#CaféEntrevista: Vivian de Oliveira fala sobre “Os Dez Mandamentos"
março 23, 2015Vivian de Oliveira é autora da primeira novela bíblica da TV, "Os Dez Mandamentos". Foto: Munir Chatack / Rede Record / Reprodução. |
Um divisor de águas na
teledramaturgia da Rede Record,
literalmente. Esta é a missão da novela Os Dez Mandamentos,
que estreia nesta segunda-feira (23/03), às 20h30. A história bíblica adaptada
pela roteirista Vivian de Oliveira e dirigida por Alexandre Avancini tem ares
de superprodução e quer recuperar a audiência da faixa de novelas da emissora.
Considerada a primeira novela bíblica da TV brasileira, Os Dez Mandamentos tem um orçamento de
R$ 700 mil por capítulo, externas gravadas no gravadas nas ruínas de Pukará de Lasana, no deserto do
Atacama, no Chile; e em um trigal na cidade de Guarapuava, no Paraná. Também
foram feitas imagens no Mar Vermelho, Monte Sinai e Rio Nilo, no Egito, mas sem
o elenco.
Para falar sobre este novo trabalho,
entrevistei a autora Vivian de Oliveira
para produção da reportagem sobre a estreia de Os Dez Mandamentos, publicada na edição
de fevereiro/2015 da Revista Vox Objetiva. A entrevista completa com a
autora você confere na íntegra, com exclusividade, aqui no Café com Notícias. Acompanhe:
1)
Como surgiu a ideia de escrever a novela “Os Dez Mandamentos”? Você chegou a
acompanhar as gravações?
A ideia partiu da própria Record que
me propôs esse grande desafio. No início, era para ser uma minissérie, mas
depois vimos que a história tinha o potencial para render muitos capítulos. Foi
quando decidimos que Os Dez Mandamentos
seria a primeira novela bíblica do mundo.
Como o tema da história é bastante
complexo, dediquei muito tempo à leitura dos livros da Bíblia sobre o assunto e
também às pesquisas históricas sobre a época e a cultura dos egípcios, hebreus
e midianitas. Tenho na equipe dois historiadores (um especialista no povo
hebreu, outro no povo egípcio), uma consultora de hebraico e antigo testamento
e uma pesquisadora.
Por conta do tempo dedicado às
pesquisas, ao planejamento das tramas e da novela como um todo e,
principalmente, o tempo que se leva para escrever os capítulos, acabo não
conseguindo acompanhar as gravações. Mas vi algumas imagens e estão belíssimas.
Vivian ao lado do diretor Alexandre Avancini na coletiva de "Os Dez Mandamentos". Foto: Munir Chatack / Rede Record / Reprodução. |
2)
Como foi o processo de pesquisa e composição dos personagens? O telespectador
irá encontrar personagens novos ou não?
A pesquisa começou muito tempo antes
da criação da novela. Foi a pesquisa que
me deu as primeiras diretrizes do que eu poderia fazer e até hoje ela é
fundamental. É um processo contínuo e extenso. Os historiadores nos auxiliam o
tempo todo. Eles leem os capítulos e nos dão subsídios para escrever algumas
cenas. Muitas vezes, entretanto, preciso deixar a verdade histórica de lado e
fazer valer a liberdade poética. Afinal de contas, estamos escrevendo uma
novela e não um documentário.
O fato de se tratar de uma novela
bíblica e de época esbarra em muitas limitações em função do que poderia ser ou
não feito no tempo histórico que estamos tratando. Nem todas as ideias são
viáveis. Em contrapartida, a novela também se beneficia pelos inúmeros tabus e
costumes inusitados que existiam naquele período, que geram muitos conflitos e
conflito é o que move uma boa história.
Quando eu começo a criar os
personagens, foco primeiro naqueles que já estão citados na Bíblia. Na história
de Moisés, por exemplo, já é dito alguma coisa sobre sua mãe de sangue, sobre a
irmã, o irmão, sobre o pai. Temos também dados que nos revelam que a mãe
adotiva de Moisés é a filha do faraó do Egito e que ela teve compaixão de
Moisés quando ele era bebê, mesmo sabendo que seu pai havia decretado a morte
dos bebês hebreus. Enfim, tudo o que está na Bíblia, eu uso como material
principal e depois vou preenchendo o entorno.
