#CaféLiterário: Livro analisa a presença brasileira em Moçambique
agosto 09, 2015
Depois de passar seis meses em
Moçambique em 2010, a jornalista Amanda Rossi retornou ao país três anos depois
para conhecer as iniciativas brasileiras germinadas durante sua primeira
visita. Na viagem para a cidade de Moatize, onde ocorria uma manifestação
contra as reservas de carvão da Vale, ela teve algumas surpresas.
O avião que a levaria da capital
Maputo para Moatize era da Embraer, a Igreja Universal de Reino de Deus estava
presente na cidade e entre os manifestantes havia ex-funcionários da Odebrecht.
“O Brasil estava por todos os lados”,
afirma a autora no livro-reportagem Moçambique, o
Brasil é Aqui: uma investigação sobre os negócios brasileiros na África,
que chega às livrarias pela editora Record. Para comprar o livro, clique aqui.
Aos olhos da jornalista, Moçambique é
o país mais interessante para mostrar a chegada do Brasil na África porque
concentra as maiores investidas do país no continente. “Se quisermos ver como o Planalto apoiou negócios de empresas
brasileiras, nada melhor do que observar a história do maior empreendimento do
Brasil na África: a exploração de carvão da Vale. Moçambique é ainda o país
africano que mais despertou o interesse do agronegócio brasileiro. Além disso,
foi um dos países mais cobiçados pelo Brasil para apoiar a reforma do Conselho
de Segurança da ONU”, explica Amanda, que se debruçou sobre centenas de
correspondências do Itamaraty, documentos oficiais e extraoficiais para compor
a obra.
Veja também:
Esmiuçando os detalhes das
empreitadas e das empreiteiras brasileiras em Moçambique a partir do governo
Lula, o livro traz à tona informações do intricado mosaico de negócios do
Brasil no país e revela questões delicadas das relações das empresas com o
governo brasileiro. O financiamento das viagens do ex-presidente para o
continente africano é uma delas.
Em entrevista exclusiva para a
autora, o político afirma que nunca houve conflitos de interesses. “Não há conflito nem com empresa de
construção, nem com banco, nem com empresa de automóvel. Eu viajo e faço
palestra gratuita para sindicato, para comunidade base, para qualquer coisa”,
declara Lula. O ex-presidente defende ainda que além das empreiteiras, empresas
de açúcar e etanol, os bancos brasileiros também deveriam estar na África. “Se não for assim esses países vão ficar com
os bancos dos países colonizadores”, completa.
Quando a escritora apresenta a voz
dos moçambicanos, as opiniões a respeito da expansão brasileira na região são
divergentes: “Uma parcela do povo
moçambicano se decepcionou com a atuação brasileira. Especialmente quem já foi
diretamente impactado pelos negócios do Brasil. Outros, no entanto, “tinham
confiança de que ‘os irmãos brasileiros’ fariam diferente e apoiariam o povo
moçambicano. Eu pressionei tudo que pude, mas nada parecia abalar a fé deles no
Brasil”, conta.
Ainda, Moçambique: o Brasil é Aqui traz na íntegra as entrevistas da
autora com o ex-presidente Lula, aclamado pelo povo local, e com o escritor
moçambicano Mia Couto, que foi um dos combatentes na luta pela independência e
é co-autor do hino nacional do país. O
livro-reportagem revela as mais variadas nuances das relações que unem e separam os dois
países.
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