#CaféEntrevista: Alex Bretas fala sobre o "Educação Fora da Caixa"

maio 04, 2015



Nunca se falou tanto em educação como nos últimos tempos. Em seus segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff elegeu o tema “Pátria Educadora” como norte de seu governo. Em contrapartida, no Paraná, na região sul do Brasil, professores são agredidos por policiais militares, ao manifestarem contra o Governo, enquanto universitários estão com problemas para contratar o FIES.

Mesmo diante de tantas adversidades, é possível pensar em novas formas de aprendizagem? O mineiro Alex Bretas Vasconcelos, de 23 anos, acredita que isso é possível. E o primeiro passo é que cada um assuma o protagonismo da sua jornada por conhecimento. Natural de Governador Valadares, mas residente em São Paulo, ele é o autor do projeto Educação Fora da Caixa.

Trata-se de um projeto que nasceu por meio de financiamento coletivo na internet e que culminará num livro sobre novas formas de aprendizagem de jovens e adultos. Formado em Administração Pública e pós-graduado em Pedagogia da Cooperação e Metodologias Colaborativas, Alex tem se dedicado nos últimos anos a uma intensa pesquisa sobre novas metodologias e práticas educacionais. Para falar mais sobre este projeto, o Café com Notícias conversou Alex Bretas. Confira a entrevista:

1) Antes de mais nada, gostaria que você falasse de onde surgiu esta paixão pelo tema educação. Você acredita que o assunto precisa ser mais abordado e/ou desconstruído?

Tenho percebido que a educação é a pauta do dia. O governo federal a elegeu, ao menos no discurso, como prioridade; mães de todos os estratos sociais já encaram a educação de seus filhos como algo essencial, porque querem que eles tenham uma vida melhor do que a que elas tiveram.

No entanto, acredito que existe uma confusão entre escola, educação e aprendizagem. Escola é a instituição formal que provê (ou deveria prover) educação; já esta assumiu sua forma moderna como um processo social, econômico e cultural de ensino, ou seja, de algo oposto à aprendizagem. Ensinar é uma tarefa heterodidata, são os outros dizendo o que eu preciso saber.

Aprender é um processo que precisa partir do desejo ou da necessidade percebida por cada um de nós. A partir daí, acessamos outras pessoas e construímos conhecimento juntas. Aprendizagem é auto e alterdidata, como diz Augusto de Franco. E é pela aprendizagem que eu me interesso.
Alex Bretas, de 23 anos, é autor do projeto "Fora da Caixa". Foto: Arquivo Pessoal.

2) Me chamou a atenção na internet o seu projeto do Kit Educação Fora da Caixa. Como surgiu esta iniciativa e o que ela quer propor para os professores, de um modo geral?

O Kit Educação Fora da Caixa surgiu como um desdobramento do livro que estou escrevendo sobre novas formas de aprendizagem. Em 2014, realizei uma campanha de financiamento coletivo para viabilizar a publicação de um livro que trará casos, histórias e ideias sobre o aprender genuíno.

Uma parte desse livro conterá também uma caixa de ferramentas com várias possibilidades novas para educadores, professores, pessoas que querem empreender seu próprio percurso de aprendizagem, etc.

Já tinha uma série de ferramentas sobre as quais gostaria de escrever, então decidi lançar o Kit como uma forma de já compartilhar valor com quem acompanha o projeto, além de ajudar a sustentar a iniciativa por meio de apoios financeiros recorrentes.

3) Na sua avaliação, você acredita que ainda há resistência dos educadores a novas abordagens de ensino mais conversadas e participativas, principalmente nas escolas? Como mostrar para os educadores que a educação deve e precisa ser compartilhada?

A resistência é sistêmica, não somente dos educadores. Venho de uma família de professores e sei como as realidades que eles lidam no cotidiano não são fáceis. Uma forma que encontrei de mostrar isso não apenas aos professores, mas a toda a comunidade escolar e também a outras pessoas é o Kit.

