#ReportagemEspecial: Professor de pós do UniBH mostra aos alunos que tudo na rua é uma pauta
setembro 05, 2007O jornalista e professor Eduardo Costa levou os alunos da pós-graduação do UniBH a um tour pela capital mineira e aproveitou para mostrar que o comunicador deve estar atento aos problemas da cidade. |
*Por Cleison Richard e Wander Veroni
Belo Horizonte é uma diversidade, antes mesmo de ser uma metrópole. Pelo fato de ser uma cidade, com mais de 2 milhões de habitantes, a capital mineira possui cheiros, cores e pessoas completamente distintas umas das outras. Foi pensando nisso, que o jornalista e professor Eduardo Costa quis propor, aos alunos da turma 7, do curso de pós-graduação "Criação e Produção em Mídia Eletrônica: Rádio e TV", do UniBH, uma aula diferente: mostrar os contrastes da cidade de perto, como um repórter de rua.
“Tudo na rua é uma pauta. O bairro que era residencial e passa a ser comercial, a criminalidade nas ruas, a realidade dos catadores de papel, enfim, o jornalista tem que ser o porta-voz da sociedade”, afirma Eduardo.
A primeira reunião de pauta foi na rua. O professor apresentou os alunos o roteiro e, em seguida, eles puderam observar como o bairro Lagoinha, que já foi reduto da boemia, se transformou num bairro comercial e com poucos moradores. Eduardo chamou um senhor que passava na rua, que se identificou como Paulo, para conversar com o grupo de alunos.
Paulo disse que é morador antigo do bairro e que a Lagoinha há muito tempo já não é mais boêmia, mas sim perigosa. “Hoje em dia, é perigoso andar à noite, por volta das 21h, nos becos ou nas ruas do bairro por que os marginais atacam sem medo por que sabem que não serão punidos”.
Logo depois, Eduardo levou à turma em direção a passarela da Lagoinha, que liga o bairro ao outro lado da Avenida Antônio Carlos. Foi possível constatar o mau cheiro da passarela pelo fato de muitos moradores de rua fazerem suas necessidades básicas no local. Também foi possível observar que muitos moradores não utilizam a passarela com medo de criminosos.
Uma moradora, também abordada por Eduardo, que não quis se identificar, confessou que a usa pouco, mas usa. E que só sente confiança de atravessar quando ver que há outras pessoas também fazendo o percurso por considerá-lo arriscado. O professor, do alto da passarela, chamou atenção dos alunos sobre as pessoas que atravessam a avenida, por baixo do viaduto, no qual o risco de um acidente é muito maior – o que contribuí para o número de acidentes no trânsito, frequentemente noticiado pela imprensa.
Ao sair da passarela a turma de deparou com uma patrulha da polícia militar. Curioso, o professor abordou os policiais. Tratava-se de uma busca por uma possível taxista que servia de aviãozinho para o tráfico de drogas. Uma prática que, segundo os PMs está se tornando constante em BH e que os alunos puderam visualizar de perto e obterem informações informais sobre a diligência. “O último tipo de crime identificado na “região boêmia” de Belo Horizonte é a ação de taxistas nas localidades da Praça Rio Branco, mais conhecida como “Praça da Rodoviária”.
Nesta região, travestis que agem como traficantes de drogas contratam os serviços de taxistas que levam o “produto” até os consumidores na favela Pedreira Prado Lopes. Outro tipo de ação dos taxistas é a facilitação da fuga dos marginais após cometerem os delitos. Neste último caso, na maioria das vezes, fica difícil para a polícia vincular o taxista ao crime. Normalmente estes alegam que achavam ser uma “corrida” normal”, afirmou o soldado da diligência.
Após o esclarecimento dos policiais, a turma se dirigiu a Praça Vaz de Mello, mais conhecida como Praça da Lagoinha. Bem na esquina, Eduardo chamou a atenção dos alunos para um grupo de catadores de papel que vendia o material colhido nas ruas da cidade para o depósito. Com menos de dezessete reais, João e sua esposa Vanilde, passam o dia inteiro com o carrinho pelas ruas, a procura de papel.
A fome e a condição de usuário de drogas, o deixou um pouco tímido, mas mesmo assim ele conversou com os alunos que se solidarizaram com a vida sofrida de João. “É muito triste ver de perto pessoas que não tem o que comer e que ainda são usuárias de drogas. A realidade social machuca, nos revolta e me faz perceber que devemos agradecer pelo pouco que temos”, diz a jornalista Karina Castro, que faz parte da turma.
