#VempraruaBH – Movimentos sociais não são baderna, mas sim democracia

junho 14, 2013





Tenho acompanhado via redes sociais e noticiários as mais diversas manifestações nas principais cidades brasileiras a respeito da população se reunir em movimentos sociais (horizontais) – e com o apoio de diversos outros grupos políticos e apartidários, sobre a questão do aumento abusivo da tarifa do transporte público. O interessante é que isso ocorre na semana em que o Brasil se prepara para sediar os jogos da Copa das Confederações.

O tom das mais diversas coberturas me preocupa tanto quanto o fato dos nossos modelos de jornalismo (e de fazer política) se tornarem cada vez mais obsoletos. Estamos vivendo um processo de revolução que, talvez, ainda nem estejamos atento a tudo isso. A nossa sociedade está mudando. O mundo está mudando. Só que a “velha guarda” da imprensa e da política insiste em não aceitar este fato que é real e imutável. Nada mais será como antes.

São Paulo deu um start importante neste sentido. A população foi às ruas, colocou a boca no trombone e disse não aos governantes. O protesto ganhou uma dimensão muito maior e virou destaque na imprensa internacional. Infelizmente, o debate sobre a questão da qualidade do transporte público e da mobilidade urbana no Brasil – salvo a pouquíssimos exemplos, é tratado como moeda de troca entre os governantes no período eleitoral.

Dificilmente, vemos uma política séria de ações sobre mobilidade, tudo porque está cada vez mais raro um planejamento sério de ações/obras de mobilidade urbana conseguir ficar pronto em quatro anos. Só soluções paliativas são apresentadas. Enquanto isso, o dinheiro público é jogado pelo ralo – bem quando não é desviado, o que é lamentável. Os políticos fazem de tudo para não deixar uma agenda positiva para o próximo governante que assumirá a gestão da cidade no mandato seguinte e, enquanto isso, a população paga o pato.
Mas, felizmente a primavera brasileira chegou. A população gritou, queimou, sacudiu e balançou as ruas de São Paulo. Tudo isso para chamar a atenção e dizer: não nos sentimos representados. O governo e a mídia tradicional – para variar, chamou os manifestantes de baderneiros, num primeiro momento. Uma semana depois mudou o discurso. Mas sejamos justos: dificilmente a imprensa sensacionalista e que adora ver o circo pegar fogo iria dar destaque a uma manifestação que não ousasse parar cidade.

Em um editorial extremamente lúcido na manhã desta sexta-feira (14/06), o jornalista Ricardo Boeachat, da Rádio Band News FM, chamou a atenção dos ouvintes ao ler as manchetes do jornal Folha de S. Paulo da sexta-feira da semana passada e o de hoje. O que antes a publicação chamava de baderneiros, agora chama de manifestantes. O que mudou? Mudou quando os jornalistas da Folha foram agredidos pela polícia enquanto trabalhavam nas ruas, fazendo a cobertura da maior mobilização social política que o Brasil já teve nesta década.

Não, eu não estou sendo doido. Qual foi a última vez que nós vimos os jovens deste país peitarem o poder público? Depois de tantos anos, os jovens se uniram para discutir algo político, enfrentando a polícia nas ruas que – ao invés de se unir ao grito da sociedade, tenta proteger o autoritarismo de governantes que não querem o diálogo, e que governam de forma vertical. Deu no que deu. A imprensa toda – aquela mesma que achava tudo uma baderna, mudou de lado quando o monstro mordeu o seu próprio calcanhar. E a credibilidade da mídia tradicional de noticiar os fatos como eles realmente são foi para o ralo mais uma vez.

É por isso que a internet – e as redes sociais, estão ganhando cada vez mais força. A web é plural e abre espaço para o povo falar as coisas que os afligem, de forma horizontal e sem censura. Os acontecimentos são postados, discutidos, analisados e repercutidos no auge da crista da onda. O público não precisa esperar a hora do noticiário, muito menos o jornal de amanhã para saber o que está acontecendo e se posicionar. A informação já não é mais exclusiva. É compartilhada. E, por incrível que pareça, tem gente que ainda não se deu conta disso.

Numa semana em que estamos discutindo a crise de demissões do jornalismo e os novos modelos de comunicação, a mídia tradicional coloca mais uma pá de cal no seu discurso elitizado e mercadológico. O público quer ser ouvido e se sentir representado. Chega de discursos verticais, de falar que a população é omissa e alienada. As redes uniram o discurso e revelaram que o Brasil passa por uma revolução social e política que pode ser (ou não) o ponta pé inicial para outros inúmeros debates que merecem ser colocados na mesma roda. Ou seja, os movimentos sociais não são baderna, mas sim democracia. Demorou, mas a ficha caiu.




Fotos: Folha de S. Paulo / Reprodução.




Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, circule o blog no Google Plusassine a newsletter e participe da comunidade no Orkut.





Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

5 comentários

  1. Francisco Bertoletta14 de jun. de 2013, 12:06:00

    Excelente texto, Wander. A elite arrogante e populista quer levar o debate em torno das manifestações de SP para o lado do vandalismo e da desordem. Mas sejamos francos: existe revolução social sem conflito? Como você bem disse a mídia tradicional jogou uma pá de cal em si mesma nesta semana.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, vou compartilhar o seu texto com os meus colegas da faculdade. O debate da onda de protestos de São Paulo tem um contexto muito maior do que a gente imagina. A revolução já começou.

    ResponderExcluir
  3. Eu acho sensacional o povo dizer não para esses políticos. Tomara que todos as cidades brasileiras se unirem no mesmo grito....vai ser foda!

    ResponderExcluir
  4. Lendo esse seu texto fico pensando no seguinte: como a imprensa é tendenciosa. Ainda bem que existe a internet.

    ResponderExcluir
  5. O que boa parte da mídia não entende é que o movimento não é por R$ 0,20 centavos. Foi apenas uma gota d'água de algo que estava entalado na garganta de muita gente. Tomara que ganhe o país e não fique só em São Paulo.

    ResponderExcluir