#CaféLiterário: Livro "O Arroz de Palma" é delicioso como almoço de domingo
novembro 21, 2013Bem-vindo ao Café Literário, a sua dose semanal de literatura! Nesta temporada, a seção está sob os cuidados do escritor em formação, apaixonado por literatura e autor do blog Escriba Encapuzado, Tiago K. Pereira*, novo colunista do blog @cafecnoticias. Semanalmente, você irá conferir por aqui novidades do mundo literário, entrevistas, resenhas e, até mesmo, sorteio de livros.
Saudações literárias. O Café Literário desta semana traz a resenha de um romance repleto de poesia e belas mensagens. Trata-se
da estreia do dramaturgo carioca Francisco Azevedo no mundo da literatura com o
livro O Arroz de Palma. Acompanhe:
Moldado pela poesia
Natural do Rio de Janeiro, Francisco José Alonso
Vellozo Azevedo se dedica à literatura desde os 16 anos. O talento foi logo reconhecido
em 1969 quando, aos 18, conquistou o segundo lugar do I Festival da Poesia com seu Poema do fim do mundo.
Nesse mesmo ano, Azevedo foi premiado no concurso Jovem
Embaixador, no qual foi agraciado com uma bolsa de estudos para os Estados
Unidos e que fundamentou a carreira dele como diplomata, profissão que exerceu
entre 1973 e 1981.
Em 1978 publicou seu primeiro livro, Contra os
Moinhos de Vento, coletânea de poemas e prosas poéticas.
Lançando-se por inteiro ao mundo das palavras a partir de 1982, Azevedo
escreveu roteiros publicitários, documentários e textos para mídias diversas,
sempre dispondo da poesia. Em 1984 lançou A Casa dos Arcos,
sua segunda obra.
A carreira de dramaturgo teve início na década de 1990
quando estreou com Casa de Prostituição
Anaïs Nin, peça inspirada na vida e na obra desta escritora francesa. Entre
os trabalhos mais aclamados dele incluem Unha e Carne e Coração na
boca. A estreia como romancista se deu somente em 2008, justamente com O
Arroz de Palma, livro que figurou entre os 10 finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura do ano
seguinte.
Resenha: O Arroz de Palma
Em sua fazenda, Antônio prepara um almoço para
celebrar seu 88º aniversário e o centenário de casamento dos pais falecidos.
Ansioso pela reunião de várias gerações de sua família, o cozinheiro veterano é
inundado por uma torrente de lembranças de sua herança portuguesa, abençoada por
sua saudosa Tia Palma com um arroz sagrado que é símbolo de fertilidade e amor
eternos.
O Arroz de
Palma é uma história de família. Através das memórias de
Antônio, primogênito dos quatro filhos dos imigrantes José Custódio e Maria
Romana, o leitor acompanha os 100 anos de uma saga marcada por casamentos,
separações, intrigas, sabedoria, celebrações, pesares e algo de místico na
porção de arroz que atravessa os anos sem nunca se estragar.
Ainda que ficção, o livro foi inspirado nas raízes do
autor e foi inicialmente concebido como uma peça de teatro em 1986 – nesta
época, Azevedo se mudou para o interior do Rio de Janeiro, onde viveu por
quatro anos na fazenda de Santo
Antônio da União, palco principal da história. Lançado em 2008, O Arroz de Palma se tornou sucesso de
vendas sem qualquer estratégia de marketing – bastaram o boca a boca e a
disponibilização de um trecho do
primeiro capítulo nas redes sociais.
Esse
texto despertou meu interesse pela obra ao vê-la por acaso em uma livraria, mas
foi apenas quando uma leitora apaixonada a indicou que me arrisquei neste que
não é um de meus gêneros favoritos. E não me arrependi. A poética, as metáforas
criativas e as belas construções de Azevedo são cativantes e tornam o livro
delicioso.
Escrita
em primeira pessoa, a narrativa mergulha nas reflexões de Antônio e representa
bem a complexidade do pensamento: a todo o momento o protagonista perde-se em
seus devaneios e encontra-se em suas reminiscências.
É
inusitado o modo como o personagem-narrador às vezes compartilha recordações alheias.
O autor brinca com isso: a certa altura, faz Antônio entender-se como passado,
presente e futuro de si mesmo.
O Arroz de Palma é sobre o mundano – os personagens nem
sempre se envolvem em grandes aventuras ou lidam com reviravoltas surpreendentes,
daí a sensação inevitável de familiaridade que acompanha o leitor ao longo do
texto.
Contudo,
há ali um misticismo sutil, presente no arroz bento que perdura por um século,
na sugestão de reencarnação, na ciclicidade da vida humana. O autor construiu
passagens belíssimas que levam a refletir sobre extremos, relacionamentos, Deus.
A qualidade do livro reside nas mensagens transmitidas
pelo lirismo do talentoso autor, já que o enredo simplíssimo é desvendado por
um breve calendário presente nas páginas finais. Azevedo acerta a mão
principalmente nos capítulos iniciais e finais, mas escorrega no miolo: algumas
cenas excessivamente melodramáticas dão ao romance um incômodo ar novelesco.
A história empobrece um pouco ao focar na vida de
Antônio, sujeito tão abençoado que, aparentemente, jamais encontra obstáculos
em seu caminho – e nem mesmo o único pecado que cometeu em toda a vida lhe
trouxe quaisquer consequências práticas ou emocionais. A verdade é que os pais
e a tia lusitanos, os irmãos e os próprios filhos são figuras bem mais
interessantes que o protagonista.
Para ser apreciado sem pressa, O Arroz de Palma tem defeitos, mas nenhum que tire seu brilho. É um
livro para ter na estante, para reler e refletir, para indicar a amigos e
parentes. É, acima de tudo, literatura da mais alta qualidade e delicioso como almoço de domingo.
*Perfil: Tiago K. Pereira é escritor de coração e servidor público por necessidade. Aficionado por letras, livros e curiosidades do mundo nerd, Tiago busca realizar seu sonho de se tornar um escritor profissional. Entre rascunhos de histórias e telas de programação, ele se aproxima do mundo da literatura escrevendo no Escriba Encapuzado e para a seção Café Literário do blog Café com Notícias.
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