Ao terminar a conversa, a turma se dirigiu para o Shopping Popular Oiapoque, para ver de perto o local que a administração pública definiu para ser o centro comercial dos vendedores ambulantes da capital, mais conhecido como Camelôs. Eduardo deu 25 minutos de intervalo para que os alunos pudessem visitar o espaço e conversar com os feirantes.
“É a primeira vez que entro no Oipoque. Tinha curiosidade de ver como é que e nunca tive oportunidade pois temia pela a minha segurança. Vi que estava completamente errada. O local é muito tranqüilo, apesar do número de pessoas. É impressionante o número de seguranças espalhados pelo shopping”, afirma a administradora Valquíria Nunes, que resolveu fazer o curso com o intuito de mudar de área de atuação profissional.
Agora a próxima visita da turma foi rumo a Rua Guaicurus. Bem na esquina com a Rua Rio de Janeiro, o tenente Forreaux e o delegado Edson Moreira, aguardavam a turma para uma conversa sobre a criminalidade no local. “A região da Rua Guaicurus, também conhecida como “baixo centro” ou “zona boêmia”, é considerada uma favela encravada no centro da cidade.
Os hotéis baratos (baixo custo de hospedagem) facilitam o consumo e o tráfico de drogas. A movimentação das ruas da capital não é fator preponderante para aumento ou diminuição da violência. Tanto uma rua muito movimentada quanto uma rua de pouco acesso possuem o mesmo grau de possibilidades de violência”, diz o Tenente Forreaux.
A Guaicurus é popularmente conhecida como ponto de prostituição. Eduardo Costa, para não perder a deixa, quis mostrar também, de perto, essa realidade aos alunos. “A região da Rua Guaicurus, na década de 1990, foi palco de ação do chamado “Esquadrão do Torniquete”. A ação dos policiais que formavam este grupo de extermínio iniciou nas esquinas da Rua São Paulo com Rua Guaicurus.
As vítimas eram abordadas na região do “baixo centro” e levadas para a região norte da capital mineira onde, com o uso de arames, eram mortos através de estrangulamento. 95% destas abordagens aconteciam à noite. O que não acontece, em maior número, nos dias de hoje”, afirma o delegado Edson Moreira.
Logo depois a visita aos prostíbulos, à turma fez uma breve parada para o almoço, no bairro Bonfim, próximo aos estúdios da Rádio Itatiaia, local em que o grupo entrevistaria o Ministro das Comunicações Hélio Costa, dentro do programa “Chamada Geral”, comandado por Eduardo Costa. Alguns alunos fizeram um pequeno lanche na cantina da rádio, já outros puderam saborear a comida caseira servida por uma simpática senhora, próximo a emissora.
Assim que os alunos entraram no estúdio, o Ministro os cumprimentou e se mostrou solicito às perguntas, tanto dos ouvintes, quanto a dos alunos. Com exclusividade a Rádio Itatiaia, Hélio Costa disse que os Correios, em breve abrirá uma companhia de aviação para serviços de entrega e que a empresa já está disponibilizando serviços para que deficientes visuais possam conferir as correspondências deles em braile ou com a leitura de um terceiro devidamente cadastrado e funcionário dos Correios.
Com o término do programa, os alunos se reuniram para trocar experiências sobre o encontro, na quadra ao lado da Rádio Itatiaia. “É muito bom que os alunos, que também são jornalistas, possam trocar experiências e pontos de vista sobre a nossa experiência de hoje. Cada turma que faço o tour é uma troca de aprendizado”, confessa Eduardo.
“Aprendi a ver a rua como um local de fonte de trabalho. Às vezes, só dentro da redação, o jornalista não tem a dimensão do que pode explorar como notícia”, afirma o jornalista Brenno Corrêa. No final, os alunos chegaram a conclusão que uma especialização em mídia eletrônica, com uma prática tão marcante de reportagem, ficará na memória de todos e aumentará a bagagem profissional de cada um.
Crédito das fotos: *Luciana Fuertes.
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*Observação: Cleison Richard, Wander Veroni e Luciana Fuertes são jornalistas e alunos da turma 7, do curso de pós-graduação "Criação e Produção em Mídia Eletrônica: Rádio e TV", do UniBH.
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Jornalista
2 comentários
Excelente matéria. Vocês brilharam!!!
ResponderExcluirConcordo com a Karina! A matéria de vocês ficou ótima! Parabéns!
ResponderExcluirAproveito para falar que também adorei a aula desse dia! Foi uma boa oportunidade para a nossa turma se unir ainda mais!