#CaféEntrevista: Banda Chuva a Granel apresenta “Indie Ladies”
agosto 03, 2015
No próximo sábado (08/08), a banda Chuva a Granel levará ao palco d’A
Autêntica a primeira edição do recém-criado projeto Chuva a Granel Convida. O evento irá promover o encontro com artistas
e bandas independentes baseado em grandes ou pequenas similaridades, desde
influências musicais até a formação das bandas.
O show de lançamento será o Indie Ladies, que apresentará trabalhos
de bandas independentes que apostam no poder do vocal feminino. A pauta da
noite será uma inusitada mistura de sonoridades, começando com o rock/indie/pop
leve e vibrante da banda Dolores 602,
passando pelo rock/blues/progressivo da Chuva a Granel e o
funk/soul de inspiração setentista do Cromossomo
Africano.
Para falar mais sobre o projeto,
conversamos com as três vocalistas, Karine Amorina (Chuva a Granel), Michelle
Oliveira (Cromossomo Africano) e Camila Menezes (Dolores 602) sobre formação de
público em BH, a posição da mulher na sociedade e também sobre o Indie Ladies. Confira:
1) Atualmente a cena musical de BH anda bem agitada, mas
mesmo assim ainda há uma observação recorrente dos novos artistas, a
dificuldade em se formar público. Ao que creditam essa dificuldade?
Karine Amorina (Chuva a Granel): Acredito que a formação de público, como qualquer etapa do
processo artístico, depende de investimento financeiro, para produção de material
e contratação de equipe adequada destinada à divulgação (artista gráfico,
assessor de imprensa, assessor de mídia digital, entre outros). Atualmente, a
maior parte das bandas independentes mineiras está se mantendo, seja com
investimento dos integrantes ou com financiamento colaborativo.
Dessa forma,
não há como investir em divulgação. Nesse contexto, as ações de formação de
público das bandas ficam limitadas às ações em redes sociais e à boca-a-boca, o
que torna o processo muito lento. Além disso, sinto que o público de Belo
Horizonte tem uma cultura muito forte em consumir música cover: vejo muitas
bandas levando um trabalho cover para sustentar o autoral.
Michelle Oliveira (Cromossomo Africano): A Karine explicou bem o que acontece. Além disso, a divulgação
via internet é tanto acessível para quem divulga quanto entupida de informações
e opções para quem consome. A falta de recurso para outras formas de
divulgação, além da internet, é um importante causador dessa dificuldade.
Camila Menezes (Dolores 602): O público da nossa banda vem se formando ao longo de sua
trajetória de cinco anos e tem crescido bastante desde o lançamento de seu 1º
EP autoral em 2014. A mudança para a música autoral foi um marco nesse sentido,
pois ao mostrar uma identidade própria, a banda possibilitou que as pessoas se
identificassem com o seu som.
A formação de público sempre parte das relações
pessoais dos membros da banda, mas é importante levar seu som para além desses
círculos, de forma que novas pessoas conheçam e divulguem sua música. Não
acreditamos numa dificuldade em formação de público.
Esse processo é realmente
lento e os tempos são outros. Nos anos de 1970 a 1990, havia sempre um grupo de
pessoas que ouviam as mesmas bandas e as seguiam onde fossem. Hoje, as pessoas
ouvem de tudo e tem acesso imediato às músicas pela internet, o que é bom
também.
As bandas "Chuva a Granel", "Cromossomo Africano" e "Dolores 602" estarão na primeira edição do "Indie Ladies", em Belo Horizonte. Fotos: Wagner Costa / Divulgação. |
2) Um dos caminhos para a expansão do som das bandas são
eventos como este, em que há o ‘ajuntamento’ de público?
Karine Amorina (Chuva a Granel): Acredito demais na troca de público que eventos como esse
permitem, as pessoas vão ver a banda que já curtem e têm a possibilidade de conhecer
outros trabalhos afins.
Michelle Oliveira (Cromossomo Africano): Sem dúvida. Esse tipo de parceria musical é sempre, além de
enriquecedor, um interessante intercâmbio de público, que, em alguns casos
talvez não se interessaria em conhecer o trabalho de determinada banda ou estilo
musical e se surpreende.
