#Luto: Morre o cinegrafista Santiago Andrade e nasce um basta contra a violência

fevereiro 11, 2014

Foto: TV Bandeirantes / Reprodução.


A imprensa está de luto. Faleceu nesta segunda-feira (10/02), o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, aos 49 anos de idade. Na semana passada, ele foi atingido na cabeça por um rojão, enquanto estava cobrindo as manifestações contra o aumento da passagem do transporte público no Rio de Janeiro.

Santiago, assim como outros colegas da imprensa, estava trabalhando. TRABALHANDO. A carta no qual a filha dele se despede do pai foi replicada em vários veículos, portais e blogs. Uma homenagem que resume todo o amor de uma filha para um pai. Dá um nó na garganta!

O cinegrafista é a primeira morte registrada de um profissional da imprensa trabalhando durante as manifestações. E isso é muito sério! Sério, porque no ano passado, alguns outros colegas da imprensa foram agredidos verbal e fisicamente durante as manifestações. Quem não se lembra da jornalista da Folha de S. Paulo que foi agredida com uma bala de borracha nos olhos?

Ela é só um exemplo de outros muitos colegas que também foram agredidos. Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), desde junho de 2013, foram 118 profissionais que sofreram algum tipo de violência enquanto trabalhavam nas manifestações. Isso é preocupante!

A questão que mais me preocupa – e, de forma humilde, espero que a sociedade também se junte a esta reflexão, é que de certa forma existe sim uma perseguição aos jornalistas (ou aos veículos que eles representam), seja por grupos violentos disfarçados de manifestantes, seja por policiais/autoridades.



Quando a imprensa é calada a democracia corre um sério risco de permanecer plena. O caso do Santiago poderia também ter acontecido com um popular que estava na rua naquele exato momento. Prefiro acreditar que aquele rojão não foi jogado intencionalmente, mas o explosivo, naquele trágico momento, fez uma vítima fatal. E essa vítima foi um profissional da imprensa.

Muitas vezes, nós jornalistas vamos às ruas cobrir manifestações ou qualquer outro tipo de pauta ligado às coisas da cidade com a cara e a cara coragem. Querendo dar o melhor de si para trazer a notícia no exato momento em que ela acontece, sem saber ao certo o que terá de segurança naquele local.

Somos corajosos? Não. Somos idealistas. Acreditamos que a informação é um instrumento de mudança social. Estamos do lado do povo. Somos o povo. O rojão, a bala de borracha, o spray de pimenta, o soco na cara, a multidão quebrando o patrimônio público não trouxeram mudança. Trouxeram medo, revolta e injustiça. Destruíram uma família. Deixou sequelas.

Não conheço o Santigo, nem a família dele. Mas a sensação que eu tenho é que como se fosse alguém próximo a mim, um membro da família ou um colega de trabalho daqueles que a gente nutre um carinho por dividir as histórias do dia-dia.

O jornalismo é uma profissão que exige muita dedicação. Nossos companheiros de redação acabam se tornando a nossa família. São pessoas com quem a gente divide a maior parte do dia as alegrias e as tristezas de escolher o jornalismo como profissão.

Passa um filme na cabeça. E creio que é por isso que todos os colegas da imprensa se sensibilizaram tanto com esta tragédia que aconteceu com o Santiago, durante mais um dia de trabalho. Poderia ter acontecido com qualquer um de nós.

O problema em si não são as manifestações. A questão é a violência gratuita que insiste em querer se mostrar mais forte. Quando acontecem episódios de violência nas manifestações o foco muda. Será que ninguém está vendo isso?

É extremamente saudável que consigamos unir o povo para cobrar mudanças no nosso país. Mas não podemos permitir que as manifestações estejam associada à violência.

Não vamos permitir que grupos minoritários desvirtuam os rumos das manifestações por mudança social para ataques violentos. Não podemos permitir que outros colegas da imprensa – e, principalmente, o povo que vai às ruas de forma voluntária se manifestar, vire notícia por conta da onda de violência.

Não permitiremos que a polícia não defenda o povo e que a Justiça tenha apenas uma face. Coloquemos a boca no trombone! Vamos voltar às ruas quantas vezes for preciso para dar um grito de liberdade por uma sociedade menos violenta e mais tolerante. Morre o cinegrafista Santiago Andrade e nasce um basta contra a violência.

Em tempo

O Jornal Nacional (JN) fez uma cobertura muito bem feita de toda essa tragédia envolvendo o cinegrafista Santiago Andrade. Não houve pudor algum de dizer que Santiago era funcionário da TV Bandeirantes, muito menos de dar espaço ao caso citando todos os desdobramentos que envolvia a história.

Foi de uma sensibilidade muito rica o editorial lido por William Bonner e mais tocante ainda o final do telejornal que, ao prestar um minuto de silêncio sem trilha, colocou a imagem de Santiago ao fundo com a redação batendo palmas, como forma de homenagear um colega que morreu trabalhando. Foi emocionante! Um momento raro e marcante no telejornalismo.






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Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

1 comentários

  1. Oi, Wander! Li o post de hoje com muita, mas muita tristeza mesmo. Teria muito a dizer sobre o assunto, mas tô sem palavras, quem sabe mais tarde. Esse fato trágico nos remete fatalmente a toda resistência que tem crescido no Brasil contra a imprensa, notadamente aos chamados gigantes da comunicação. Fico triste. É muito ódio sendo difundido.

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