#CaféLiterário: Livro “Pele de Propaganda" resgata arte de rua de BH do início dos anos 2000

abril 05, 2016



O livro “Pele de Propaganda: lambes e stickers em Belo Horizonte [2000-2010]”, do jornalista e coeditor da revista “A Zica” Luiz Navarro, será lançado nesta quinta-feira (07/04), no Sesc Palladium (avenida Augusto de Lima, 420, centro), em Belo Horizonte. O lançamento será precedido de um bate-papo, a partir das 19h, com a participação do autor e dos artistas Comum, Davaca, Desali e Xerelll, quatro dos criadores relacionados na obra. O evento tem entrada gratuita e o livro estará à venda por R$ 20, apenas em dinheiro.

Derivados da linguagem do grafite, lambes e stickers são suportes em papel de tamanhos variados, cartazes afixados com grude ou adesivos autocolantes feitos para serem espalhados pela rua, em muros, fachadas ou mobiliários urbanos. Assim como outras metrópoles globais, Belo Horizonte viveu uma intensificação dessa arte na primeira década dos anos 2000. Luiz Navarro, que sob a alcunha de Culundria Armada, ao lado do amigo João Perdigão, colou lambes e stickers na capital mineira nesse período, partiu da própria experiência para realizar a documentação e o estudo dessa produção reunidos em “Pele de Propaganda”.

O livro é resultado da pesquisa desenvolvida por Navarro para a especialização em Artes Plásticas e Contemporaneidade da Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), com orientação da professora, arquiteta e artista plástica Louise Ganz. O prefácio é da professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na área de Artes, Maria Angélica Melendi, que situa a prática como uma manifestação local, mas em sintonia com o que era realizado em outros países: 


“Uma cidade oculta dentro da cidade modernista proliferava em stickers, lambes, grafites e outras produções imagéticas que se disseminavam sobre os muros, os viadutos, as placas de trânsito, o mobiliário urbano e exibiam uma identidade cultural singular que surgira de maneira espontânea, radical e potente, mas, sobretudo, em diálogo com as cidades do continente sul-americano”.

Lambe "Masturbe Seu Urso", produzido pela Culundria Armada em 2011, colado nas ruas do centro de BH. Foto: João Perdigão.  

“Pele de Propaganda” organiza-se em duas partes: uma análise no contexto da teoria e da história da arte e um glossário com termos e conceitos, técnicas e procedimentos, relação dos principais artistas e grupos, espaços, fatos e eventos que tiveram importância simbólica. Estão lá locais como o Ystilingue, espaço autônomo no edifício Maletta que reunia diferentes grupos de discussão, ao lado de ações como o happening Vacas Magras – paródia da Cow Parade.

A obra é ilustrada por fotografias feitas pelos próprios artistas, a maioria disponibilizada em sites como Flickr e Fotolog, este recentemente desativado, plataformas utilizadas para divulgarem seu trabalho e conhecerem seus pares. “O livro surge como uma possibilidade de valorizar, difundir e dar alguns parâmetros para o conhecimento dessa produção que, apesar de efêmera por essência e muitas vezes anônima, não precisa e não deve ser esquecida”, justifica o autor.


Além da efemeridade – diante da ação do tempo, da publicidade e de pessoas que podem rasgar ou cobrir lambes e stickers – e do anonimato – na recusa em assinar os trabalhos, outra característica criativa apontada e analisada por Navarro é a experiência enquanto criação, considerando-se o desafio de encarar o agressivo ambiente público da cidade como uma ação performática e corporal, seja de artistas ou de passantes. 


O autor também destaca duas características socioculturais: o uso das novas mídias e da internet – articulando-se redes e vivenciando-se o espaço virtual como extensão das ruas – e a formação de uma identidade cultural jovem, urbana e idealista, fazendo do livro também um pequeno manual para quem queira se iniciar em ou se inteirar dessa prática, como professores.


Navarro ainda aproxima os lambes e stickers belo-horizontinos da década de 2000 a referências que abrangem Dadaísmo, Pop Art, Novo Realismo, Fluxus; os artistas brasileiros Flávio de Carvalho (1899-1973), Hélio Oiticica (1937-1980) e o luso-brasileiro Artur Barrio (1945-); a arte pública do escultor norte-americano Richard Serra (1939-); o conceito de arte contextual do crítico francês Paul Ardenne (1956-); e a arte política, tanto na noção de desestetização do crítico norte-americano Harold Rosenberg (1906-1978), quanto no Situacionismo de pensadores como o francês Guy Debord (1931-1994). 
O jornalista Luiz Navarro é autor do livro "Pele de Propaganda". Foto: Carlos Hauck. 

“Hoje, os artistas de rua nem sempre têm consciência de como seu processo criativo pode estar relacionado com estilos e processos já há muito explorados na história da arte. Mesmo assim, é fácil perceber como percorrem processos e conceitos semelhantes, muitas vezes potencializando-os, mesmo que por outros caminhos e suportes”, conclui o autor.

Criado pelo designer gráfico Marcelo Lustosa, integrante do Popstencil, coletivo que está entre os artistas destacados no livro, o projeto gráfico é inspirado nas composições espontâneas formadas pela sobreposição de cartazes de propaganda, lambes e stickers colados no mobiliário urbano, desgastados e rasgados pela ação do tempo ou de passantes. Combina tipografia serifada, própria dos projetos editoriais, e grotesca, comum nas peças de propaganda presentes no ambiente da cidade.


Com tiragem de 600 exemplares, “Pele de Propaganda” foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte e da Fundação Municipal de Cultura. O livro, na íntegra, estará disponível on-line a partir de 8 de abril, no site oficial.


Sobre o autor


Luiz Navarro tem 32 anos, nasceu e vive em Belo Horizonte. É jornalista e especialista em Artes Plásticas e Contemporaneidade pela Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). No início dos anos 2000, colou stickers e lambes pelas ruas de Belo Horizonte, sob a alcunha de Culundria Armada, dupla formada com João Perdigão, com quem edita, desde 2010, a revista A Zica, uma publicação colaborativa de ilustrações e quadrinhos. Ministra palestras e workshops sobre arte de rua, intervenção urbana e publicações independentes.





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