Filme "118 Dias" retrata a tensão entre o mundo islâmico e a liberdade
março 08, 2015Foto: Diamond Films / Reprodução. |
*Por Sílvia Amâncio
Teerã, capital do Irã, em 2009. É véspera
da eleição presidencial marcada pela disputa entre o presidente
ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad e seu oponente, o moderado
ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mousavi, líder nas pesquisas de intenção de
votos e preferido pelo povo.
Maziar Bahari, jornalista de origem
iraniana radicado em Londres, na Inglaterra, é correspondente da revista
norte-americana Newsweek. Ele viaja
para seu país natal para cobrir o pleito e reportar para o restante do mundo o
atual quadro político do Irã.
De repente, ele se vê preso
como traidor do Irã e do Líder Supremo (Aiatolá Ali Khamenei) após filmar e
postar na internet imagens da violenta repressão contra os manifestantes nas
ruas por parte do governo. Este é o ponto de partida para o filme 118 Dias (Rosewater, em inglês), a
estreia na direção do apresentador do programa The Daily Show e comediante Jon Stewart. Abaixo, assista o trailer:
O filme 118 Dias traz as memórias do jornalista,
interpretado pelo mexicano Gael García Bernal, durante sua detenção, sem base
legal, sofrendo constantes torturas físicas e psicológicas e obrigado a se confessar
como espião a mando dos Estados Unidos.
É possível perceber que o filme faz
uma forte propaganda pela liberdade, coragem e lisura do governo
norte-americano em suas relações internacionais – o que passa longe de ser
verdade - e mostra os repressores iranianos como amadores e paranoicos sobre
espionagem.
A questão mais válida no longa é a
intensa mobilização internacional que começou na internet por meio das redes
sociais e que foi decisiva para a liberação do jornalista após quase quatro
meses.
Tal mobilização nas redes se
fortaleceu com o engajamento de políticos e organizações em defesa dos direitos
humanos que não agradaram em nada as autoridades do Irã, que após a vitória de
Ahmadinejad sofreram denúncias de suposta fraude na eleição.
Foto: Diamond Films / Reprodução. |
As cenas dentro da cela são
comoventes e angustiantes. Bahari se encontra sozinho entre pensamentos reais e
devaneios com as aparições de seu pai e sua irmã mortos anos antes também
devido à repressão do governo iraniano. Além disso, ele sofre por não saber
notícias de sua esposa grávida na Inglaterra.
Porém, tais devaneios o ajudaram a
superar as incertezas do cativeiro, com lembranças de filmes, livros e músicas.
Uma das cenas mais divertidas é dele dançando ao som mental da música Dance Me to the End of Love, do cantor
canadense Leonard Cohen, sendo observado com surpresa por seu algoz.
Como jornalista, acostumado a criar e
contar boas histórias, ele ameniza os dias de detenção entretendo seu
torturador com uma história floreada de teor erótico, o levando a vibrar, imaginando o quão prazeroso seria tais atos de libertinagem.
Sua intenção era alcançar assim o ponto fraco dos fundamentalistas dando vida
aos desejos e perversões oprimidos.
A alfinetada do filme fica por conta
do raso discurso iraniano de suprir a liberdade individual pelo bem da
liberdade coletiva e também pelo uso das mesmas técnicas de tortura
empreendidas pelos Estados Unidos e a Rússia.
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*Perfil: Sílvia Amâncio é jornalista, entusiasta da Sétima Arte e de um tanto de outras coisas. Especializada em comunicação em projetos ambientais e especializando em Comunicação e Saúde. Costuma escrever sobre relações viróticas de trabalho, saúde, direitos humanos e mídia, sempre levando para o lado latino-americano e socialista da vida ao sul da fronteira.
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