Camila Menezes (Dolores 602): Sim, com certeza. Um evento com várias bandas é, muitas vezes,
mais atraente, pelo próprio formato combo, mas também uma oportunidade para que
o público que gosta de uma banda possa conhecer outras, com as quais tenha
sintonia. Existem, hoje, aplicativos e sites que te direcionam para novos sons
compatíveis com os que você gosta. Um evento como esse atua dessa forma, mas é
mais interessante por ser ao vivo e propiciar uma experiência mais rica, tanto
do ponto de vista relacional como sensorial.
3) O “Indie Ladies” apresentará trabalhos de bandas
independentes que apostam no poder do vocal feminino em um cenário artístico
dominado essencialmente por homens. Que tipo de mensagem vocês querem passar
para o público?
Karine Amorina (Chuva a Granel): Uma vez me perguntaram: “O que significa ser uma artista feminina
em um 'mundo dos homens'"? Respondi: “O mesmo que significa ser uma mulher
em um 'mundo dos homens'". A música ainda é um lugar predominantemente
masculino. Já toquei em festivais em que cerca de 70 músicos subiram ao placo
em dois dias, e apenas duas ou três mulheres além de mim. A presença da mulher
é relativamente comum na posição de intérprete, sobretudo em carreira solo, mas
na de vocalista de banda, compositora e líder ainda é rara. Quantas bandas
brasileiras têm vocal feminino? Quantas mulheres líderes de banda podemos
citar? Quantas compositoras?
Atualmente em Belo Horizonte temos
três projetos expressivos que apresentam trabalhos de compositoras: o Coletivo ANA que reúne oito
compositoras; o Inéditas, evento que
a cada edição apresenta canções de sete compositoras; e o recém lançado Coletivo Negr.A, que apresenta o
trabalho de cinco compositoras negras. Todos esses trabalhos dialogam com o
estilo que podemos chamar de “nova música brasileira”. Esta primeira edição do Chuva a Granel Convida, o Indie Ladies, pretende mostrar as
mulheres da música independente, as mulheres do rock/indie/pop/blues/soul.
Michelle Oliveira (Cromossomo Africano): Eu acho que a música ainda é mais democrática e aberta ao
feminino que outras profissões, afinal, o vocal feminino à frente das bandas
está aí há décadas. A mulher, em geral, ainda luta em vários sentidos por
respeito e igualdade, mas também é muito importante olhar para o que já foi
conquistado. Acho que o Indie Ladies
pode ser visto como uma celebração da multiplicidade feminina. Cada vocalista
com suas diferentes características e estilos, mostram que têm voz ativa e muito
a dizer, seja com a delicadeza feminina ou com o grito ecoante das guerreiras,
que somos todas nós.
Camila Menezes (Dolores 602): O público do Indie Ladies,
masculino e feminino, pode esperar primeiramente um som de primeira! São três
bandas que cuidam do seu som e prometem uma noite para ninguém ficar parado. Em
relação à questão das mulheres, fica claro que elas estão se colocando de forma
empreendedora e, através da música, vêm convidando o público a rever conceitos
e propondo novas possibilidades de identificação para as mulheres no campo da
música. No caso da Dolores 602, são
quatro instrumentistas e compositoras, que fazem desde os arranjos e direção
musical até cenário e produção. As mulheres nunca pararam. E nesse evento,
convidam a todas e todos a cair na pista e curtir a “sonzera” dessa mistura!
4) Quais os próximos trabalhos individuais de cada banda?
Karine Amorina (Chuva a Granel): Continuaremos com os eventos Chuva
a Granel Convida, do qual o Indie
Ladies será a primeira edição.
Haverá mais dois eventos com outras temáticas. E estamos preparando o
material do álbum. Gravamos um EP que foi lançado ano passado e estamos
finalizando o material para o lançamento do álbum completo.
Michelle Oliveira (Cromossomo Africano): A Cromossomo lançou um
EP com cinco músicas em 2014 e agora trabalha para o lançamento do próximo
álbum, com novas faixas e com previsão de lançamento para o final desse
ano.
Camila Menezes (Dolores 602): A banda lançará no segundo semestre de 2015 o seu primeiro single
e clipe, e planeja a produção do novo álbum, previsto para 2016. Integrou,
recentemente, a programação das rádios 98
FM e Inconfidência FM.
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Colaborou: Lúcia Santos, jornalista.
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