Jornais pedem desculpa por denuncismo

março 20, 2008









Uma história que tinha tudo para ser o enredo de um filme de suspense, mas é vida real. O caso da garotinha inglesa Madeleine, que desapareceu no dia 3 de maio de 2007, poucos dias antes de completar 4 anos, dentro de um quarto no hotel da Praia da Luz, no Algarve português, intriga todo o mundo. 


Semanas depois do sumiço da menina, a polícia portuguesa declarou os pais suspeitos do desaparecimento e, tão rapidamente, a mídia européia começou o denuncismo em cima de Kate e Gerry McCann, pais de Madeleine. Nessa semana, numa decisão judicial rara, a justiça inglesa condenou dois jornais a publicarem na capa um pedido formal de desculpas somada a uma generosa indenização por danos morais no valor de US$ 1,1 milhão, ou seja, cerca de R$ 1,8 milhão.


Nesta quarta-feira (19/03), dois jornais do Grupo Express News, o The Daily Express e The Daily Star, publicaram em sua primeira página um pedido formal de desculpas aos pais de Madeleine por divulgar uma suposta ligação de Kate e Gerry McCann com o desaparecimento da filha. Ambos diários escreveram: "Kate and Gerry McCann: Sorry" ("Kate e Gerry McCann: Desculpa").

O casal sempre alegou inocência no caso e iniciou uma campanha internacional para a busca da menina. Artistas e atletas, como o jogador de futebol David Beckham, gravaram vinhetas em apoio às buscas da menina, cujo os pais acreditam ainda estar viva. O caso continua em aberto e as investigações encontram-se em segredo judicial. Desde o último domingo (16/03), a equipe de reportagem do Domingo Espetacular, exibido a partir das 18h30, da TV Record, começou a exibir uma série de reportagens sobre o Caso Madeleine.


Voltando para o Brasil, em 1994, aconteceu um caso semelhante onde o denuncismo da imprensa prejudicou a vida de pessoas inocentes. A repercussão que a mídia européia fez em torno do Caso Madeleine é muito semelhante ao que os veículos de comunicação brasileiros fizeram no Caso da Escola Base, na qual Maria Aparecida Shimada e seu marido Icushiro Shimada, foram acusados de promover orgias com menores na escola infantil que mantinham no bairro da Aclimação, em São Paulo.

O episódio é um dos mais graves envolvendo o denuncismo na história da imprensa brasileira. Conforme o site do Instituto Gutemberg, "a polícia deu crédito excessivo a uma denúncia de mãe de alunos da escola, e a imprensa assumiu a queixa como se fosse fato provado. 'Perua escolar carregava crianças para orgia', estampou , por exemplo, a Folha da Tarde. 'Escola de horrores', sentenciou a revista Veja. Os acusados foram considerados inocentes ao final de um inquérito encerrado às pressas para que todos esquecessem o pesadelo. Nenhum policial foi punido, apesar de alguns acusados terem sido torturados, assim como não há notícia de que algum jornalista tenha recebido punição pelo péssimo comportamento profissional".



A jornalista mineira Karina Castro me enviou por e-mail essa sugestão de pauta para ser abordada aqui no Café com Notícias. Como Karina reinterou, na sugestão enviada por e-mail, trata-se de um fato muito raro e que nós da imprensa, inclusive a sociedade, devemos ficar atentos para não cair no denuncismo, mesmo que seja este o caminho mais fácil para se ter audiência ou vender jornal.





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Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

7 comentários

  1. Excelente como sempre Wander e o caso da meninha me intriga muito...

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  2. é isso que dá não checar as fontes e correr atrás do sensacionalismo.

    sinceramente eu já não aguento mais esta história da madeleine. é que existem tantas crianças que desaparecem todos os dias e não viram notícia desse jeito...

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  3. "Denuncismo" na imprensa - pelo menos aqui, no Brasil - parece-me implicar duas causas:
    1) Aqui neste país tudo é possível. É a terra de ninguém, em que qualquer um pode falar o que quiser, publicar como quiser que não haverá qualquer punição. Não há órgão/estância/departamento capaz de fazer valer a lei.
    2) A imprensa brasileira, em muitos casos, é irresponsável justamente porque não é moderna. Protege, persegue, é corporativista, pérfida, desonesta.

    Seu blog, ao contrário, camarada, expõe a forma como a imprensa deveria agir.
    De forma direta, simples, objetiva - e honesta.
    Valeu.

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  4. É aquela coisa de "sair na frente e conseguir o 'furo'" ou ter a "fonte exclusiva" e, claro, vender jornal.

    Quando o interesse real deveria ser a notícia em si, o jornalismo puro, sem interesses comerciais, embora isso pareça utópico.

    Mas credibilidade também vende e conquista fiéis leitores.

    No Brasil, o caso da escola base foi apenas um dentre vários e vários denuncismos e achismos da imprensa. Uma certa "revista semanal" que tem como bordão "indispensável" é campeã nesses quesitos.

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  5. Muito serio esse negocio das mídias fabricando noticias do modo que bem entendem. Acho que é passível ate de grandes processos por danos morais, Imagina só o mal que faria um noticia "torta" sobre você veiculada num grande meio de comunicação?!

    Abraço

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  6. Pois esta é a teoria do Ali K.K. da Globo, intitulada "testando hipósteses".
    Coisa em que a Veja é especialista.
    Paz e bom humor sempre, mano blogueiro.
    Walmir
    http://walmir.carvalho.zip.net

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