"Atrás de" ou "à frente de"? O negócio é que furo jornalístico não existe

janeiro 23, 2008

Outro dia, por e-mail, um amigo meu, publicitário, sugeriu-me de criar uma nova frase para as campanhas do Café com Notícias. Em síntese, na sugestão dele, era de substituir a frase "Mergulhando de cabeça atrás da notícia", para "(...) à frente da notícia ou informação". Como sou muito cabeça-dura e adoro uma boa discussão, não no sentido de briga de ofensa, mas de experimentação e debates de idéias, comecei a questionar e a filosofar sobre isso.


Veja se você concorda comigo. Se não, o espaço está aberto para troca de idéias como sempre. Leia e acompanhe a minha resposta:


Amigo, vlw pela dica. (...) Mesmo assim, você levantou uma questão que eu não tinha pensado antes: sobre o uso da expressão "atrás de". "Correr atrás de", "Mergulhar de cabeça atrás de", enfim, optei por usar essa expressão por simbolizar o quanto os fatos/acontecimentos acontecem de forma instântanea, tão rápidos, que o jornalista precisa estar sempre "correndo atrás", por que a maioria dos relatos mostrados na notícia não tem como ser previstos previamente.

A sua sugestão de usar a expressão "à frente de", pelo menos para mim, transmite a idéia de algo já previsto. Como se fosse algo presunçoso e onipresente, de achar que o jornalista pode "adivinhar" onde o fato/acontecimento está para transformá-lo em notícia. Também de acompanhar ou noticiar um evento previamente combinado ou que faz parte de um cronograma de acontecimentos. Quando você "está na frente", está numa posição privilegiada, como se fosse numa corrida, entende.

Pode parecer uma declaração um tanto polêmica, mas eu não acredito em furo jornalístico. O "estar à frente de" me dá essa idéia. Porque eu ñ acredito em furo? Por que as informações, principalmente no âmbito empresarial e político, no caso das assessorias de imprensa, ou ainda de um fato exclusivo que só uma fonte importantíssima pode dar, só é passado para frente quando há um interesse maior (geralmente, financeiro, hierárquico ou relações de poder) por trás disso.

Relações de amizade ou coleguismo com a fonte, ajudam muito a transmitir um fato ou acontecimento primeiro, em comparação a outros veículos de comunicação, por exemplo. Pode ser uma relação de confiança entre a fonte e jornalista, ou às vezes até mesmo uma pegadinha. Sem apuração e pesquisa é complicado passar um suposto "furo" para o público. Pode custar o seu emprego, a sua credibilidade e até o seu nome no mercado. Nos lugares que já trabalhei, a ordem era para que qualquer fato/acontecimento, mesmo que seja vindo de uma fonte oficial, como o governo por exemplo, DEVE ser checado antes de ir ao ar.

Neste exemplo que levantei, todos os veículos de comunicação recebem o mesmo release do Governo. Se apurar os dados e conferir que a informação procede e, por acaso, você passar isso primeiro, significa um furo? Ou ainda passar essa informação sem checar, com dados incorretos ou incompletos significa furo? O fato é que todos os veículos tem a mesma informação; e se bobiar até as mesmas fontes. Eu considero o furo jornalístico uma inocência. Sempre valoriza a empresa na qual o jornalista trabalha ou queima o filme de quem passou um dado errado. Até a suposta "exclusividade" pode ser questionada. Isso dá pano pra manga pra gente ficar debatendo um tempão...hehehe

Por isso tudo, quando vc deu a sugestão de usar a expressão "a frente de", exitei. E comecei a pensar em tudo isso. Não quero parecer o dono da verdade, é apenas a minha opinião. (...) Mas respeito a sua também. Obrigado pelo toque e pela promoção do debate!

Abraço,

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Viagem ou não o debate está aí.


Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.


Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

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