou com uma bebida que o deixaria com feridas por todo corpo. O destino de Silvério é viver com a dor até os seus últimos dias. Entretanto, o minerador desconta o seu sofrimento em maldades com os outros, além de uma busca pessoal pela própria cura.

“Sempre quis fazer a história de um curandeiro. A medicina popular me fascina. A Cura um ajuste de contas através dos séculos, uma trajetória cármica”, diz João Emanuel. “A saga do século XVIII ajuda a entender elementos do presente. A trama é bem brasileira e enaltece a crônica da cidade do interior”, conta Marcos Bernstein, referindo-se à Diamantina (MG), cidade onde se desenrola o seriado.

A Cura marca a volta de João Emanuel Carneiro como autor principal, depois do sucesso da telenovela A Favorita (2008). João mostra ao público novamente que o suspense em seus textos tornou-se uma referência importante que o diferencia dos demais roteiristas. Com um roteiro bastante seguro, dinâmico, e trabalhando em duas frentes temporais, A Cura mostra que a TV brasileira está redescobrindo o filão das séries dramáticas e, ao mesmo tempo, valorizando a cultura regional.

O seriado foi uma grata surpresa neste segundo semestre. Principalmente, porque trouxe à TV um elenco bem afinado, como pouco se vê. Os destaques ficam por conta da fofoqueira da cidade, Nonoca (Eunice Bráulio), dona de uma loja de lembrancinhas turísticas, que é um personagem chave para contextualizar o público sobre o desenrolar da história, cuja pegada popular dá leveza à trama.

Também temos a louca da cidade Edelweiss (Ines Peixoto - integrante do Grupo Galpão), outra personagem importante para que Dimas perceba o dom da cura, além de servir como ponto de partida para trazer lucidez aos outros mistérios apresentados. E, por último, a merecida ascensão na carreira da atriz Andrea Horta, que vive a médica legista Rosângela Guedes, par romântico de Dimas. Enfim, nota 10 para toda equipe pela qualidade e singularidade do trabalho.

No mais, é impossível negar que o suspense em A Cura faz o público entrar em um universo sombrio onde nem tudo é o que parece ser. O mais bacana é poder mergulhar em segredos obscuros de uma sociedade marcada pelo mistério e histórias mal resolvidas através dos tempos. Interessou pela série e não teve tempo de assistir? O canalhdbr disponibilizou no YouTube a primeira temporada completa e em alta definição (HD). Assista o primeiro episódio abaixo:






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Wander Veroni
Jornalista

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3 comentários

  1. Olá, Wander!

    Muito interessante mesmo essa série!
    O Selton Mello está indescritivelmente fantástico como o doutor atormentado por um passado nebuloso. Gosto do estilo do João Emanuel Carneiro de escrever.

    É uma "luz no fim do túnel" da programação televisiva no meio de tanta boçalidade...
    Tomara que a Globo não faça nenhuma lambança e retire a atração sem aviso, como já fez algumas vezes!

    Um abração da Mary pra você!

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  2. Eu queria gostar mais de A Cura, mas o fato de ser apenas um episódio por semana impede que isso aconteça. A audiência também seria melhor caso tivessem exibido como minissérie, o que é de fato!

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  3. Olha a série foi ótima embora tenha sido interessante a sua apresentaçao contínua e nao uma vez na semana.
    contudo nao entendi o final.
    fiquei ate zangada e me irritei de ter acompanhado a série inteira, pois o fim foi sem pé nem cabeça, salvo se houver continuaçao.

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