Projeto Rizoma – Documentário mostra os bastidores da enchente no Rio de Janeiro

abril 13, 2010


Um grupo de amigos que pratica esportes radicais e artes circenses, cuja missão é mudar o cotidiano da cidade por meio de mensagens de conscientização, e muita, mas muita aventura. Em Julho de 2009, após a conclusão da série "Ratier - A RATOEIRA", o grupo Climb4, deu início ao Projeto Rizoma, onde arte, esportes radicais, música e viagens se encontram.

Fazem parte do Projeto Rizoma Diogo Vianna, de 24 anos, formado em Comunicação Social; Leonardo Coupey, de 28 anos, formado em Informática; Leandro Vianna, 23 anos, formado em administração e pelo estudante Leonardo Grilo, de 19 anos são a base do grupo, que tem uma média de dez pessoas envolvidas, de acordo com os idealizadores. No Blog do Rizoma é possível ver vários vídeos da aventura do grupo.

Mas, o que é Rizoma? De acordo com a botânica, é um tipo de caule que cresce de forma horizontal, geralmente subterrâneo, mas podem também ter porções aéreas. Os rizomas são importantes como órgãos de reprodução vegetativa ou assexuada de diversas plantas ornamentais, como por exemplo: grama, espada-de-são-jorge, samambaias e orquídeas. Dessa maneira, o nome do grupo se dá, justamente, ao fato de que este tipo vegetal que cresce de forma linear e alcança diferentes espaços, assim como a proposta do grupo.


Com uma visão bastante questionadora, os meninos do @canalrizoma resolveram fazer algo diferente. Durante as fortes chuvas que provocaram a quinta enchente mais fatal do mundo – no Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo; com mais de 200 mortos devido a esta catástrofe natural somado com o descaso de várias décadas dos nossos governantes, eles resolveram documentar isso de uma forma muito particular.

Inicialmente, a missão era chegar até a Praça da Bandeira e mostrar a situação de caos da capital fluminense. Mas, tudo mudou. Diante de vários depoimentos e de uma situação de tragédia, uma ideia na cabeça e uma câmera na mão puderam fazer a diferença na vida de algumas pessoas naquele fatídico dia. Assista o documentário abaixo:



ENTREVISTA


1) Qual é a proposta principal do documentário "Rizoma na enchente, de verdade"? Vocês pretendem escrevê-lo em algum festival de documentário ou de curtas?

Não temos essa pretensão de festival ou premiações, ainda. Mas é uma boa ideia! Geralmente, pensamos uma proposta inicial para nossas intervenções, mas normalmente ela muda durante a ação e muda de novo depois de editado o vídeo. É uma metamorfose, é um filho, que só chega à maturidade quando se finaliza a edição. No dia da enchente saímos com a intenção de fazer uma missão: chegar até a Praça da Bandeira de bote e mostrar o estado das coisas nessa parte do Rio de Janeiro. Todavia, tudo mudou quando vimos que a situação estava caótica. Então, começamos a recolher depoimentos e a viver aquela situação na pele, o que chamamos de "Jornalismo-Nômade". É uma forma de mostrar algo sem ser em terceira pessoa, como se faz normalmente no jornalismo. Queríamos sentir na pele como todos e ser participantes do sofrimento. Só assim dá pra saber o que se passou naquele dia.


2) O documentário começa a partir de uma inquietação de um membro do grupo que teve o carro alagado na enchente do Rio de Janeiro e que propõe um desafio de ir de bote até um determinado local. Mas, no meio do documentário há uma mudança de planos da equipe que começa a dar voz as pessoas e também se solidariza com que está acontecendo na cidade. Para vocês como foi fazer esse documentário? Em alguns momentos vocês sentiram medo por estar, literalmente, no olho do furacão? Conte um pouco dos bastidores e do período de pós-produção.

Não era medo, exatamente. Estávamos mais chocados com tudo que estava acontecendo, sem exageros, parecia cena de final de mundo. Quando nos lançamos para ações como essas, sabemos que tudo pode mudar. É um momento em que as circunstâncias nos dominam, e assim decide o rumo das coisas. Ficamos dois dias sem dormir depois desse trabalho, tanto por ansiedade, quanto pelo processo de edição, que nos massacrava por não sabermos que "tom" dar ao vídeo, foram 60 minutos de filmagem reduzidos um pouco mais de nove minutos. Por fim, acho que conseguimos mostrar como a "aventura" se desenrolou. Começando como uma aventura no meio de uma cidade completamente transformada e terminando com caos, descontrole e loucura emocional.