Acredito que uma ferramenta, uma metodologia ou mesmo um recurso didático tem o poder de se transformar num portal que abre os olhos da gente para novos mundos. Isso se dá por meio da ação, do fazer. O convite que essa caixa de ferramentas que estou montando faz é justamente este: testar novas abordagens, novos jeitos de fazer, mas sem soar impositivo nem punitivo, como é o caso de alguns projetos "inovadores" que já presenciei em escolas públicas e privadas.

4) Para o projeto "Fora da Caixa" vi que você criou uma campanha de crowdfunding para não só produzir um livro sobre o "Fora da Caixa", mas também rodadas de Doutorado Informal. Conte um pouco desta experiência e em que pé está tudo isso?

Sim, fiz a campanha de financiamento coletivo e foi um processo incrível! Foi uma das experiências mais intensas que já vivi. Antes de tudo, o projeto tem servido pra que eu mesmo "saia da caixa", e acredito que não poderia ser diferente se quero apresentar essa lente a outras pessoas.

Os Círculos de Doutorandos Informais (CDIs) são encontros com duração de um dia inteiro que provocam as pessoas a assumirem as rédeas de sua aprendizagem por meio do doutorado informal. Essa é a abordagem que estou utilizando para escrever o livro e consiste, simplesmente, em inaugurar uma jornada partindo do que se quer mais aprender. Não há a necessidade do vínculo institucional.

Os CDIs são eventos altamente participativos, reflexivos e vivenciais, então, não é eu dizendo ao grupo como eles deveriam fazer, e sim o grupo se apoiando e descobrindo sua força a partir da melhor versão de cada um.
Rodada de "Círculos de Doutorados Informais". Foto: Arquivo Pessoal.

5) Você também trabalha com a ideia de disseminar "Doutorados Informais". O que é isso? Como as pessoas podem participar ou levar esta ideia para a sua cidade?

O doutorado informal é um caminho de aprendizagem que preza pela autonomia e pela colaboração. Imagine se você pudesse fazer um doutorado sobre o tema que mais lhe encanta no momento e do jeito que mais faz sentido pra você. Conteúdo, linguagem e metodologia são decididos por você, e não por um sistema abstrato de regras. É disso que se trata.

O doutorado informal parte da premissa de que todos nós já temos dentro de nós a capacidade de entregar algo inovador ao mundo. Quem disse que só os doutores podem? Doutor no Brasil sempre foi a elite, a autoridade que se identifica com o conjunto de conhecimentos válido e valorizado.

A metáfora do doutorado informal vem no sentido de tirar essa fôrma que por tanto tempo hierarquizou as nossas relações. Todo conhecimento é válido na medida em que servem bem a cada micro realidade. Como diz um dos sete princípios da Huna, uma sabedoria ancestral havaiana, "a eficácia é a medida da verdade".

6) Para finalizar, gostaria que você falasse um pouco deste momento em que tantos professores, quanto alunos, discutem a necessidade de se renovar não só a grade curricular, mas o método de ensino. De que maneira, cada um de nós pode contribuir para uma educação de qualidade e que ajude a formar cidadãos mais conscientes do seu papel na sociedade?

Acredito que uma transformação sistêmica como essa só conseguirá se sustentar em rede. Nada de "soluções" de cima pra baixo, que não foram criadas por quem delas irá se utilizar. Nesse sentido, a contribuição do doutorado informal é trazer a questão para o nível da pessoa: fala-se tanto de autonomia na educação, e agora é perfeitamente possível - sempre foi, na verdade - experimentarmos essa autonomia nas nossas vidas.

Se esquecermos um pouco o ensino, poderemos nos reconectar com a aprendizagem. Acredito que precisamos de menos métodos de ensino, e mais coragem pra aprender com nossas intuições, desejos, necessidades e paixões. Se alguém quiser operar uma mudança na escola que empodere as crianças para aprender o que elas tiverem vontade, o doutorado informal lhe dá uma boa chance de começar a operar essa mudança em si mesmo. Acredito que esta coerência é fundamental.







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Jornalista




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