#Obituário: O legado deixado pela atriz Marília Pêra, diva do TV, teatro e cinema

dezembro 07, 2015

Marília Pêra como "Marlene" no seriado "Pé na Cova", da Rede Globo. Foto: Gshow / Reprodução. 


Mesmo atrasado, não poderia deixar de escrever um obituário em homenagem à atriz Marília Pêra, que faleceu no último sábado (05/12), no Rio de Janeiro. Ela estava em tratamento há dois anos de um câncer de pulmão. Artista completa, Marília cantava, dançava e interpretava como ninguém. Ficou conhecida nacionalmente pelas suas inúmeras novelas – muitas delas na Rede Globo, mas foi no palco do teatro, seja como atriz, ou como diretora, que Marília construiu boa parte da sua carreira.

No Canal Viva, ela participou da série “Damas da TV”. Me chamou a atenção duas falas dela. A primeira, de não aceitar ser maltratada em um set de filmagens. Marília Pera era conhecida pelo gênio forte. Mas concordo quando ela disse que os profissionais precisam lutar por dignidade, por respeito no ambiente de trabalho.

Quantas vezes aceitamos trabalhos em que não somos valorizados? Marília, no alto de sua elegância, disse que no início, quando se está começando a gente pode até aceitar um salário menor, uma má estrutura de trabalho, mas chega um ponto da sua carreira que se você não se valorizar, ninguém mais vai. Daí ela cita o exemplo dos pais, que eram atores humildes e que morreram “sem eira, nem beira”.

Em um determinado ponto da entrevista Marília conta que aquilo a marcou. Ela conta que se talvez os pais tivessem reivindicado por melhores salários, melhores condições de trabalho, não teriam tido esse final. Fiquei com essa lição e guardei para mim. Se a Marília que é a Marília lutou até os últimos minutos por dignidade na profissão, também temos que carregar essa bandeira que não é de uma classe, mas de todos.

Outro ponto da entrevista dela foi sobre a profissão de ator. Marília disse que no início da TV, o ator e a atriz até que conseguiam construir o personagem junto com o autor e o diretor da novela. Mas que hoje isso é praticamente impossível. “O ator bom de hoje é o ator obediente. É aquele ator que obedece ao autor e ao diretor”. Senti tristeza no desabafo dela.
Marília Pêra como "Maruska", vilã da novela "Aquele Beijo". Foto: TV Globo / Reprodução. 

Particularmente, acredito que um texto bem escrito por um autor e uma condução segura de um diretor contribuem para abastecer um ator com informações para construir um bom personagem. Mas a “indústria” das novelas engatou o piloto automático há algum tempo. O ator que decora, às vezes é mais valorizado do que o criativo, daquele que se despe da sua persona para assumir uma outra persona do personagem.

Também senti uma amargura na fala dela ao dizer que alguns roteiristas da TV só querem trabalhar com determinados atores porque eles fazem aquilo que eles querem, do jeito que eles querem. E isso é um pouco revoltante, se pensarmos que quem dá a cara à tapa na TV todos os dias são os atores. Se o diretor, nem o autor não forem com a sua cara, destroem o personagem, e consequentemente, o ator.

Lembrei que os melhores personagens que me recordo de Marília Pera são do humor, como a Gioconda, em “Duas Caras”; a Milu, em “Cobras e Lagartos”; a Maruska, em “Aquele Beijo”; e a Marlene, de “Pé na Cova”. Foram trabalhos que Marília Pêra se jogou na brincadeira de interpretar, de contar uma história junto com o autor e o diretor.

Pena que não poderemos mais disfrutar disso. Só teremos os episódios já gravados de “Pé na Cova”. Já nos palcos, aqui em BH, a rádio Alvorada tem tocado uma spot da última uma peça teatral que Marília dirigiu, “Depois do Amor”, sobre a vida de Marilyn Monroe, que será apresentada no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte, no próximo dia 12 de dezembro. Deu vontade de ver para prestar esta última homenagem à Marília Pêra. Vai fazer falta no meio artístico. Deixou legado. Fez história.





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