#CaféEntrevista: Nefrologista alerta sobre os efeitos do Novo Coronavírus na saúde dos rins

dezembro 10, 2020

Crédito: Arquivo Pessoal / Reprodução. 

Uma das frentes de pesquisa no enfrentamento à COVID-19 são os efeitos da doença no funcionamento dos rins. Cientistas e médicos sabem que as pessoas com problemas renais crônicos são consideradas pertencentes ao grupo de risco. Com isso, o aparecimento de lesões agudas no órgão pode agravar o tratamento e, em alguns casos, levar à morte.

Para falar mais sobre este assunto, conversamos com o nefrologista Dr. Daniel Calazans. Recentemente, ele foi reeleito vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e já foi presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia

Calazans é graduado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, especializado em nefrologia pelo Hospital Universitário Ciências Médicas, em Belo Horizonte, titulado pela SBN e Associated Editors do Brazilian Journal of Nephrology. Acompanhe a entrevista:

1) A COVID-19 pode causar implicações do ponto de vista nefrológico. Se sim, quais são?  

O rim tem sido um dos vilões da pandemia, apresentando um número elevado de casos que necessitam de diálise internados na UTI. São muitas as causas de Injuria Renal Aguda (quando se tem a diminuição aguda e subaguda da função renal) em pacientes internados com a COVID-19. 

Podemos citar a associação de síndrome de desconforto respiratório agudo (SDRA) com IRA, dentro do modelo fisiopatológico das linhas cruzadas (crosstalk) entre os órgãos; o desenvolvimento de (IRA) em pacientes com o extenso dano pulmonar e com os efeitos adversos renais do suporte ventilatório altamente complexo de que esses pacientes necessitam e o colapso sistêmico que se segue à intubação orotraqueal e início da ventilação mecânica 3.

2) Quais são as principais doenças que atingem os rins?

As patologias renais são um problema de saúde pública mundialmente conhecido: tanto a Doença Renal Crônica (DRC), quanto a Injúria Renal Aguda (IRA) contribuem para o aumento dos custos com a saúde e do índice de pessoas mortas das doenças crônicas. A Sociedade Brasileira de Nefrologia estima que 1 em cada 10 pessoas tenham algum grau de DRC, embora a incidência e prevalência variem de região para região.

A DRC tem impacto brutal no bem-estar do paciente devido à sua frequente incapacidade de trabalhar, inabilidade de ir à escola, à redução na qualidade de vida e às severas limitações financeiras impostas pela sua condição de saúde – situação agravada pelo fato de o baixo status socioeconômico relacionar-se ao maior risco de desenvolver essa condição.

Segundo dados do Global Burden of Disease Study de 2017, a mortalidade por DRC no Brasil aumentou alarmantes 44% nos últimos 10 anos, tornando essa entidade a décima principal causa de morte em nosso país. Globalmente, a DRC é a décima nona principal responsável por anos de vida perdidos e a sétima em provocar mais deficiências.
 
3) E existem dados sobre os casos no Brasil?

Atualmente, passamos de estimados 48 mil pacientes, em 2002, para 139 mil pacientes em 2020, que realizam diálise. São 40 mil novos pacientes por ano. Resultado do crescimento desproporcional da relação pacientes/clínicas, da baixa capacidade de receber novos pacientes e do consequente represamento de internados que dependem do tratamento dialítico para sobreviver – o que acaba impactando na disponibilidade de leitos hospitalares. 

Mesmo que o crescimento absoluto significativo represente 610 pacientes por milhão de habitantes (PMP), esse número ainda é menor que o observado em países vizinhos como Uruguai, Chile e México, onde a taxa passa de 1000 pacientes PMP. Isso indica que estamos diagnosticando em menor proporção essa condição na nossa população, elevando, consequentemente, sua taxa de mortalidade. Destes, apenas 7.8 % estão em programa de Diálise Peritoneal (DP).

4) A doação de órgãos é um importante instrumento para recuperação de alguns pacientes. Qual o número de pessoas na fila e qual a importância da doação?

O Brasil é o segundo país em número absoluto na realização de transplantes renais do mundo. Quando se analisa por milhão de população, caímos para 33ª posição mundial. São realizados anualmente cerca de 6000 transplantes renais (30 por milhão de população), metade da necessidade estimada (60 por milhão de população).

Existem 22.429 mil pacientes ativos na lista de espera para transplante renal, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Entretanto, o número estimado deveria ser próximo a 70 mil. A taxa de doadores efetivos (cerca de 17 por milhão de população) encontra-se bem abaixo de países desenvolvidos. A heterogeneidade é o que mais preocupa, uma vez que conta com muitas regiões no Norte ainda sem ofertar o método e com taxas de captação de órgãos bem inferiores ao Sul e Sudeste.

5) Recentemente, o senhor foi eleito vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Quais são os seus objetivos à frente dessa instituição?

Nosso planejamento estratégico é amplo e global. Algumas ações terão interface no Ministério da Saúde, ANS, AMB, Anvisa, CFM e MEC, sobre toda situação do tratamento conservador, diálise peritoneal, hemodiálise e transplante renal do país.




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Jornalista

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