#CaféEntrevista: Livro-reportagem mostra em detalhes como foi a tragédia ambiental de Brumadinho

fevereiro 02, 2021


O desastre de Brumadinho (MG) deixou um rastro documentado de negligência com a vida humana e com o meio ambiente. A história desse crime ambiental toma as páginas de um livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”, o primeiro sobre o desastre ocorrido em 25 de janeiro de 2019. Baseado nas investigações da Polícia Federal, a obra traz informações inéditas sobre os bastidores da investigação e o cotidiano no complexo minerário. Para comprar o livro, clique aqui.

Os jornalistas  Lucas Ragazzi (Globo Minas) e Murilo Rocha (O TEMPO) foram responsáveis pela costura dessa narrativa que está documentada em relatórios internos da mineradora, trocas de e-mails de auditores externos e depoimentos de funcionários. Em entrevista para o blog da Editora Letramento, os autores contaram um pouco do processo de construção do livro-reportagem e dos bastidores da investigação. Confira:

1) Como se conta a história de uma tragédia? Quais foram os maiores desafios durante a produção do livro?

Não é fácil contar a história de uma tragédia humana como a de Brumadinho. Além do cuidado em não expor relatos de forma sensacionalista e não aumentar a dor das vítimas e de suas famílias, há a responsabilidade ética e profissional em não promover pré-julgamentos contra os investigados e nem endossar pensamentos punitivistas e autoritários. 

O livro se torna um documento histórico sobre o desastre e sobre responsabilidades do crime, feito com uma linguagem e visão jornalística sem deixar de lado alguns elementos de literatura na construção da narrativa.  Os maiores desafios passam justamente pela busca por um equilíbrio na maneira de narrar essa história, sem se deixar levar por exageros e pensamentos pré-concebidos.

Durante a produção de "Brumadinho: A Engenharia de um Crime", foi possível perceber que a própria polícia também tinha dificuldades para lidar com essa separação entre as responsabilidades individuais e corporativas diante da tragédia. O curto tempo de produção deste livro-reportagem também se mostrou desafiador, aliado ao fato das fontes ouvidas ainda estarem envolvidas na investigação, com informações delicadas e, às vezes, até sigilosas. Outra tarefa árdua foi contar uma trama com muitos detalhes técnicos e idas e vindas no tempo sem deixar o leitor confuso ou perdido durante a leitura.

2) O que o livro traz de diferente do que já foi abordado pela mídia? Ele revela informações que ainda não tivemos acesso?

"Brumadinho: A Engenharia de um Crime" apresenta uma perspectiva completamente nova da já veiculada pela imprensa e pelo poder público. Há o elemento do bastidor, do dia a dia das investigações. As dúvidas, negociações, reflexões e divergências da Polícia Federal com outros órgãos de investigação também são abordadas. 

O livro mostra, ainda, de forma cronológica e organizada, documentos e diálogos nunca antes publicados indicando uma possível negligência da Vale e de alguns de seus executivos na administração da barragem I, da mina de Córrego do Feijão, e de outros empreendimentos da mineradora. Ainda há capítulos dedicados ao drama das vítimas, à busca incansável dos bombeiros e ao histórico da mineração no Brasil.  
Crédito: Editora Letramento / Reprodução. 

3) Como vocês avaliam o papel da imprensa brasileira durante a cobertura da maior tragédia/crime socioambiental da história do país?

Foi um papel responsável e crítico, como o bom jornalismo deve ser. "Brumadinho: A Engenharia de um Crime", em muitos trechos, cita e reproduz coberturas da imprensa brasileira sobre o desastre. Ao mesmo tempo em que os veículos mostravam cobranças duras às empresas e até mesmo às investigações, também contavam histórias que humanizaram os envolvidos e atingidos pelo rompimento da barragem. Isso é primordial e sem dúvida foi usado como fonte para a produção do livro.

4) O livro contém relatórios internos da mineradora, trocas de e-mails de auditores externos e depoimentos de funcionários. Como vocês realizaram a apuração?

Um dos principais capítulos mostra, de forma detalhada, trocas de mensagens, e-mails e documentos internos da equipe da mineradora que administrativa o complexo da mina de Córrego do Feijão. É um material essencial não só para a investigação da Polícia Federal, que, a partir dali, flagrou a ocorrência do crime de falsidade ideológica e documentos falsos, mas também para que a população entenda como uma tragédia desse tamanho poderia ter sido evitada. 

A apuração se deu ao longo de sete meses e envolveu não apenas entrevistas com os investigadores da Polícia Federal, mas também com fontes do Ministério Público, consultores, especialistas e até mesmo funcionários das empresas envolvidas. Foi um trabalho de jornalismo investigativo.

5) O que mais surpreendeu ao longo da apuração?

A proximidade física e temporal das tragédias de Mariana e Brumadinho por si só é um fato assustador. Mas, ao começarmos a produção do livro, nos chamou a atenção outras "coincidências" entre os dois desastres. Personagens se repetiram de uma tragédia para a outra, assim como alertas ignorados. 

A Vale sabia dos riscos de sua barragem e negligenciou uma solução mesmo depois das 19 mortes e danos ambientais irreparáveis causados no desastre da Samarco, em Mariana, em 2015. Mesmo não querendo provocar o rompimento, engenheiros e executivos da mineradora fizeram uma aposta trágica ao decidir manter a situação como estava.

-> Clique aqui para ler a entrevista completa no Blog da Letramento.




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Jornalista


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