#CaféConvidado: Crise política no Brasil fica cada vez mais aflorada com a prisão do ex-presidente Lula

julho 13, 2018

Roberto Stuckert Filho / Reprodução. 

Após o imbróglio jurídico envolvendo a sua possível soltura no último dia 08 de julho e a Justiça de Brasília-DF tê-lo absolvido em mais seis processos sobre obstrução à Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a ser assunto, mais uma vez, no meio político. Sobretudo no que interessa a sua possível candidatura como presidente nas #Eleições2018.

Na seção "Café Convidado" desta semana não é necessariamente um convite, mas sim uma apropriação em forma de homenagem. Sabe quando você se depara na internet com um texto/editorial tão bom que merece ser lido por outros tipos de público? Pois bem, o texto da jornalista Natalia Viana é exatamente isso. A reflexão que ela trouxe como editorial da Agência Pública nos faz refletir não só sobre a situação de Lula, mas principalmente sobre a crise política no Brasil e o quanto essa instabilidade afeta a democracia em um ano eleitoral. Acompanhe:


Ninguém pode entrevistar o Lula


Por Natalia Viana


Imagine a seguinte situação: em um país distante, um líder consegue ser popular o suficiente pare se eleger presidente duas vezes e ainda obter votos para uma sucessora escolhida a dedo, que é depois reeleita – e sofre um impeachment pelo Congresso.

Imagine, então, que esse líder, investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, se declara candidato para um terceiro mandato. No caminho da pré-campanha ele é condenado na Justiça, julgamento que é referendado pela segunda instância e o leva à prisão.

Imagine que, mesmo dentro do cárcere, ele continua à frente nas pesquisas eleitorais. Segue tendo peso na política nacional: move paixões e ódios, é chamado de “o melhor presidente que o país já teve” e “chefe de quadrilha”, tem seu apoio disputado, está nos jornais todos os dias e mantém a intenção de seguir com a candidatura, embora com a quase certeza de que será impugnada.

É ainda tão relevante que em apenas um domingo tem sua prisão revogada três vezes por um desembargador, o que provoca uma imediata reação dentro do Judiciário – um juiz de instância inferior se nega a obedecer a ordem, procura o presidente do Tribunal e provoca outro desembargador para que se pronuncie, alertando ainda a Polícia Federal para que não cumpra a ordem. Finalmente o presidente do Tribunal interfere contra a soltura. Até o Ministro da Justiça é envolvido.

Se você fosse um jornalista estrangeiro, caindo de pára-quedas na realidade brasileira de hoje, não teria dúvidas que o Lula é uma das figuras mais interessantes para se entrevistar neste momento. A prisão de um ex-presidente é histórica por si só, mas o apoio popular à sua candidatura mesmo detido – algo inédito, acredito, em todo o continente – demonstra uma grande sede pela sua visão de país. É um fenômeno social que ultrapassa as mesquinhezas da política do momento e merece reflexão, escuta, debate público.
Roberto Stuckert Filho / Reprodução. 

A decisão da juíza substituta Carolina Moura Lebbos de negar a possibilidade de Lula dar entrevistas contraria o interesse público. Respondendo a pedidos da RedeTV!, Diário do Centro do Mundo, Folha, UOL e SBT, que queriam sabatiná-lo como pré-candidato, mantendo a equanimidade (exigida por lei para TVs), ela argumenta que presos não têm o direito constitucional dar entrevistas. 

E lhe nega a posição de pré-candidato: "Embora se declare ser o executado pré-candidato ao cargo de presidente da República, sua situação se identifica com o status de inelegível. Em tal contexto, não se pode extrair utilidade da realização de sabatinas ou entrevistas com fins eleitorais", diz, tomando o cuidado de ressaltar que "não se trata de tolher a liberdade de imprensa, mas apontar que o pedido, além de inoportuno, não encontra fundamento constitucional e legal”.

A se levar em consideração as pesquisas eleitorais, cerca de 1/3 dos eleitores gostariam de ouvi-lo. Ou seja, calar o Lula não ajuda o debate nacional e vai tolher, sim, qualquer iniciativa jornalística séria que pretenda registrar o que se passa nesse momento tão singular da nossa República.   


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*Perfil: Natalia Viana é jornalista há 18 anos, co-fundadora e co-diretora da Agência Pública e Jornalismo Investigativo. É autora e co-autora de quatro livros sobre violações direitos humanos. Como repórter e editora, venceu diversos prêmios de jornalismo,  entre eles o Prêmio Vladimir Herzog. Em 2018, foi reconhecida como empreendedora social da rede Ashoka e passou a integrar o Conselho Reitor da Fundação Gabriel García Márquez.





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