Crowdfunding oferece novas possibilidades para o Jornalismo

julho 25, 2014

Foto: Site Salon / Reprodução.


Na seção Café Convidado desta semana, a jornalista Natalia Viana, diretora da Agência Pública, escreveu um artigo muito interessante sobre crowdfunding. Trata-se de uma ação que consiste em mobilizar pessoas e empresas na internet para o financiamento de projetos empreendedores nas mais diversas áreas. Para Natalia, este sistema oferece novas possibilidades para o Jornalismo se estabelecer de modo empreendedor e colaborativo. Abaixo, confira o texto:


Os dez mandamentos do crowdfunding



Por Natalia Viana*



Ontem, no 9º Congresso da Abraji, tive a oportunidade de trocar algumas experiências sobre como organizar uma campanha de crowdfunding para jornalismo. Estava muito bem acompanhada: na mesa, estavam Natalia Garcia, a primeira jornalista no Brasil a financiar um projeto por crowdfunding – o Cidades para Pessoas – e a Sabrina Duran, que toca o projeto Arquitetura da Gentrificação.

As duas campanhas de crowdfunding aconteceram antes do Reportagem Pública e nos ensinaram muito. A Natalia, em especial, foi nossa “guru” desde o começo e nos deu dicas valiosas, muitas das quais foram ampliadas para o primeiro financiamento coletivo da Agência Pública.

O papo foi tão bom que achamos bacana compartilhar aqui, com os nossos leitores. Vamos começar pelo começo. O projeto Reportagem Pública durou 45 dias em agosto e setembro de 2013 e arrecadou R$ 58.935 de 808 apoiadores, distribuindo 12 bolsas de R$ 6 mil.

A Pública recebeu 125 propostas de reportagem e selecionou 48 delas, votadas pelos doadores através de um hotsite especial, no qual também podiam comentar as propostas e se voluntária para ajudar os repórteres. A ideia do projeto era testar as possibilidades de colaboração em jornalismo investigativo, engajando público e repórteres na realização de pautas de interesse mútuo, eliminando os intermediários.
Foto: Site Publiki.me / Reprodução

Durante os meses que antecederam a campanha, as diretoras da Pública trabalharam na estratégia. A campanha teve slogans como “Queremos mais repórteres nas ruas”, “Queremos mais investigações que importam”. Estabelecemos uma rede de apoio com aliados próximos, como as organizações Escola de Ativismo, Barão de Itararé, Rosental Calmon Alves, Intervozes e Mídia Ninja.

Obtivemos também o apoio da fundação Omidyar Network, que proveu “Matching Funds” para o projeto: a cada real arrecadado, a fundação deu mais 1 real dobrando o valor final e possibilitando a doação de mais bolsas para jornalistas.

Uma lição importante foi a necessidade de engajar todos os que querem participar do projeto. Por isso, os doadores puderam não só votar nas pautas, mas também trocar mensagens com os repórteres, através do hotsite que fizemos para o projeto, e também através do grupo de e-mail que criamos para todos os que participaram. O grupo se mantém ativo até hoje e tem sido fonte de informações para membros da academia que estão estudando o Reportagem Pública.

Outra lição muito importante que aprendemos foi penar na campanha como uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Não vale “queimar a largada”, como fez o Brasil diante do time da Alemanha na Copa… É preciso fazer uma estratégia para cada semana, buscando grupos diferentes que podem se interessar pelo projeto, com uma tática diferente para cada uma das semanas, ângulos diferentes do projeto, e usando diferentes materiais de campanha (imagens/videos). Afinal, ninguém quem ficar tempo todo te ouvindo só pedir dinheiro, né?
Foto: Blog Reid Hoffman / Reprodução.

Esse vídeo aqui é um exemplo. Com ele, mostramos que a Pública precisava da ajuda dos seus leitores e simpatizantes, sem ficar reforçando o pedido por dinheiro. E ainda sobrepomos Frida Kahlo ao Tio Sam, de brinde: http://youtu.be/oixO1GDDly4

Teve ainda muitas lições que aprendemos no caminho. Fiz, logo depois do final do projeto, uma lista com os “dez mandamentos” do Crowdfunding, segundo tudo o que aprendemos por aqui. A lista está abaixo, item por item, mas quiçá o maior e mais interessante de todos os aprendizados diz respeito à natureza mesma da campanha que fizemos.

A campanha inspirou jornalistas em todo o Brasil a apostar em grandes investigações e no crowdfunding. Conseguimos financiar e produzir – com muito trabalho! – 12 séries de reportagens muito bacanas, que podem ser vistas aqui.

Muitos outros grupos se seguiram, e temos tentado ajudar no que podemos – claro, nem sempre temos tempo! Mas o essencial é o seguinte: o crowdfunding não é apenas uma maneira de levantar dinheiro; é uma maneira espalhar novas ideais e convidar pessoas para fazerem parte da sua construção.

Dez mandamentos do crowdfunding:

1) O projeto tem que existir: seja honesto com você mesmo e acredite

2) Convide as pessoas a participar

3) Ouça o que os mais experientes e mais velhos têm a dizer

4) Seja organizado, desenvolva uma boa estratégia e a leve a sério

5) Seja transparente em relação a metas, intenções e uso do dinheiro

6) Encontre bons parceiros de caminhada, que sejam comprometidos com a causa

7) Fale, fale, fale muito sobre o seu projeto, fale o tempo todo

8) Mantenha sua palavra. Cumpra tudo o que prometer

9) Comemore cada apoio que você receber. Mantenha-se animado.

10) Esteja cercado por um grupo ou equipe que vai abraçar o projeto, questionar cada detalhe, trabalhar horas extra, sofrer e rir com você






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*Perfil: Natalia Viana é jornalista investigativa independente. Passou por diversos veículos como o Terra, Caros Amigos, além de ter colaborado com matérias para revistas e jornais internacionais. É diretora da agência Pública, uma agência independente de Jornalismo Investigativo. Recebeu o Troféu Mulher Imprensa 2013.









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