#Documentário: "Laerte-se", da Netflix, debate aceitação e identidade de gênero de modo intimista

maio 22, 2017

Foto: Netflix / Reprodução.

Primeira produção de documentário original brasileiro da Netflix, o filme “Laerte-se” estreou, no último dia 19 de maio, cercado de expectativas, principalmente por conta da história da cartunista Laerte. Depois de quase 60 anos como homem, três filhos e três casamentos, Laerte Coutinho, um dos cartunistas mais geniais do Brasil, apresentou-se como mulher trans.

No vídeo, com um pouco mais de uma hora de duração, é contado todo esse processo de aceitação, dos debates pessoais e filosóficos sobre o que é ser mulher, ser homossexual, ser uma mulher trans e como o nosso eu interior interfere diretamente na nossa manifestação artística e intelectual. Laerte conta em um dado momento do filme que achava que, em algum momento da vida, as pessoas iriam acha-la uma fraude, pois ela não se via refletida na sua arte.

O filme dirigido por Lygia Barbosa da Silva e Eliane Brum foi rodado de uma maneira crua e bastante intimista. Com a proposta de traçar um perfil sobre a vida de Laerte, somos levados ao uma rotina simples que nada tem a ver com a imagem de senso comum que temos de celebridades ou de profissionais de grande renome. Aliás, a própria Laerte – apesar de um ter um trabalho genial, tem dificuldade de se olhar como uma profissional reconhecida pelo seu talento e obra. Abaixo, assista o trailer:

Mas, o que leva uma pessoa a se esconder por mais de 60 anos? Medo ou insegurança? Laerte conta que depois da morte do filho ela pensou que precisa viver de forma plena e se realizar e, por isso, resolveu mudar não só por ela, mas pela vida. 

O documentário mostra ilustrações lindas de personagens famosos das tirinhas de Laerte que são uma espécie de narrador da sua própria vida. Uma dessas tiras animadas do documentário, Laerte simula um diálogo com o filho que faleceu, mostrando o quanto é importante mudar para continuar vivo.

Não sei se a Laerte tem a dimensão do quanto a vida dela é importante para todos os LGBTs. É um exemplo de dignidade, de superação e de mostrar para o mercado e para a sociedade que é possível ter uma vida com dignidade e respeito. 

Laerte tem uma relação linda com o neto que, a pedido do filho, continua o chamando de avó. Tenho pra mim que, em um dado momento da vida, esse neto vai entender que está diante de uma avó que já foi vovó. Isso é questão de tempo, apenas.

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Outro ponto bastante curioso no filme é que a Laerte passa a se ver transitando em outras artes, como uma forma de se posicionar e de se entender em relação ao mundo novo que ela está experimentando, o ser mulher, o feminino. E essa descoberta passa também pelo corpo. Laerte quer ter peitos, mas ainda não sabe se isso a fará bem ou não.

Enquanto isso, ela se aventura por ensaios fotográficos em que o nu é colocado a prova. Se algum momento da vida Laerte foi tímida ou insegura, essa nova persona prova que a ousadia não é uma opção, mas uma maneira de se manter viva para si e para o mundo. Laerte-se.




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