3) Uma das sonoras (depoimento do entrevistado) mais bacanas é de um motorista que desabafa toda revolta que ele sente em relação ao governo. No final, ele afirma que vocês o curaram de um câncer por ter dado a oportunidade de desabafo. Afinal, a mídia, na opinião grupo, não tem mostrado a realidade dos nossos governantes? O que vocês acharam da cobertura jornalística feita dessa enchente?

Na vida existem várias realidades, só no nosso vídeo você vê várias, a nossa, dos revoltados, dos tranquilos e dos em perigo. O problema da mídia atualmente é mostrar apenas uma realidade: a deles. A de quem está dentro do estúdio no ar-condicionado ou na rua com alguém segurando o guarda-chuva pra eles. É ai que se perde a riqueza do acontecimento e as milhares de realidades que existem ali. E ai você não pode sentir nada sobre a situação, nada te afeta, apenas informa.

4) O final do documentário é muito bonito e traz um dilema muito comum no jornalismo: diante da notícia, tem como não se envolver com o acontecimento? No caso do documentário em si, vocês pararam de gravar para salvar as pessoas, o que mostra o lado humano da situação. O que aconteceu com as pessoas ajudadas? Elas passam bem? Como é a sensação de, mesmo sem querer, ter sido herói, para aquelas pessoas do ônibus?

O dilema foi muito rápido. Ajudar pessoas em perigo é um reflexo, não há heroísmo nenhum nisso. Estávamos envolvidos com o acontecimento desde o início e íamos reagir ao que viesse. O fato de para de filmar foi devido a atrapalhar o que era mais importante fazer. Se não atrapalhasse, teríamos filmado tudo. Só não sei se publicaríamos.




Fotos: Divulgação / Projeto Rizoma.





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Jornalista

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12 comentários

  1. Teve politico chorando por causa do royates , mas não vi politico chorando por causa do mortos.

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  2. Eu acho que em situações como a que eles estavam realmente é complicado chegar em um bote filmando e não fazer nada para ajudar as pessoas que com certeza não entenderiam que aquilo era "apenas" um documentário.
    A decisão de ajudar foi a mais correta na minha opinião

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  3. Wander,


    sensacional vc dar espaço a este tipo de arte aqui no seu blog. Hoje em dia, com uma câmera simples é possível fazer um produto tão bacana como esse do projeto Rizoma cujo o final é emocionante.

    Parabéns aos meninos do Projeto Rizoma e a você por dar voz a esse tipo de manifestação cultural. Fiquei fã!

    Beijos

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  4. Infelizmente reclamam do governo, reclamam e reclamam e só. Não fazem nada e nas eleições estão lá, de novo votando nos fulanos.

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  5. Muito legal a entrevista deles. A situação no TJ está terrivel mesmo, mas os políticos não estão nem ai.

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  6. Nossa, nem me fale nesses problemas dessa chuvarada toda, moro no Rio e vi de perto que o bagulho era frenético. Sorte que onde moro santa Teresa, Centro, até q foi tranquilo. graças a deus parou esse aguaceiro todo, e se ele quiser, que volte fraquinha rs

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  7. legal o trabalho deles...todos temos que ser solidários nessas horas...o que esta acontecendo ao mundo nesses ultimos tempos...temos que cuidar de nosso planeta....

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  8. Wander,

    muito legal a inciativa desses caras. Falo não só pelo documentário sobre a enchente do Rio de Janeiro, mas pela proposta do projeto em si. Tudo que envolve amizade já tem a minha admiração.

    Parabéns pelo blog.

    Abraço

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  9. Caraca, documentário muito bom. É aquela velha história que uma ideia e uma câmara na mão pode fazer a diferença. o depoimento daquele motorista é o mais verdadeiro e reflete diretamente o que a maioria do povo sente.

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  10. Antes de mais nada, parabéns pelo blog. É muito raro a gente navegar pela internet e encontrar um blog com tantas notícias interessantes. Na verdade, eu gostei mais da estética do documentário do que do assunto em si. Esse lance de aventura e não saber o que vai acontecer é a grande sacada!!! Vou seguir seu blog. Abcs

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  11. Putzz...mtu bom esse documentário!!!A juventude fazendo toda a diferença,e como sempre,o representante da lei,do estado ,o policial,censurando,mas é isso ai.
    Pena é saber que o Sérgio Cabral vai ser reeleito :(

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