Reportagem Especial - Belo Horizonte viveu semana de caos

novembro 11, 2007

Nessa última semana de tragédias, a apuração bem feita valorizou a competência do jornalismo mineiro



Vendedor de loja de informática é assassinado por causa de um chip de celular. Rapaz mata a 13 tiros a namorada após o término do relacionamento. Assaltantes mantém uma família refém por 5 horas e se assustam com a repercussão do crime. Por incrível que pareça, nessa última semana (05/11 a 10/11), essas notícias foram os destaques dos principais veículos de comunicação de Minas Gerais.

Certa vez ouvi, de um jornalista famoso, que "o nosso Estado não é uma Praça interessante para as emissoras de TV que tem programação nacional". No telejornalismo, Praça é um termo que significa o lugar onde as emissoras matrizes (Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!) possuem filiais. Pois bem, tal afirmação não é um absurdo? Protesto, como jornalista e telespectador. Lógico. Só nesse mês, não só as manchetes que citei acima, mas principalmente, o escândalo da adulteração do leite foram manchetes em todos os noticiários nacionais.



Minas Gerais rende notícia. Ou melhor, nosso estado é notícia. A afirmação desse jornalista famoso, na época, é para justificar o pouco investimento das emissoras de TV no telejornalismo local. Essa situação está mudando. A TV Globo Minas sempre teve uma boa estrutura para cobrir muito bem todo Estado e de uns tempo pra cá ganhou concorrência. Pra falar a verdade, ela tem dado muita "barrigada" rídicula por não fazer uma boa apuração e soltar qualquer coisa em nome do furo jornalístico. No telejornalismo, barrigada significa um erro de apuração que compromete a credibilidade dos veículo no qual os jornalistas trabalham.


Já a TV Alterosa, afiliada do SBT, investiu não só no jornalismo local, mas na linha de show com vários segmentos interessantes e está se firmando, com o apoio da Sisap Produções, um novo expoente para a TV regional em Minas Gerais. Nesse ano também, a TV Record Minas deu um salto largo em investimentos, reforçou o jornalismo local, mudou a linha editorial e criou novos telejornais. A Rede TV! ainda está se estruturando, tanto nacionalmente como na parte regional, e em breve, quem sabe, fará uma boa cobertura. Já a TV Band Minas, não acordou para a importância do telejornalismo local, e faz a pior cobertura, num modo geral - possuí até bons profissionais no seu quadro de jornalistas, mas ainda está muito aquém de um padrão razoável de qualidade para uma boa cobertura.


Uma ressalva impontatíssima: a Rádio Itatiaia, que possui grande audiência na cobertura jornalística local, é referência de notícias bem apuradas em toda nosso Estado e sempre está a frente dos fatos com absoluta competência. De certo, a Itatiaia pode até ser sensacionalista em algumas coberturas, mas é referêrencia, não podemos negar.


Nessa última semana, os veículos locais tiveram um prato cheio. E os noticiários nacionais se voltaram para Minas Gerais, que deixou de ser somente a terra do pão-de-queijo, e foi vista como um lugar onde existem problemas de criminalidade e segurança pública. Na segunda-feira (06/11), o vendedor de uma loja de informática da área central de BH, Charles Gonçalves Viana, 25 anos, foi baleado por se recusar a entregar o ship do celular dele que possuia informações pessoais. O circuito interno de vídeo da loja filmou toda ação dos criminosos.

Tudo aconteceu quando dois homens, entre eles um menor de idade, entraram em uma loja de informática no centro de Belo Horizonte, realizaram um assalto, prenderam os vendedores no banheiros, balearam um dos vendedores e, antes de deixar a loja, pararam no caixa e levaram cerca de R$ 400. Em entrevista, o sargento Rodnei Augusto Oliveira, do 1º BPM, afirmou que as gravações mostram com precisão o rosto dos autores. Até o fechamento desta edição, Charles Gonçalves Viana se encontra internado em estado grave no HPS João XXIII.


Covardia? Você ainda não viu nada. Na noite de terça-feira (07/11), outra tragédia entrou na pauta dos jornais mineiros. O estudante do segundo período de direito Roberto Márcio Marra, de 24 anos, assassinou a namorada Érica Alves Arante, de 22 anos, com 13 tiros, no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha. Logo após o ocorrido, o universitário se jogou da janela do nono andar do prédio do Centro Universitário Newton Paiva, local onde estudava, localizado na avenida Carlos Luz, no bairro Caiçara. Nessa cobertura, os veículos de comunicação se depararam com a história do suicídio - que pela ética profissional, é pouco divulgado por ser uma fato que pode, de acordo com alguns autores de Manuais de Jornalismo, incentivar outros casos e, numa representação mais religiosa, pode até representar falta de moral cristã. Nessa caso, o suicídio foi algo a mais na tragédia - que já era motivado por um assassinato anterior.


