#CaféLiterário: Livro “A Voz do Alemão” e a importância do empreendedorismo social

janeiro 08, 2014



A seção Café Literário está de volta! E para começar os trabalhos em 2014, não podia de deixar de escolher um livro muito especial para mim e que há tempos merecia uma resenha: o livro A voz do Alemão, escrito pela jornalista Sabrina Abreu e por Renê Silva, o criador do jornal A Voz da Comunidade, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

Em agosto do ano passado, no UniBH, em Belo Horizonte, aconteceu o lançamento do livro. E eu, é claro, compareci ao evento. Comprei o livro no local e ainda descolei uma dedicatória dos autores do qual assumidamente sou fã.

Conheci a Sabrina Abreu pessoalmente em 2011, durante a cobertura do aniversário do programa Altas Horas, da Rede Globo, no Inhotim. Desde então, tenho contato com a Sabrina via redes sociais e a acompanhava o trabalho dela pelas revistas do qual ela trabalhou. Sabrina tem um texto muito gostoso de ler e, na minha opinião, é uma das melhores jornalistas de impresso que conheço.

Já o Renê Silva conheci via Twitter, durante a cobertura da Pacificação no Alemão. Pelos noticiários, vi que o Renê é um personagem muito rico pelo fato de ter criado, aos 11 anos de idade, um jornal local.

Além disso, acho super bacana o fato dele promover na comunidade em que mora diversas ações culturais com o apoio de empresários e celebridades, como Luciano Huck e Preta Gil. Tem que ter um coração muito bom para fazer isso que ele faz, sempre pedindo pelos outros e quase nunca para si próprio.
Foto: Correio de Uberaba / Reprodução.

Foi via redes sociais que descobri que a Sabrina estava escrevendo um livro sobre a história de Renê e este momento emblemático do Alemão. Logo de cara fiquei mega entusiasmado porque é uma história com um potencial magnifico e que com certeza ajuda o Brasil contemporâneo a entender melhor a sua história recente.

Além disso, por conta da novela Salve Jorge, de Glória Perez, do qual Renê atuou interpretando ele mesmo e ajudando a autora na pesquisa para os assuntos que envolviam o Complexo do Alemão, tinha em mente que o livro era um ótimo gancho a ser explorado. Por exemplo, a personagem Adriana da Empadinha, existe de verdade e tem uma história de luta, superação e empreendedorismo que é super positiva. Só lendo o livro para entender!

Mesmo com as críticas que Salve Jorge teve durante o tempo que esteve no ar, foi a primeira vez que uma novela das 9 da Rede Globo abriu espaço para uma protagonista da favela, tendo vários personagem coadjuvantes e do seu próprio núcleo da comunidade. Creio que essa conquista ajuda de uma certa forma tirar um pouco da invisibilidade social da favela e, quem sabe, diminuir o preconceito.

A própria Nanda Costa, que viveu a heroína Morena, em Salve Jorge, já afirmou em diversas entrevistas que as pessoas (e até jornalistas) a abordam falando como é bacana ter vivido uma protagonista da favela numa novela da Globo e acreditando que ela é mesmo do Complexo do Alemão, sendo que a atriz é natural de Parati, no Rio de Janeiro.

Bom, voltemos a falar de A Voz do Alemão. Assim que adquiri o livro, li numa sentada. Pensei em escrever uma resenha para o Café com Notícias, mas me faltava tempo. 2013 foi um ano de muito trabalho e espero que em 2014 seja tão bom quanto.

Sempre deixava a resenha para a próxima semana. Até que nas minhas férias em outubro, levei o livro na viagem para reler e fazer a resenha. Mas quem disse que eu escrevi? Li o livro novamente, mas me dei de presente a missão de descansar um mês. Era preciso para recarregar as energias.

Como naquela época o Tiago Pereira estava assumindo a produção do Café Literário pensei em deixar a resenha para outro momento.

Eis que esse momento chegou! Tinha que começar a edição 2014 da seção com este livro. Uma leitura tão gostosa e intimista, que me trouxe a sensação de ter andado ao lado de Sabrina, Renê e os jovens repórteres do A Voz da Comunidade pelas ruas, becos e vielas do Complexo do Alemão, descobrindo cada detalhe desta história.

O livro A Voz do Alemão começa com um mapa do Complexo do Alemão, que reúne cerca de 15 favelas. É importante ter esse entendimento, porque para alguns leitores leigos – como o meu caso, acha que o Alemão é um lugar só, quando na verdade é a “reunião” de várias comunidades.

A obra conta um pouco da história de Renê de Silva, o adolescente que ficou conhecido no Brasil e no mundo por noticiar, via Twitter, em primeira mão, tudo que acontecia no Complexo do Alemão, em 2010, durante o confronto entre policiais, militares do exército e traficantes para a pacificação da área e, consequente, entrada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Mas, para a minha surpresa, o livro consegue ir muito além da história de Renê Silva. A obra mostra também outros tantos personagens da vida real do Complexo do Alemão que, ao lado de Renê, ajudam a mudar o olhar sobre a favela, resgatando a autoestima dos moradores e mostrando que é possível vencer na vida sem ir para o mundo do crime, graças ao empreendedorismo social.
Foto: Blog Sabrina Abreu / Reprodução.

Imagina viver em um lugar que até três décadas atrás era considerado um lugar perigoso, uma rota para crime organizado e que era citado na imprensa apenas de forma negativa e pejorativa.

A pacificação trouxe um novo olhar para o Complexo do Alemão. Agora, é o local onde mora o Renê Silva e os meninos do A Voz da Comunidade. É também o cenário da novela Salve Jorge e visita obrigatória de diversos turistas que fazem questão de andar de bondinho e conhecer as atividades culturais das comunidades.

Mais do que uma forma de revelar as muitas histórias que existem no Complexo do Alemão, o livro é um registro histórico desse momento de transição do local. É claro que a violência existe. Muitos moradores não quiseram ter o nome divulgado por ainda temer o “movimento”, por exemplo.

Mas, o que até bem pouco tempo atrás traficante era visto como “alguém que venceu”, o livro deixa claro que houve esta ruptura: os jovens do Alemão (e acredito que de outras comunidades do Brasil) também estão atrás de exemplos positivos, não só na música, como no esporte e na produção intelectual/artística. A voz da comunidade ecoou e ganhou o mundo. Graças a Deus!




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Jornalista

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