Elenco reunido durante a coletiva de lançamento da novela "Os Dez Mandamentos". Foto: Munir Chatack / Rede Record / Reprodução. |
Aprofundo também os personagens
bíblicos, pois muitos deles são apenas mencionados, não conhecemos nada sobre
eles. Dou a eles uma personalidade, uma história de vida. Em seguida, crio os
personagens fictícios. A filha de faraó tinha damas de companhia, por exemplo.
Não é citada nenhuma em especial. Inspirada nesse dado, criei Yunet, uma
personagem que não está na Bíblia, mas que é muito importante na novela.
O pai adotivo de Moisés foi criado
como o general do faraó. A forma como os personagens se relacionam, os
conflitos que enfrentam, tudo isso é criado. Tanto uso a ficção como os eventos
que são narrados na Bíblia. Tudo é muito bem dosado para gerar interesse e não
corromper a narrativa bíblica original.
3)
Como foi para você adaptar uma história bíblica que é comum para cristãos,
islâmicos e judeus? O que o telespectador pode esperar desta novela?
Está sendo um grande prazer adaptar
a história de Moisés, que é muito mais ampla, na verdade. Os Dez Mandamentos trata da fundação de uma nação e de uma história
que impactou a humanidade como um todo. Acredito que o público vai se
surpreender e se emocionar com uma história que explora as mais variadas
facetas dos dramas humanos e familiares, assim como retrata o que a fé de um
povo é capaz de produzir. Os Dez
Mandamentos vai mostrar ainda os prodígios e maravilhas que serão operados
por Deus para libertar seu povo da escravidão.
4)
Estamos vivendo uma época de intolerância religiosa. Você acredita que, de
alguma forma, uma novela bíblica pode ajudar a fomentar este tipo de debate na
sociedade para que as pessoas passem as respeitar as outras crenças?
Mostramos na novela tanto os
egípcios que acreditam em vários deuses e os hebreus que são fieis apenas ao
Deus de Israel. São duas visões, mas não fazemos apologia a nenhuma crença em
particular. Na novela existem os que respeitam as outras crenças e os radicais,
como é na vida real. Tudo é passado pelo
ponto de vista dos personagens. A novela não tem intenção de entrar nesse debate.
Se isso acontecer, espero que seja uma coisa boa.
Fotos: Munir Chatack / Rede Record / Reprodução. |
5)
“Os Dez Mandamentos” também terá muitas locações no exterior e um resgaste
histórico de uma época muito distante da realidade do telespectador. Para você,
como roteirista, como foi mergulhar neste universo?
É maravilhoso entrar em contato com
outros povos, outras culturas, outros costumes e com novas formas de agir e
pensar. Mas no final das contas, o que vale mesmo é aprender que o ser humano é
o mesmo, independente do lugar que mora e da época em que vive.
Amor, ódio, inveja, ambição, fé,
ciúme, solidariedade, egoísmo e todos os outros sentimentos a que estamos
sujeitos são comuns a todos os povos de todos os tempos. Creio que é por isso
que as pessoas se identificaram tanto com as minisséries bíblicas e agora isso
vai continuar acontecendo com a novela. Os dilemas e conflitos humanos podem
ser compreendidos, porque continuam os mesmos de sempre.
6)
Você também já adaptou outras histórias bíblicas que foram transformadas em
séries pela Record. Agora, você vai ser a autora da primeira novela bíblica da
TV. Sente que a responsabilidade aumentou? Quais são os principais desafios?
A responsabilidade aumentou e muito.
O maior desafio na verdade é o grande volume de trabalho. Apesar de ser um
trabalho que requer muita criatividade, isso pra falar a verdade, é o de menos.
Inspirados ou não, temos que escrever. A pressão é enorme, diariamente.
Tenho quatro escritores que escrevem
comigo: Joaquim Assim, Paula Richard, Emilio Boechat e Alexandre Teixeira. A novela
consome a equipe quase em tempo integral, com pouco espaço para folga e vida
pessoal. Chega a ser exaustivo, muitas vezes. Mas ao mesmo tempo é um trabalho
muito apaixonante. Como dizem nossas personagens hebreias: "Emuná!" É preciso ter fé. É o que tem me sustentado.
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