#CaféLiterário: Em livro, Maya Eigenmann apresenta os benefícios da educação respeitosa na família

novembro 02, 2022


Você já ouviu falar em educação respeitosa? Também chamada de educação consciente, educação saudável ou educação positiva, a ideia central "é de que em uma relação existente entre um adulto e uma criança, ambos têm igual valor"

De início, pode parecer ser subversivo, mas faz todo o sentido. Principalmente, quando queremos passar para os mais jovens um exemplo de diálogo, respeito e empatia. Algo que rompe completamente com a cultura do medo, da raiva e do castigo, método que foi muito utilizado em gerações anteriores e que, hoje em dia, já está sendo revisto e abolido.

Para falar mais sobre este assunto, conversamos com a pedagoga e educadora parental Maya Eigenmann, autora do livro "A raiva não educa. A calma educa”, da Editora ‏Astral Cultural (176 páginas). Para comprar o livro, clique aqui. No mês passado, ela esteve em Belo Horizonte (MG) para o lançamento da obra na Livraria Leitura, do BH Shopping

O livro "A raiva não educa. A calma educa” atingiu o topo dos mais vendidos da Amazon ainda na pré-venda e também figurou na lista dos mais vendidos da Revista Veja e do Publishnews. Compartilhando ensinamentos sobre a educação respeitosa em suas páginas no Instagram e TikTok, @maya_eigenmann conquistou mais de 1,5 milhão de seguidores.

A pedagoga, que é sócia da Escola da Educação Positiva, nasceu em Zurique (Suíça) e, atualmente, mora em São José do Rio Preto, município do interior do estado de São Paulo. O seu livro tem o prefácio assinado pela chef Paola Carosella, que tatuou a frase “A calma educa”, inspirada nos ensinamentos de Maya. 

Na obra, a autora, que é mãe do Luca e da Nina, propõe a reeducação dos adultos, convidando o leitor a pensar em outras formas de educação que não a autoritária, com o objetivo de desenvolver saúde emocional tanto para as crianças, quanto para quem educa. Foi em 2019, através das redes sociais, que ela se interessou pelo tema e começou a estudar a respeito, baseando-se nas obras de Dr Gabor Maté, Alice Miller e Isabelle Filliozat. 

"Ao longo do livro os leitores vão perceber que a educação respeitosa, na verdade, não tem como foco principal as crianças, mas sim os adultos. Somos nós que precisamos ser reeducados com respeito e amor para que possamos propagar uma educação saudável às futuras gerações", explica Maya. Abaixo, confira a entrevista na íntegra:

1) No livro, você conta que aprendeu a educar pela raiva e não pelo amor, até que conheceu a “educação respeitosa”. Como isso a fez virar a chave tanto na vida pessoal, quanto na profissional?

A primeira coisa que percebi é que não tinha a mínima ideia do que significava respeito de verdade, respeito pela humanidade do outro. Isso tem muito a ver com empatia, de entender como o outro está, de onde essa outra pessoa vem, o que já aconteceu na vida dela. Então, isso me fez virar a chave em relação a absolutamente tudo, inclusive em relação a mim mesma. De ser mais compassiva comigo, de conseguir olhar para mim com mais intimidade e perceber melhor como eu sou resultado da minha história também. 

2) Na sua avaliação, as escolas (e os educadores) estão preparadas para adotar a “educação respeitosa”. O que elas podem fazer para colocar isso em prática no dia a dia?

Eu não acredito que os educadores estejam preparados ainda. Qualquer escola pode adotar, mas a formação pedagógica não abre espaço para isso ainda, na maioria das faculdades nem se fala sobre educação respeitosa. A pedagogia ainda é vista como algo muito técnico, mais voltado para ensinar números, a escrever, letra cursiva, letras garrafais, etc. Pouco se fala sobre as emoções das crianças e sobre como respeitá-las. 

O que as escolas podem fazer para colocar em prática no dia a dia envolve uma reestruturação do sistema escolar como um todo. Em repensar a quantidade de crianças em sala de aula, por exemplo, repensar a formação dos professores, como dar um apoio contínuo de aprendizado para esses profissionais, envolve palestras para os pais, então é um projeto muito grande, mas que precisa ser iniciado mesmo que aos poucos. 

Um exemplo disso é o que eu tenho feito na escola das minhas crianças, onde organizamos uma sequência de treinamentos só com os professores primeiro e agora tenho feito também palestras abertas para os pais da escola. Pequenas mudanças como essas já podem ter um grande efeito. 

3) Quais são os benefícios de uma relação mútua de respeito entre pais e filhos? O que é preciso fazer ou ceder para essa construção?

