#Crônica: Entre o ceticismo e a esperança de um mundo melhor

outubro 29, 2013



Com o passar dos anos, a idade deixa de ser apenas um ano a mais no calendário das nossas vidas e passa a ser, simplesmente, experiência. Algumas coisas não me surpreendem mais. Outras me comovem a ponto de encher os meus olhos de lágrimas, seja de alegria ou de tristeza. Tudo isso faz parte do lindo pacote chamado de relações humanas. Ame ou deixe-o.

Há quem prefira amar. Viver. Ciente ou não das suas escolhas, mas vivendo. E viver é uma condicionante fundamental para ter emoções. Para deixar-se inundado de sentimentos. Emoções por todos os lados. À flor da pele. E quando você sente, nem que seja "borboletas no estomago" ou um "frio na barriga", e sinal que você está vivo. Que quer amar e ser amado. Quer viver.

Amo a vida. Sou um admirador atuante e contemplativo. Às vezes, me perco num olhar. Um olhar diz tanta coisa. E a idade faz você descobrir que o mundo sempre foi assim desde o começo dos tempos. O que mudou mesmo foi a embalagem, mas o conteúdo...ah, esse sim continua mesmo.

Minto: muda uma coisa ou outra, mas a essência continua a mesma. Meu desejo particular é encontrar um meio termo entre o ceticismo e a esperança, mas a conta é difícil de fechar. O mundo não ajuda.

Repare só: a maturidade só chega quando você consegue aprender com os seus tombos. Daí você descobre que a sorte é um cavalo branco que passou correndo e resolveu voltar e parar na sua frente para te convidar para dar uma volta. Não é todo mundo que recebe esse convite, muito menos está preparado para montar.

Quem monta, nunca se esquece. E quem não monta, lamenta. E quem nunca viu o cavalo branco acha que ele não existe. Fica rancoroso, pessimista e descobre os fantasmas da inveja. Nas sombras daquilo que não conseguimos entender nasce a primeira constatação da fase adulta: o mundo é um lugar injusto e cruel. Quem disse?

Talvez seja esta uma das mais difíceis lições que uma pessoa que foi educada e que teve o amor possa sentir na pele tais emoções desprezíveis como a inveja, a maldade, a agressão e a mesquinharia. Todo mundo pode passar por momentos de ódio ou se é vítima de ódio. Faz parte da vida. Somos humanos.

E no mundo das emoções, tudo é possível. Até o ego ganha vez. Eu não dou o meu braço a torcer. Com isso, amizades são desfeitas por besteiras. Um casal se desfaz porque um insiste em mudar o outro e não aceitas as diferenças. Pais não aceitam os filhos. Filhos não aceitam os pais. Vizinhos não se bicam. Um colega tem inveja do outro. A intolerância reina e o mundo ganha a fama de injusto.

Tem gente que pensa assim: o que eu acredito é verdade absoluta e pronto. Quem pensa diferente “vai arder no mármore do inferno” e tenho dito. Quem consegue viver num mundo assim? É mais fácil culpar o mundo do que enxergar os próprios defeitos.

E o ceticismo? Ao sair de casa, vejo a violência todos os dias, seja na rua, seja nos noticiários. Vejo gente passando fome, sem ter o que comer ou onde morar. Vejo gente protestar por uma sociedade melhor. Vejo gente protestar quebrando a cidade inteira por diversão.

Vejo a polícia protegendo a autoridade e não a sociedade. Vejo a Justiça sendo injusta. Vejo o preconceito e a ignorância sendo usados como justificativa o tempo todo. Vejo a cegueira branca contada por Saramago. Não quero fechar os olhos. Quero outro tipo de luz.

É esse o mundo que quero para mim? Se quero mudar, começo por mim mesmo. Mudança de dentro para fora. Não dá para mudar o mundo sozinho, mas é possível fazer um mundo melhor a sua volta, nem que seja de grão de grão, com pequenos gestos.

É hora de parar de olhar para o próprio umbigo. É hora de se ver no espelho. É hora de estender a mão, de ter compaixão. Acredito em um mundo melhor quando eu paro de olhar para o balanço das horas e começo a prestar a atenção naquilo que está na minha volta.

Estendo a minha mão. Ofereço o ouvido. Te dou a minha atenção. Mostro a minha opinião, mas não ofendo quem pensa diferente de mim. Pratico o respeito. Admiro a vida que existe por detrás da janela. Tiro um tempo para mim e para os meus amigos. Ajudo sem esperar nada em troca. 

Acredito no universo. Na imensidão do céu estrelado ou do infinito da linha do horizonte. Recolho-me na minha insignificância e lembro: não sou o centro do mundo, apenas faço parte do mundo. E qual mundo quero para mim?

O que faço para mudar de vida? Eu reclamo ou aceito? Eu faço ou permaneço? Eu questiono. E descubro que nem tudo nesta vida tem resposta. Aliás, que graça teria na vida se tudo tivesse uma resposta. Talvez, a esperança esteja na pergunta. Será que ainda há esperança por um mundo melhor?




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Jornalista

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