Pesquisa inédita da UFMG revela a percepção que os mineiros têm da ciência e tecnologia
setembro 03, 2016Foto: iStock / Reprodução. |
Em Minas Gerais, assim como no resto
do país, é grande o desconhecimento das pessoas com relação ao universo da ciência e tecnologia. Mas,
nesse caso, ignorar não significa temer ou desconfiar da atividade e dos
cientistas. Os mineiros veem de forma positiva o trabalho das instituições de
pesquisa e dos pesquisadores. E também se mostram dispostos a questionar sobre
riscos de diversas naturezas e reivindicar controle da produção científica.
Essas são algumas das conclusões da
pesquisa A opinião e o conhecimento dos
mineiros sobre ciência e tecnologia, coordenada e realizada na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), com participação de pesquisadores de
outras instituições, e financiada pela Fundação
de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). Os resultados estão
compilados no livro “Os mineiros e a ciência” (editora KMA, 166 páginas,
distribuição gratuita).
De acordo com os organizadores, as
informações geradas pelo estudo têm potencial para apoiar a concepção de
experimentos inovadores na busca do engajamento público em C&T nos campos
da educação formal e não formal em ciências, da divulgação científica e das
políticas públicas.
Pela primeira vez foi investigada a
influência de valores – religiosos, políticos, morais, entre outros – sobre a
percepção e as atitudes dos mineiros quanto à ciência e à tecnologia. Os
pesquisadores constataram, por exemplo, que os cidadãos "menos
conservadores" depositam mais confiança nos cientistas.
Pesos equivalentes
De acordo com a professora Elaine
Vilela, do Departamento de Sociologia da Fafich, uma das coordenadoras da
pesquisa, as variáveis relacionadas às características socioeconômicas e
demográficas (sexo, escolaridade, renda, idade) "não são suficientes para explicar a variação na percepção dos
mineiros sobre ciência e tecnologia".
Outros fatores devem ser considerados
na análise, como as medidas de valores e as de localização espacial. O trabalho
também foi liderado pelo professor Yurij Castelfranchi, colega de Departamento
de Elaine e coordenador do Observatório Interdisciplinar InCiTe (Inovação,
Cidadania, Tecnociência).
Fachada da Biblioteca Central da UFMG. Foto: Foca Lisboa / Reprodução. |
Embora a maioria das pessoas em Minas
Gerais declare ter interesse elevado em temas de cunho científico e tecnológico
e veja de forma positiva as instituições que fazem pesquisa, assim como a
qualidade da C&T no Brasil, o acesso à informação ainda é baixo e marcado
por desigualdades.
"Espaços e atividades de difusão da ciência, como
museus e debates, são ainda pouco frequentados. E o consumo de informação
científica nos meios de comunicação é significativo apenas para uma minoria da
população", comenta Elaine Vilela. O estudo
revela, por exemplo, que poucos mineiros – incluindo os mais interessados e de
escolaridade mais alta – conseguem dizer o nome de uma instituição de pesquisa
no estado ou de algum cientista brasileiro.
Os relatos sobre os resultados da
pesquisa enfatizam também que os mineiros são capazes de questionar implicações
e riscos ambientais e éticos relacionados à atividade científica. Eles se dizem
favoráveis ao controle social e político da ciência e à formulação de códigos
de conduta. "As pessoas não têm visão simplista ou ingênua e querem ser
ouvidas antes de decisões importantes", diz Elaine.
Fome e pobreza
De modo geral, homens e mulheres
consideram que ciência e tecnologia vão contribuir para eliminar a pobreza e a
fome no mundo. E os homens, mais do que as mulheres, avaliam que os cientistas
têm poderes – derivados do conhecimento – que os tornam perigosos.
A
concordância total com as duas teses diminui quando aumenta a escolaridade. As
pessoas – sobretudo os homens – também entendem que a ciência e a tecnologia
são responsáveis pela maior parte dos problemas ambientais.
O trabalho sobre a percepção dos
mineiros acerca da ciência e da tecnologia é resultado da aplicação de dois mil
questionários presenciais domiciliares, com 100 perguntas. Um pré-teste
cognitivo procurou mensurar o grau de compreensão das questões e das categorias
disponíveis para as respostas. Algumas perguntas foram alteradas, mas a
comparabilidade com outros estudos foi preservada.
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