#Adultização: Vídeo de Felca, no Youtube, denuncia a perigosa fronteira entre infância e a exploração digital

agosto 13, 2025


Se você ainda não ouviu falar de adultização, provavelmente caiu de paraquedas no trending topic da vez: e olha que o impacto foi tamanho que nem o Jornal Nacional, da TV Globo, teve que repercutir o assunto. 

adultização ganhou os holofotes após o vídeo de 50 minutos, publicado pelo influenciador Felca (Felipe Bressanim Pereira), ter ultrapassado a marca de 44 milhões de visualizações em menos de duas semanas. O vídeo virou pauta em diversos noticiários, perfis nas redes sociais, portais, blogs e programas de TV. 

Para você ter uma ideia, o termo adultização uniu políticos da esquerda e da direita em uma rara trégua ideológica, quando Érika Hilton e Nikolas Ferreira elogiam o mesmo vídeo, sabemos que estamos diante de um fenômeno que furou a bolha. Abaixo, assista ao vídeo do Felca sobre adultização:

Mas, afinal, o que é essa tal adultização? Trata-se do processo de impor a crianças e adolescentes comportamentos, valores ou estéticas tipicamente adultos. Desde a publicidade brasileira que explorava a sensualidade de modelos mirins em comerciais de moda e TV nos anos 1990, até vídeos atuais que colocam meninos e meninas para reproduzir danças sexualizadas nas redes sociais, a prática sempre existiu. 

A diferença é que, com a internet, a velocidade e o alcance se multiplicaram. Se antes o efeito se diluía entre horários restritos de TV, agora ele se eterniza em algoritmos que replicam e recomendam conteúdos sem descanso. O mérito de Felca foi escancarar esse “lamaçal” de forma quase experimental. Ele criou um perfil do zero e começou a curtir fotos de crianças em poses sugestivas. 

O resultado? O algoritmo das redes sociais, como um cão farejador treinado, rapidamente passou a oferecer cada vez mais imagens semelhantes, simulando o percurso de pedófilos virtuais e revelando o quão cúmplice a própria tecnologia pode ser na engrenagem de redes de exploração. Em entrevista, Felca admitiu que o processo foi aversivo: “Dava vontade de chorar, de vomitar, é terrível”. Não à toa, hoje ele anda de carro blindado e cercado de seguranças.

É impossível falar de adultização sem lembrar do papel da publicidade. Quem não recorda de campanhas que colocavam crianças vestidas como adultos sedutores, carregando maquiagem pesada e poses insinuantes? A crítica, na época, era abafada sob o pretexto da “liberdade criativa”. 

Hoje, o discurso do entretenimento e do engajamento digital reproduz a mesma lógica: crianças vistas como mini influencers, monetizando visualizações a qualquer custo. O problema é que, em vez de bonecas ou comerciais na TV, agora o palco é global e acessível a qualquer estranho com más intenções.

Daí a pergunta inevitável: por que crianças não devem atuar como criadoras de conteúdo online? Porque não são adultas, simples assim. A infância deveria ser um território de experimentação segura, não um set de gravação 24 horas. 

Expor meninos e meninas em contextos sexualizados ou de conotação ambígua abre a porta para predadores digitais. A fronteira entre o “fofo” e o “perigoso” é mais tênue do que muitos pais imaginam. Basta lembrar que, ao postar a coreografia de uma criança de 8 anos no TikTok, por exemplo, um clique inocente pode colocá-la em playlists de pedófilos mundo afora.

E se você acha exagero, basta observar como funcionam as redes de pedofilia. Não estamos falando apenas de fóruns escondidos na deep web. Os algoritmos de plataformas abertas, quando estimulados por curtidas e buscas específicas, criam verdadeiros corredores de recomendação. Uma imagem inocente pode ser compartilhada, recortada, descontextualizada e transformada em material de exploração. Ao expor seus filhos, pais inadvertidamente alimentam essa máquina.

O impacto psicológico também não pode ser subestimado. Crianças expostas precocemente à sexualidade: seja em campanhas, seja em vídeos online, podem carregar traumas por toda a vida. A vergonha, o constrangimento e a revitimização constante (afinal, a internet não esquece) afetam autoestima, confiança e desenvolvimento emocional. É como se a infância fosse sequestrada, deixando no lugar uma caricatura adulta, sem as ferramentas necessárias para lidar com os próprios desejos ou com os desejos alheios.

O caso de Hytalo Santos é emblemático. Dono de mais de 20 milhões de seguidores, ele usava a “turma do Hytalo” para promover danças e desafios com adolescentes em contextos sexualizados. Após a denúncia de Felca, a Justiça determinou a suspensão de seus perfis e, posteriormente, sua prisão. A lição que fica? Se até perfis gigantes podem cair, é porque o problema não está escondido apenas nas franjas da web. Ele está bem no feed de milhões de brasileiros, com direito a monetização e aplausos.

Nesse cenário, resta perguntar: quais cuidados os pais devem ter? O primeiro é entender que redes sociais não foram projetadas para crianças. Ponto. Plataformas como YouTube, TikTok e Instagram são ambientes desenhados para prender a atenção de adultos, com publicidade segmentada e estímulos constantes. Colocar crianças nesse ecossistema sem supervisão é como deixá-las sozinhas em uma festa onde todos são estranhos. O segundo cuidado é o diálogo: conversar sobre limites, privacidade e riscos é essencial para que filhos não confundam likes com afeto.

A repercussão do vídeo do Felca trouxe ainda uma boa notícia: o tema finalmente chegou ao Congresso Nacional, em Brasília-DF. Deputados e senadores já falam em projetos de lei para responsabilizar plataformas digitais. Até a primeira-dama, Janja, se manifestou publicamente. O apelido de “Lei Felca” já circula nos corredores da capital federal, sinalizando que, desta vez, talvez o escândalo se converta em regulação. Será? Assista a reportagem do Jornal Nacional:

No fim das contas, por um lado, aplaudimos a coragem de Felca em mergulhar no que muitos preferem fingir que não existe. Por outro, precisamos refletir sobre nosso próprio papel como consumidores de conteúdo digital. Afinal, a adultização não acontece apenas quando um influenciador irresponsável explora menores. Ela também se perpetua toda vez que clicamos, assistimos, curtimos ou compartilhamos sem questionar.

Se o vídeo de Felca gerou incômodo, ótimo. É sinal de que cutucou feridas que não podem mais ser ignoradas. A adultização é um problema antigo, mas agora temos números, visibilidade e indignação coletiva. Resta saber se teremos, também, vontade política e responsabilidade social para transformar essa comoção em mudança real. Porque a exploração de crianças e adolescentes, definitivamente, não pode ser trend.




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Jornalista

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