#Tálkey: Paródia da “Vila Militar do Chaves” traz críticas importantes sobre os rumos políticos do Brasil

janeiro 19, 2019

Crédito: TV Globo / Reprodução. 

O humor é uma das melhores formas de subverter o sistema e mostrar críticas sociais importantes que nem sempre são colocadas à tona. E foi isso que o telespectador viu na última terça-feira (15/01), na estreia da última temporada do Tá no Ar: a TV na TV, da TV Globo, capitaneado por @MarceloAdnet e Marcius Melhem. O programa obteve 13 pontos de audiência, segundo dados do Ibope. Mesmo com um número relativamente baixo se compararmos com outras atrações, a marca deixou a emissora carioca na liderança da TV aberta.

Em sua última temporada, apesar do sucesso de crítica e de público, o programa de humor que tem como mote fazer uma piada com a programação das emissoras de TV, apresentou ao público uma paródia da “Vila Militar do Chaves”, derivado do seriado Chaves, exibido desde a década de 1980 pelo SBT e, na TV Paga, pelo canal Multishow, do Grupo Globo.

Na esquete, Marcelo Adnet interpreta um capitão que comprou a vila do Chaves e que tem o mesmo jeito de falar do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) – que tanto nas eleições, quanto nos primeiros dias de mandato, tem se orgulhado de colocar os “militares no poder”, mesmo com as inúmeras críticas dos movimentos sociais e dos escândalos de corrupção, como o caso que envolveu o motorista Queiroz e o filho dele, Flávio Bolsonaro.

Adnet, que já imitou Bolsonaro nas #Eleições2018 para o jornal “O Globo”, se tornou um dos assuntos mais comentados essa semana pela coragem de trazer críticas importantes sobre os últimos acontecimentos políticos e, sobretudo, refrescar a memória do telespectador sobre as barbaridades cometidas durante a Ditadura Militar (1964-1985) em que as pessoas que pensam diferente do sistema político vigente eram presas, torturadas e assassinadas. Abaixo, assista a esquete:


Bastante comentada e compartilhada nas redes sociais, a “Vila Militar do Chaves” trouxe críticas importantes sobre o que já aconteceu nos primeiros dias de governo Bolsonaro e o que podemos esperar. Ao gritar “VA-GA-BUN-DO” e criminalizar as pessoas desempregadas, as pessoas pobres que dependem do “Bolsa Família” para sobreviver, os professores que incitam os alunos a pensar fora da caixa e ao deixar claro que uma mulher sem marido não merece ser respeitada, entre outras barbaridades que já foram ditas pelo atual presidente brasileiro, a esquete sinaliza um ponto preocupante: a nossa Democracia pode estar ameaçada, sobretudo o estado laico e o respeito a diversidade social.

Ao final da esquete, o capitão que comprou a vila quer demitir a plateia que fica rindo das atrocidades que ele fala, mas acaba voltando atrás porque se lembre que já havia demitido a pessoa que era responsável por demitir a plateia, sem colocar ninguém no lugar e, muito menos, sem se interessar em como fazer o sistema funcionar, assim como o atual presidente. Com isso, o capitão se mostra uma pessoa contraditória e cheia de falas de senso comum que usa para justificar as atrocidades, tais como a “ditadura gayzista” que nunca existiu, de fato.

A paródia é, justamente, um instrumento para nos lembrar do risco que corremos ao eleger políticos que se baseiam no preconceito e no desrespeito para legitimar crenças infundadas e valores conservadores que não dialogam com o nosso tempo. 
Crédito: TV Globo / Reprodução. 

O mais interessante é que, do outro lado da ponta, há quem acredite muito nessa figura de “salvador da pátria”, de “herói que precisa salvar o Brasil”, sem ao menos levar em consideração a hipótese de fazer críticas do motivo pelos quais alguns escândalos, com menos de um mês de gestão, estão sendo colocados para debaixo do tapete e as mamatas tão alardeadas na campanha estão sendo utilizadas para beneficiar familiares e apoiadores políticos. Ou seja, não tem nada de novo nisso aí!

Última temporada

A atual temporada do Tá no Ar: a TV na TV vai marcar o fim do programa que já acumula cinco temporadas, uma legião de fãs e uma indicação ao Emmy Internacional. Para o Jornal "O Globo", o diretor Mauricio Farias, criador do programa ao lado de Marcelo Adnet e Marcius Melhem, explica que a decisão foi tomada para que o programa se despedisse dando o seu melhor, sem perder a qualidade de rir de si mesmo. 

"Isso é difícil, pois quando os problemas surgem, já é tarde demais para tomar a decisão de parar. Encerrar um programa demanda ao menos dois anos de antecedência. (...) Logo depois de a TV surgir, veio a ditadura. Isso acabou levando a caminhos artísticos onde você falava das coisas de forma indireta. Depois, foi um longo processo para recuperar a liberdade de expressão. Essa foi a nossa proposta, de poder falar sobre tudo, inclusive da própria Globo. Com isso, conseguimos trazer a autocrítica e a autoironia", pondera Farias.

Para a Adnet e Melhem, que atua nos esquetes e faz a redação final do Tá no Ar, o programa vai deixar saudades. Marcelo Adnet explicou que tem muito orgulho de ter sido um dos criadores da atração e conta que uma das maiores dificuldades de deixar o projeto é o carinho que você acaba nutrindo por ele. 
Crédito: TV Globo / Reprodução. 

"Às vezes, é um pouco triste também quando a gente acaba um projeto quando ele está caindo ou quando ele está se desmanchando. E o ‘Tá no Ar’ está muito bem. A gente vai se dar esse luxo de terminar ele num momento muito legal. Acho que é um gesto de carinho", explica.

"Chega uma hora que tem que acabar, (...) a gente poderia fazer o ‘Tá no Ar’ por mais uns dez anos. Mas a gente é inquieto e quer fazer outras coisas e já temos novas ideias", completou Melhem que assumiu a direção do humor da TV Globo no ano passado e já trabalha num programa para ocupar o espaço deixado pelo humorístico na programação a partir de 2020.





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