Programa Mais Médicos causa mais polêmica do que solução

julho 23, 2013


Em junho, quando o povo foi às ruas protestar, uma das pautas mais reivindicadas foi a questão da saúde pública de qualidade. Em resposta, o Governo Federal apresentou o Programa Mais Médicos e causou mais polêmica do que solução.

Entre os médicos, não há um consenso sobre como o programa poderá melhorar a saúde pública. No entanto, não há dúvidas de que o Governo se sentiu pressionado e quis dar uma resposta emergencial, apesar da falta de diálogo com a categoria em questão.

De um lado há quem afirme que a falta de estrutura da saúde municipal é o principal problema. São muitos interesses. Outros, já acreditam que a ampliação do curso de medicina em dois anos com trabalhos no Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser um choque importante de realidade nos futuros médicos, uma vez que muitos se recusam a trabalhar no interior e nas periferias.

E ainda por cima, tem a questão dos convênios médicos. Algumas operadoras tem uma cartela tão grande de clientes que ocasiona uma demora fora do normal para o atendimento. É um posto a ser visto e discutido, mas deixamos isso para outro artigo.

Voltando ao assunto, uma das espinhas dorsais do Programa Mais Médicos atende pelo nome de Ato Médico. Trata-se de uma lei que regulamenta a prática médica no país e que traz pontos polêmicos, como a restrição ao diagnóstico de doenças e a prescrição terapêutica a médicos. Há quem vê como avanço de um lado e problema no outro.

E por falar em problema, outro ponto bastante divergente é a contratação de médicos estrangeiros em cidades com falta de profissionais. Os médicos de outros países que vierem atuar por aqui não terão de fazer o Revalida – prova para validação do diploma no Brasil, mas terão a supervisão de uma instituição de ensino.

As soluções apontadas pelo programa não agradaram os médicos brasileiros. Eles ficaram revoltados e fizeram protestos em várias cidades do país. A alegação é de que o principal problema da saúde pública se chama estrutura, falta de vontade política, e não a ausência de médicos.

No meio desse jogo, está a população. A parte que mais sente na pela quando há uma greve de médicos ou quando um profissional liga para o centro de saúde em que está lotado e diz que não vai trabalhar porque a prioridade dele é o consultório ou o hospital particular em que dá plantão. Por incrível que pareça, isso é o que mais existe. Existe porque algumas cidades pagam mal os médicos ou não pagam.

O salário do médico pode até ser alto, mas é desgastante física e emocionalmente. É alto para os nossos padrões – falo nossos, me enquadrando na ala de possível paciente, assim como muitos brasileiros. Mas, para quem é da área, e precisa se atualizar constantemente, nem sempre é uma remuneração que satisfaça.

A profissão é quase um sacerdócio. São quase dez anos de estudos entre graduação, residência, especialização e capacitação empresarial para gerenciar ou abrir um consultório. É muito investimento pessoal e profissional.

Se pararmos para pensar, um universitário que faz medicina paga quase R$ 3 mil de mensalidade. Até mesmo o aluno que faz em universidade pública precisa ter uma renda alta para comprar livros, instrumentos, participar de seminários e se manter em um curso que exige dedicação integral. É preciso ter mais do que vocação!

Lidar com o SUS, para muitos médicos residentes, é desafiador. Ao mesmo tempo em que há bons exemplos de hospitais e centros de pesquisa de renome, há cidades em que não há sequer um centro de saúde básico. Ou ainda, quando um prefeito resolve investir na saúde e, após quatro anos, o outro descontinua o projeto ou não investe. Isso é triste.

Há também casos de cidades que ficam meses, anos, décadas, atrás de um médico e não conseguem contratar, por mais que haja concurso ou salário animador. Como resolver isso?

Talvez, o problema do SUS esteja mesmo nos municípios. Não todos, mas muitos deixam o interesse político falar mais alto do que o social. Já que estamos em um momento de revolução e debate, porque não levantar essa lebre? No final das contas, a população quer ser bem atendida. Já passou da hora de se resolver esta questão.





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Jornalista

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