Na verdade, o benefício é o respeito em si, esse é um direito de qualquer ser humano. O que a gente tem feito até então é cancelado, aniquilado esse respeito e a gente precisa agora construí-lo de verdade, já que ele nunca existiu. Esse respeito, esse apego seguro, a segurança que a criança pode vir a ter em seus pais é o fundamento da sua saúde mental, física e emocional

O que a gente precisa para fazer essa construção são principalmente duas coisas. Tomada de consciência, que é perceber que o que a gente tem feito até agora é extremamente prejudicial e precisa mudar e, em segundo lugar, buscar informação, porque para tudo na vida estudamos, menos para criar a futura geração de humanos

4) Adultos que possuem um excesso de controle são frutos de uma educação baseada no medo, na humilhação e na raiva. Como reconhecer que é preciso mudar e aprender a aceitar mais as diferenças e, principalmente, os próprios erros?

No meu trabalho percebo que muitos, na verdade, não percebem que eles precisam mudar e aprender a aceitar mais as diferenças. Parece que são adultos que estão acostumados com a violência e que ela simplesmente faz parte da essência dessas pessoas. Faz sentido até em termos neurológicos, porque de fato essa informação fica gravada em nosso cérebro e em nosso corpo. 

Meu trabalho tem sido, em parte, nessa direção de despertar nas pessoas esse incômodo e mostrar que é um absurdo o que a gente faz com as crianças. Através do livro e do meu conteúdo na internet busco provocar reflexões e deixar as pessoas desconfortáveis com as coisas como elas são nesse momento. A partir daí a gente precisa mesmo estudar, é urgente.  

5) Uma pergunta que muitas mães e pais fazem é como dosar a questão da autoridade, do respeito e do companheirismo durante a educação dos filhos? Existe um caminho a ser construído sem que haja raiva ou violência?

Nós adultos precisamos entender que autoridade é uma construção. Aqui não estou falando de autoritarismo, que é quando um manda no outro, mas da criança ter tanta confiança no adulto que ela se deixa conduzir por ele. Temos que entender que nosso papel como adultos é conquistar a confiança e provar, dia após dia, que somos dignos da confiança dessa criança. 

Então, não é nem questão de autoridade, eu entendo que realmente é uma questão de confiança. E é óbvio que não tenho como construir confiança na relação com alguém se eu exerço raiva e violência o tempo todo, se eu estou construindo a única coisa que é o medo. 

Não é uma questão de disputa de poder, porque é óbvio que o adulto tem mais poder na relação, mas eu não preciso provar isso para as minhas crianças. Eu vou usar o poder que eu tenho, que é a inteligência, que é um cérebro completamente maduro, a experiência de vida a favor das crianças e não contra elas. 

6) Um dos elementos da “educação respeitosa” é dos pais se colocarem como um importante elo de apoio emocional dos filhos. Muitas vezes, esses mesmos pais também possuem traumas e preconceitos que ainda não foram superados. O que fazer? Ser honesto pode ser um caminho para construirmos juntos um melhor entendimento?

Sim, é possível dar o que a gente não recebeu, porque uma vez que eu tenho uma tomada de consciência, que eu estudo sobre isso, esse conhecimento se torna meu. Nós estamos em um momento de grande ruptura, somos talvez a primeira geração que despertou para o respeito e temos o grande desafio de lidar com duas frentes ao mesmo tempo: a criança que está na nossa frente, que precisa do nosso apoio, e a criança dentro da gente, que não teve esse apoio.
Uma coisa importante nesse processo é exercer muita autocompaixão porque é muito difícil quebrar o ciclo da violência e entender que é uma informação que a gente precisa correr atrás porque não recebemos. A gente precisa estudar isso, fazer terapia, além de frequentar grupos de apoio e comunidades que pensam da mesma maneira, com espaços de desabafo, de acolhimento seguro. Isso vai ser necessário para cuidar dessas lacunas que ficaram na gente. 

7) Recentemente, você fez uma sessão de autógrafos aqui em Belo Horizonte. Como foi esse momento? O que sentiu da recepção do público?

Amei a sessão de autógrafos em Belo Horizonte. Fiquei com a sensação de que as pessoas são extremamente calorosas, o abraço delas é muito acolhedor. A recepção foi super carinhosa, como tem sido em todas as noites de autógrafo e só tenho a agradecer pela generosidade das pessoas em relação a mim e ao meu trabalho. 

8) Para finalizar, gostaria que você falasse um pouco do seu livro para quem ainda não te conhece e do quanto ele pode ajudar não só pais, como educadores, a se tornarem pessoas mais acolhedoras e menos autoritárias?

O meu livro é para virar chaves, essa é a missão principal dele. É para colocar o adulto numa posição de reflexão, de reavaliação e até de desconforto. Inclusive me surpreende que tantas pessoas gostem do meu livro porque ele não é muito gostoso de ler (risos). Ele veio para questionar o status quo.




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