Apuração, denuncismo e muita lenha na fogueira

agosto 28, 2007

Neste último domingo, no "Domingo Espetacular", da TV Record, uma reportagem me chamou atenção: o caso Thales Ferri. Não pelo fato do promotor acusado viver livremente, ir a academia, supermercado e se dizer inocente. Não é isso. A TV Record há muito tempo, vem usando o recurso da câmera escondida. Alguns jornalistas concordam com essa prática, outros não.

Mas o que é preciso deixar bem claro que detetive e jornalista são profissões distintas. Tudo bem que ambos trabalham com apuração, com informações sigilosas e lidam diretamente com o poder, mas é preciso ter um limite. Sempre penso nisso quando vejo uma matéria que usa este recurso: a falta de privacidade é cruel. Inflamar a sociedade é perigosamente útil...a quem concorde ou discorde?

Mas há outro ponto: a câmera escondida já ajudou muitos casos serem resolvidos. Flagrantes de políticos corruptos, traficantes vendendo drogas a luz do dia, e por aí vai...Voltando ao caso do promotor Thales Ferri, o que me chama atenção é como a emissoracolocou essa câmera. Editorialmente, até entendo que seja interessante mostrar que ele leva uma vida normal, apesar de ser acusado de cometer um crime. ACUSADO. Ele ainda não foi julgado e não pode ser exposto como criminoso. O cuidado jornalístico tem que estar justamente nessa colocação.

De acordo com o Jornal de Itupeva, "o promotor de justiça Thales Ferri Schoedl, é acusado de matar o jogador de basquete que atuou em Jundiaí, Diego Mondanez, no mês de dezembro de 2004, em Bertioga. Diego tinha 20 anos quando foi morto pelo promotor, que alegou à Justiça defesa de sua namorada, que teria sido alvo de “cantada” por parte dos dois rapazes, em uma praia na cidade de Bertioga. O Ministério Público alegou que houve falha na distribuição do processo. O promotor reivindica cargo vitalício, o que lhe permitiria ficar livre do Tribunal do Júri, para ser julgado como qualquer cidadão pelo crime de homicídio contra Diego e também a tentativa de homicídio contra o jovem Felipe Siqueira Cunha de Souza, de 23 anos, que sobreviveu após a briga. O promotor recebe salário de R$ 10.500,00 por mês, graças à uma decisão do Tribunal de Justiça, que o recolocou-o ao cargo e o processo será no dia 29 de agosto deste ano".


No orkut, de acordo com a matéria da TV Record, foi criado uma comunidade que tenta explicar o ocorrido. Nos tópicos, a polêmica rende. "Ninguém age em legítima defesa e dispara 12 tiros numa outra pessoa para se defender", diz um internauta. O fato é que não somos peritos. Nãoestavámos lá pra saber o que realmente aconteceu.

Não quero defender Thales. Não é isso. Muito menos tomar partido da família, como a matéria da TV Record fez por que ainda não houve condenação. Os fatos precisam ser analisados e os dois ou mais lados ouvidos. Todo mundo sabe como a imprensa pode ser tendenciosa quando quer. A namorada de Thales foi a mais exposta na matéria. Teve seu profile e fotos do orkut expostas. E, aprentemente, ela foi o pivô de toda esssa tragédia.

Tirando esse lado sensacionalista, a matéria fez uma denúncia interessante: o promotor que foi afastado não deveria estar recebendo o salário e ser proíbido de exercer o seu cargo até que tudo seja resolvido. É o mais ético juridicamente, concordam? O caso parece um filme policial: quem é que está falando a verdade? São quatro protagonistas: o promotor, a namorada e os dois amigos. Um dos amigos morreu. Só restaram três. Cada um dos três que restaram apresentaram uma versão diferente à polícia. O final dessa história.....tchan-tchan-tchan....aguarde os próximos capítulos!



Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.




Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

1 comentários

  1. A profissão repórter é tão investigativa quanto a de um detetive e muitas vezes pode ser benéfica à sociedade. Como você mesmo disse este recurso já ajudou casos a serem resolvidos. Basta ter bom senso para usar a câmera escondida e é o que falta em muitos profissionais e até mesmo amadores: um limite! Acho de péssimo gosto as pessoas invadirem a vida de outras para vender produto inútil, como o caso da Cicarelli. Quem não viu aquele vídeo? Mas que bem ou mal fez para a sociedade? Já no caso de figuras públicas suspeitas de comprometer efetivamente a sociedade, não vejo problema nenhum em investigá-la e usar a câmera escondida. Também é uma forma de vender produto, mas com certeza esse fará alguma diferença na vida de alguém. Por mim haveria uma câmera escondida em cada gabinete, em cada esquina do nosso país, porque tem mau caráter em todos os lugares!

    O caso Thales Ferri é só mais um entre outros que já vimos e mais outros que ainda veremos. A justiça na classe média alta no Brasil é pura fantasia. A impunidade reina! Concordo plenamente com quem disse que ninguém atira 12 vezes em uma pessoa em legítima defesa. A ira e o gosto do poder nas mãos tomaram conta desse “acusado”. Ainda recebe R$ 10.500,00 por mês? Inacreditável!

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