Sobre a polêmica das biografias e do direito à privacidade
outubro 17, 2013
Ainda nas minhas férias, durante a
viagem que fiz para Prado, na Bahia, ao acessar o Twitter via celular, me
deparei com um tweet do @genetonmneto indicando um link de um texto escrito pelo jornalista Mário
Magalhães, biógrafo e autor do livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou
o mundo”, lançado em 2012 pela editora Companhia
das Letras.
Marquei o tweet para ler mais tarde.
Fiquei curioso. Mário fez um relato muito íntimo de como ele largou um trabalho
bem remunerado como jornalista de redação para se tornar biógrafo de Marighella.
Ele viu seu patamar de vida cair de forma drástica. Após o livro ser lançado,
ele conseguiu vender os direitos para um cineasta, mas não ficou rico.
Mais do que falar da grana que ganhou
– ou que deixou de ganhar, por se dedicar integralmente ao livro, Mário fala dos
sacrifícios econômicos e emocionais que a realização deste sonho lhe custou.
Mário levantou uma lebre sobre a questão das biografias não autorizadas no
Brasil serem passíveis de censura.
@mariomagalhaes_ ,autor da biografia de Marighella,faz artigo definitivo sobre a Lei da Mordaça Biográfica.Brilhante: http://t.co/PUR0eiuuxb
— geneton moraes neto (@genetonmneto) October 11, 2013
Sim, censura. Atualmente, existe uma
lei que permite que o biografado, a família dele ou o empresário, por exemplo, não
deixe a obra ser publicada por não concordar com o rumo que a história foi
contada. E isso vale, sobretudo, para biografias contadas sobre o prisma do
jornalismo investigativo.
Colocam no mesmo saco do “não pode”,
políticos, criminosos, artistas ainda vivos (ou mortos, no caso seus familiares
ou donos dos direitos) de terem direito a intimidade – que não pode ou não deve
ser devastada. Dentro desta polêmica das biografias, esta semana teve até Chico Buarque se esquecendo da entrevista
que deu para o biografo Paulo César Araújo.
Para colocar ainda mais lenha na
fogueira, no programa Saia Justa, do
GNT, desta quarta-feira (16/10), a jornalista Bárbara Gancia e a empresária
Paula Lavigne travaram uma
discussão homérica por conta deste debate da polêmica das biografias e
o direito à privacidade.
O que o direito à privacidade tem a ver com a censura prévia a biografias? #saiajusta
— barbara gancia (@barbaragancia) October 17, 2013
A disputa entre a Paula Lavigne e a @barbaragancia no #saiajusta deve estar melhor que qq partida do Brasileirão agora
— Cristian Dutra (@cristiandutra) October 17, 2013
@barbaragancia Uma indelicadeza falar da sua opção sexual e te fazer citar o nome da sua namorada. Que diferença faz? Poderiam ser héteros.
— Itamar Montalvão (@imont) October 17, 2013
Paula Lavigne representa um grupo de
artistas – entre eles Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Gilberto
Gil, Milton Nascimento, Djavan, Chico Buarque, que formaram o grupo Procure Saber. Eles querem ter
garantido o direito à privacidade, de não ter a vida devastada por biografias (não autorizadas) e com editoras/autores lucrando em cima da vida deles.
Acho isso complicado. E, em alguns
casos, parece até uma censura
judicializada. Se houve um trabalho de apuração, se o que foi contado na
biografia é verdade, qual é o motivo da proibição? A intimidade ou a questão
econômica?
Uai, mas se fulano é figura pública,
qual é a diferença de uma bibliografia feita sob o prisma do jornalismo
investigativo para uma reportagem publicada em um jornal ou na internet?
Particularmente, ainda não consegui
entender a visão dos artistas que não querem ter a vida retratada em uma
bibliografia (não autorizada). Uma coisa é querer suspender um livro que falou
uma mentira a seu respeito, outra é proibir porque eu não gostei do jeito que
esta história foi contada.
Com leis que dão margem a uma interpretação
cada vez mais particular e com uma Justiça apta atender um grupo em detrimento
do outros, tenho medo de onde vamos parar.
O meio termo é necessário, sim. Mas
vamos ter cautela e lembrar de uma regrinha básica que os pais ensinam para as
crianças: mentira e verdade são duas coisas completamente diferentes. Só a
mentira que cabe punição.
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Jornalista
4 comentários
É decepcionante ver artistas do porte do Caetano Veloso e do Chico Buarque defender uma censura judicializada como essa das biografias. Tem que punir quem escreve um biografia mentirosa, não quem escreve algo baseado na verdade.
ResponderExcluirO que vejo nesta história toda é que os artistas não querem deixar de lucrar. Não tem nada a ver com privacidade, mas sim com publicidade.
ResponderExcluirO Brasil vive hoje uma nova forma de censura. Usam elementos legais para justificar medidas descabíveis como essa lei das biografias. Punir alguém que escreve uma biografia baseada na verdade e com relatos autênticos é um crime hediondo contra a liberdade de expressão e o direito a informação.
ResponderExcluirTem gente que depois que chega num certo status, esnoba jornalistas, biógrafos, público, televisão, enfim, tudo. Antes mendigavam por um espaço. Melhor esquecer esse povo e fazer uma biografia tipo da Gaby Amarantos, que vende até mais que a deles. E pronto.
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