#CineOP: 16ª edição traz memória, afeto e resgates do passado para refletir sobre o Brasil de agora
junho 14, 2021Entre 23 e 28 de junho, acontece a 16ª edição da CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto, em Minas Gerais. Com transmissão gratuita e online, o evento vai exibir 118 filmes em pré-estreias e mostras temáticas (32 longas, 06 médias e 80 curtas-metragens) de quatro países e 14 estados brasileiros. Todos estarão disponibilizados no site oficial.
Durante seis dias de evento, o público terá oportunidade de vivenciar um conteúdo inédito sobre a produção audiovisual brasileira, descobrir novas tendências, assistir aos filmes, curtir lives musicais, trocar experiências com importantes nomes da cena cultural, do audiovisual cinematográfico, da preservação e da educação, além de participar do programa de formação que oferece oficinas, masterclasses internacionais e debates temáticos.
Além disso, a edição deste ano da Mostra conseguiu uma nova parceria com a TV UFOP apresenta duas sessões e um total de oito curtas-metragens brasileiros realizados em universidades, escolas de cinema ou núcleos de formação em audiovisual.
Neste ano, ator Chico Diaz, um dos principais profissionais do teatro, TV e cinema brasileiro, desde os anos 1980, será o artista homenageado da edição. Ele esteve em alguns dos títulos mais representativos dos anos 90, década que está no centro da temática do evento em 2021. Para celebrar a carreira de Diaz, a curadoria fez um recorte de filmes que permitem um entendimento amplo da importância do ator.
Temática Histórica
Neste ano, a Temática Histórica da CineOP vai focar no cinema brasileiro da década de 1990, sob o título “Memórias entre diferentes tempos - O passado segundo as imagens dos anos 90”. A ideia é justamente encontrar os paralelos entre o período e este começo de anos 2020, a partir da constatação de que, após mais de 30 anos do fim da Embrafilme e da eleição do primeiro presidente por voto direto depois do fim do regime militar, há muitas camadas do país e do cinema, hoje reposicionadas, que foram semeadas como espécie de gênese desde aquela época.
Foi um período de extensa batalha por legitimação da produção local e pelas negociações com a iniciativa privada; uma época de grandes produções históricas que tentavam pensar o Brasil do passado e de filmes que abordavam assuntos do tecido social, olhando para as nossas mazelas com um tipo de lente espetaculoso, de forma a renovar a visão que se tinha do cinema brasileiro depois de seu sucateamento, potencializado na segunda metade dos anos 1980.
A curadoria de Francis Vogner dos Reis e Cleber Eduardo selecionou títulos representativos dentro desse recorte que permitam rendes discussões a partir da revisitação e que principalmente dialoguem com os acontecimentos ou ilustrem, diretamente em suas realizações, as contradições de então, em amplo sentido cultural ou estético.
Chico Diaz é o ator homenageado da 16ª edição da CineOP. Crédito: Léo Lara / Universo Produção / Reprodução. |
Entre filmes com ambições de um diálogo muito direto com um público desacostumado a cinema brasileiro e trabalhos profundamente autorais que, em suas particularidades, também dialogavam com referenciais populares, o que se tem é um conjunto de títulos que vão permitir ao espectador da CineOP repensar a década de 1990 dentro de novas possibilidades de conhecimento para o que se desenhava no cinema brasileiro.
Os filmes da Mostra Histórica são: “A negação do brasil” (Joel Zito Araújo, 2000), “Amélia” (Ana Carolina, 2000), “Baile Perfumado” (Lírio Ferreira e Paulo Caldas, 1996), “Carmen Miranda: Banana is My Business” (Helena Solberg, 1994), “Brava Gente Brasileira” (Lúcia Murat, 2000), “Carlota Joaquina - Princesa do Brasil” (Carla Camuratti, 1995), “Lamarca” (Sérgio Rezende, 1994), “O Mandarim” (Julio Bressane, 1995), “Yndio do Brasil” (Sylvio Back, 1995) e “Tudo é Brasil” (Rogério Sganzerla, 1998).
Mostra Contemporânea
A Mostra Contemporânea de curtas-metragens tem curadoria de Camila Vieira, que selecionou 18 títulos com propósito também de dialogar com as noções de resgate, memória, novas perspectivas do presente e experimentações com o passado.
Os títulos se espalham pelos tradicionais recortes de Cine-Praça, Cine-Teatro e Cine Vila Rica, mantendo os perfis de cada sessão. A seleção inclui documentários que partem de revisitações historiográficas para reescrever o passado do Brasil, ensaios narrados em primeira pessoa que resgatam memórias entre diferentes gerações e curtas experimentais que exploram a materialidade das imagens de arquivo.
A sessão Cine-Praça de curtas conta com “Ouro para o Bem do Brasil”, de Gregory Baltz, sobre a campanha de doações de bens pela população durante a ditadura militar; “Descompostura”, de Alline Torres, Anaduda Coutinho, Marcio Plastina e Víctor Alvino, e “República do Mangue”, de Julia Chacur, Mateus Sanches Duarte e Priscila Serejo, produzidos coletivamente em oficina no Arquivo Nacional e que propõem novos olhares para registros fotográficos históricos de fotografias de mulheres negras escravizadas e a resistência de mulheres em casas de prostituição na Zona do Mangue, do Rio de Janeiro. Por sua vez, o curta “Vai!”, de Bruno Christofoletti Barrenha, recupera a história do Corinthians, durante os 23 anos que ficou sem ganhar um título, em paralelo ao contexto da ditadura militar no Brasil, e “Uma Invenção sem Futuro”, de Francisco Miguez, trata da nostalgia da película de cinema.
Na sessão Cine Vila Rica, os filmes tratam de proximidades familiares: “Foi um Tempo de Poesia”, de Petrus Cariry, resgata imagens de Patativa do Assaré registradas por seu pai, Rosemberg Cariry; “Memória Presença”, de Gabriel Carneiro, reposiciona retratos antigos de sua avó em imagens atuais de vários ambientes de espaço doméstico; “Trópico de Capricórnio”, de Juliana Antunes, que reflete sobre si mesma a partir de imagens de infância; e “Novo Rio”, de Lorran Dias, que entrecruza lembranças de sua mãe com as dos nordestinos que moram na Favela da Maré, no Rio de Janeiro; “Fôlego”, de Sofia Badim, homenageia a mão da diretora, a atriz Solange Badim, através de uma fotografia, recortes de documentos e registros sonoros; assim como “Pequenas Considerações sobre o Espaço-Tempo”, no qual Micheline Helena resgata a história materna durante a pandemia; e “O Suposto Filme”, de Rafael Conde, reflete imagens registradas, guardadas e revistas sobre o tempo, a memória e o esquecimento.
E no Cine Teatro, o recorte inclui “Igual/Diferente/Ambas/Nenhuma”, troca de videocartas entre as cineastas Fernanda Pessoa e Adriana Barbosa; “Rocio das Vagas”, de Rodrigo Faustini, que alterna ruídos de rádio com imagens em preto e branco de banhistas; “Não se Pode Abraçar uma Memória”, de Pedro Tavares, resgata imagens de chegadas de partidas de navios, bondes, trens e carros para falar de afetos perdidos; “Desvio”, de Flora Nakazone, realizado no Instituto de Artes da Unicamp em Super-8 registrados nos anos 1970; “No Verso tem um Céu”, de Jonta Oliveira, sobre memórias de juventude; e “Zona Abissal”, de Luísa Marques e Darks Miranda, distopia sobre fogo e destruição de um mundo em colapso.
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Jornalista
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