#VidasNegrasImportam: Discussão sobre o racismo na sociedade ganha amplitude, mas ainda é silenciada

junho 15, 2020

Crédito: Agência Brasil / Reprodução. 
O assassinato de George Floyd, cidadão negro dos Estados Unidos, por um policial branco despertou uma série de protestos em diversos lugares do mundo, como também no Brasil. Pessoas foram às ruas pedindo igualdade e o fim da violência contra a população negra. Mas, apesar da onda de protestos ganharem cada vez mais amplitude na sociedade, porém a voz do negro ainda é silenciada. Mas, como assim?

Quantos negros você vê em espaço de chefia? Quanto jornalistas negros você vê na mídia, sobretudo em frente às câmeras? Quantos atores e atrizes negras são protagonistas de novela? Quantos políticos negros – entre cargos no legislativo e no executivo, temos atualmente? A população negra é a maioria no Brasil, segundo o IBGE, mas em questão de representatividade, somos minoria.

Enquanto não houver mais participação nos espaços de opinião, por mais que se grite, se proteste nas ruas, que se derrame sangue, a voz da pessoa preta sempre será silenciada, pois ela não tem poder de decisão sobre si, muito menos sobre os seus.

Temos mais de 300 anos de período escravocrata no Brasil que, por incrível que pareça, deixou diversas feridas sociais no nosso país, sobretudo na nossa língua com expressões racistas que são utilizadas até hoje, como “Mercado Negro”, quando a pessoa quer se referir ao “Mercado de produtos pirateados e contrabandeados”.

Nesse sentido, o “Porta dos Fundos” conseguiu fazer um vídeo muito interessante, chamado de “Nota de Repúdio”. Na produção, duas mulheres pretas tentam falar para o público sobre racismo e a importância da campanha de mobilização, “Vidas Negras Importam”.

Por mais que uma pinte a cara de branco ou que a outra apareça completamente ensanguentada, o que elas falam nunca é ouvido pelo público. Para elas serem ouvidas, precisou dois homens brancos entrarem para que elas pudessem dublá-los e, só a partir daí, elas passam a ser ouvidas pelo público. Assista ao vídeo:


Em um primeiro momento, isso pode até assustar quem está distante desse debate ou, quem sabe, até achar engraçado. Mas o fato é que muitas pessoas não consomem o que uma pessoa preta produz ou fala, é como se ela estivesse falando para as paredes ou apenas para os seus.

Ao mesmo tempo, isso pode ser encarado também como uma crítica a alguns artistas/personalidades brancos que cederam as suas contas no Instagram para personalidades negras debaterem o racismo por um determinado tempo, como aconteceu, por exemplo, com o humorista Paulo Gustavo, que cedeu a sua conta para a filosofa, escritora e feminista negra, @DjamilaRibeiro.

É claro que a atitude em si é louvável, mas cabe a reflexão que, mais uma vez, foi preciso um homem branco chamar a atenção do público para que uma mulher negra pudesse falar para um público muito maior e que, provavelmente, desconhece o trabalho da Djamila.
Crédito: Agência Brasil / Reprodução. 
Mas, como mudar de postura? A partir do momento que todos nós, pretos, brancos, amarelos, entendermos que a pauta racial não é algo apenas dos negros, mas de todo mundo, a luta antirracista será mais eficiente.

Mas essa mudança de postura leva tempo. Muito tempo. E necessita ainda de conhecimento (educação + respeito), de entendimento da dívida histórico que o Brasil tem com a população negra e indígena. Que a cada 23 minutos uma pessoa preta é assassinada, segundo o Mapa da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), da qual a Organização das Nações Unidas (ONU) corrobora com a amplitude global, mostrando os danos sociais que existem entre a violência e o racismo. 

Somente quando todos nós unirmos forças e vozes, de não tivermos medo de debater sobre o racismo – nem de criminaliza-lo, é que o mesmo deixará de existir. Enquanto isso, seguimos lutando. Gritando. Vidas Negras Importam.




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Jornalista

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