E por último, nesta quinta-feira (08/11), três pessoas foram feitas reféns durante cinco horas e meia, por dois homens armados com um revólver. Por volta das 10h, eles invadiram a residência da gerente bancária Cátia da Consolação Loureiro, de 43 anos, no bairro Renascença, região Nordeste de Belo Horizonte. Ela trabalhava no momento do incidente. Foram rendidos o marido dela, o corretor de seguros Sérgio Machado, de 45, a filha deles, Laura Loureiro, de 14, e a empregada da casa, Arlene de Fátima Pacheco, de 25. A PM chegou a levantar a hipótese de que os criminosos planejavam assaltar a agência do banco Real onde Cátia trabalha, na região Centro- Sul da cidade. Mas, logo depois, a hipótese foi descartada, visto que os bandidos estavam mais "perdidos do cego em tiroteio".


No entanto, após a liberação dos reféns e a rendição dos assaltantes, às 15h30, o comandante do Policiamento Especializado (CPE), coronel Sandro Teatini, disse em entrevista, que Alisson Júnior de Oliveira, de 21, e Paulo Dias Cavalcanti, de 20, pretendiam apenas roubar a residência da família, que se encontrava com o portão aberto e eles acreditavam, pela fachada da casa, ser uma família de posses. Graças a ação dos vizinhos, que percebram uma movimentação estranha na casa, a PM foi acionada e os bandidos foram pegos de surpresa na hora em que iam deixar o imóvel. Ao se depararem com os policiais, os criminosos afirmaram que apenas usaram a família como "escudo" para preservarem as vidas deles e que não queriam seqüestrá-los, somente assaltá-los. O estranho é que esses criminosos chegaram até a negociar com a PM, fazer exigências absurdas, como a presença do Governador ou levar pizzas, refrigerantes e cerveja para dentro da casa, mas nenhuma delas foi atendida. No final, eles dão entrevista e falam que não fizeram seqüestro...faça-me o favor!


Nesse caso da família que ficou refém, a apuração salvou toda cobertura. Lógico que tivemos excelentes repórteres a frente dessas notícias, mas quero parabenizar os apuradores das diversas redações de jornais mineiros que souberam ter calma e "não jogaram informações no ventilador", simplesmente para ter um furo jornalístico. Aliás, o furo não existe. É uma "lenda urbana" no jornalismo, criada pelos americanos, no qual o nosso jornalimo sofreu (ou sofre) vasta influência. Quer dizer, é uma maneira de chamar a atenção do telespectador para se ter audiência, em linhas gerais. Bons apuradores sempre estão por dentro de tudo e sabem filtrar para, dessa forma, levantar a bola para que a produção realize um bom trabalho e os repórteres possam estar a frente de uma boa cobertura. Realmente, me desculpe os outros Estados do Brasil, mas Minas Gerais é uma EX-CE-LEN-TE Praça. Apesar das tragédias...ninguém as quer...mas sejamos realistas: os jornalistas não são "urubus" e não vivem somente disso. Prova maior, é que existe diversas outras coberturas fora a da Policial. Entretanto, se a vida nos dá limãos, façamos uma limonada....rs...servida também com o pão-de-queijo que só os mineiros têm...rs



Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.





Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

4 comentários

  1. De fato os jornalistas fizeram a festa com tantas noticias, sou parente das vitimas do "sequestro" e estive lá o tempo todo com outros familiares esperando noticias, e os jornalistas não davam trégua,concordo que fizeram um trabalho bem feito, embora achar também, que deveriam repeitar mais as dores das pessoas envolvidas, muitos perderam a noção e ficaram em cima da gente.

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  2. Oi, Cackau!

    Que depoimento bacana...é sempre bom ouvir os dois ou mais lados da história.

    Concordo com vc: tem jornalista que não respeita a dor dos familiares e os vê simplesmente como fonte...somos tds seres humanos, antes de qualquer coisa.

    Adorei o q escreveu, volte sempre!

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  3. Sr. Veroni mandando ver nas análises! Abraço!

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  4. É Veroni, concordo com as barrigadas da senhora Globo Minas. Vc deve ter visto no meu blog... Agora eu acho que o jornalismo mineiro poderia dar uma guinada maior. Chega de RJ e SP nas nossas vidas. BH pode muito bem gerar um jornal para o país a partir de MG!

    Abraço!

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